Desde sempre interessada pela decoração de interiores, Rita de Miranda viajou aos EUA e aí encontrou uma nova paixão: o Home Staging. Devido ao desconhecimento deste conceito no mercado imobiliário nacional, a especialista trouxe-o consigo para Portugal. Atualmente, é presidente da Associação Portuguesa de Home Stagers, onde pretende “defender e regularizar o trabalho dos Home Stagers profissionais” portugueses.
Com uma carreira ilustre, Rita de Miranda é talvez o exemplo mais brilhante na área do Home Staging, “técnica de marketing interno” com a finalidade de “vender imóveis de uma forma mais rápida e melhor”. Atualmente, a profissional detém inúmeros cargos, desde Home Stager certificada até presidente da Associação Portuguesa de Home Stagers (APHS), sendo também a fundadora da sua empresa, Prateado, e do movimento Mulheres Guerreiras Portugal e cofundadora do grupo de formação Voar Mais Alto.
Rita e a APHS apresentaram a II Conferência Nacional de Home Stagers, que decorreu no 26 de janeiro de 2024, no Hotel Real Oeiras. Este evento repleto de formações e palestras sobre Home Staging para membros e não-membros da associação contará com a presença de Rita e de convidados especiais, como Sanja Radovanovic, Nuno Silva e Massimo Forte.
Nascida em Lisboa, em 1978, Rita sentiu “toda a vida” um interesse pela decoração de interiores, mudando até “os móveis de sítio em casa dos [seus] pais”; porém, via isto como um mero “hobby”. Portanto, quando entrou no ensino superior, em 1996, optou por tirar a Licenciatura em História Moderna e Contemporânea, no ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa), por “adorar cultura geral”. Após terminar o curso, em 2000, realizou projetos nesta área, “participando em vários livros e investigações”. Contudo, Rita admite que “sentia que faltava algo ao [seu] coração” e, por isso, continuava a reorganizar móveis, “agora já na [sua] própria casa”.
Sendo que “a decoração não [lhe] saía da cabeça”, a presidente da APHS decidiu, em 2007, ingressar no curso de Decoração de Interiores do Instituto de Ensino Profissional Intensivo (INEP), em horário pós-laboral, para, de certa forma, “provar a [si] mesma que não tinha jeito e que [a decoração de interiores] era só um hobby”. Contudo, o resultado foi o contrário: “Quanto mais estudava, mais me apaixonava por aquilo que sentia no meu coração, quando via algo harmonioso e bonito a nascer dos meus projetos”.
Deste modo, terminou o curso com uma classificação de 18 valores, uma “surpresa total” para Rita. E foi isto que a levou a criar, com “o apoio da APME” (Associação Portuguesa de Mulheres Empresárias), a sua própria empresa “dedicada à decoração de interiores”, Prateado, em 2009. Já, em 2011, para “desenvolver os seus contactos empresariais”, tornou-se membro de uma rede de Networking, BNI, onde acabou por subir para o cargo de Diretora Regional de Lisboa, que deteve até 2017.
Entretanto, Rita fez inúmeras viagens de especialização aos Estados Unidos e foi numa específica que conheceu e se apaixonou pelo conceito de Home Staging, criado em 1972 por Barb Schwarz, que “nunca tinha ouvido falar”. Graças à descoberta dessa nova paixão, em 2011, a presidente tornou-se na “primeira portuguesa” a receber “a especialização de Home Staging pela HSR” (Home Staging Resource), e a “fazer parte da American Society of Home Stagers and Redesigners”, indica.
Ao ver que o mercado imobiliário português “não estava minimamente preparado para este novo conceito”, Rita decidiu “desenvolver uma formação específica” em Home Staging para “ensinar os consultores imobiliários a venderem os seus imóveis através desta técnica”, tendo “trabalhado diretamente com as principais marcas imobiliárias em Portugal” e, assim, introduzindo o conceito aos portugueses. Anos depois, em 2021, Rita fundou a APHS, com a missão de “defender e divulgar os serviços dos Home Stagers portugueses, como forma de ajudar a mudar o mercado imobiliário em Portugal”, impulsionando a sua profissão e a sua valorização.
Segundo Rita, a organização é “aceite e apoiada pela criadora do Home Staging a nível internacional”, Barb Schwarz, e aprovada pela European Association Home Staging Professionals (EAHSP) e pela International Association of Home Staging Professionals (IAHSP). Para além disso, a especialista portuguesa conseguiu a certificação por parte destas duas associações do seu curso de Home Stager Profissional, “reconhecido como o único curso em todo o mundo em português com as três certificações”.
Como a atual presidente da APHS, a Home Stager admite que tanto o seu percurso académico como profissional continuam a ter “influência direta” no seu cargo. A formação académica, diz, dotou-a de “conhecimento, mas sobretudo método, estrutura e capacidade de [se] superar em todos os desafios que [lhe] são colocados”. Já a sua experiência como diretora no BNI e responsável pela Prateado ao mesmo tempo, em que tinha a “responsabilidade de mais de 250 empresários em simultâneo”, conferiu-lhe “ferramentas para hoje conseguir empreender na APHS e conseguir ajudar outros Home Stagers a desenvolver o seu negócio”. “Acredito que somos resultado também das nossas experiências e do conheci- mento que delas acumulamos, por isso sei que tudo na minha vida é resultado de esforço, empenho e dedicação”, reitera.
Fruto deste “esforço, empenho e dedicação”, o reconhecimento nacional e internacional de Rita é inspirador, tendo sido já a protagonista de “muitas reportagens e entrevistas” que demonstram o seu “trabalho de divulgação desta nova atividade em Portugal”, o Home Staging, e também “convidada para lecionar a cadeira de Home Staging em diversas pós-graduações de consultoria imobiliária”, no ISCAC (Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra) e no IPAM (Instituto Português de Administração de Marketing). “Entre palestras, workshops, formações e certificações, já tive mais de 10 mil alunos, tornando-me na formadora com mais experiência no mercado nacional português”, revela a profissional. Para além disso, a nível internacional, Rita é, atualmente, a representante oficial portuguesa da DOOS BOX, “uma empresa espanhola de móveis de cartão para facilitar o Home Staging”, refere.
Apesar de serem “atividades completamente opostas”, a decoração de interiores e o Home Staging continuam a ser as duas paixões de Rita. Quanto à primeira área, a especialista diz apreciar “todo o processo de acompanhamento de criação de espaços, das vivências e das experiências que sabemos que possibilitamos através da nossa criatividade e experiência”, querendo sempre “ajudar os [seus] clientes e viver os seus espaços em família e harmonia”. Já o seu amor pelo Home Staging deve-se ao facto de ser “um processo muito rápido, em que, [em] 2/3 dias, transforma- mos por completo a forma como o imóvel é percecionado por quem o visita”. Igualmente, como Home Stager, Rita aprecia “a forma como [sente] a alegria dos consultores imobiliários”, ao saberem que “irão conseguir vender o imóvel mais rápido e melhor”, e “o olhar de surpresa que os proprietários têm, no momento que veem a sua casa, transformada para melhor”. Todavia, em ambas as áreas, a motivação é a mesma: “ver a felicidade nos rostos dos nossos clientes, sejam eles proprietários ou consultores imobiliários, a felicidade [de] quem tem orgulho no seu imóvel”, realça a profissional.
Para além de ser presidente da APHS, Rita continua a trabalhar na sua empresa, Prateado, onde junta as suas duas paixões. Contudo, este não foi sempre o caso. Inicialmente, esta empresa oferecia apenas serviços de decoração de interiores, realizando-se projetos em que se “aliavam as necessidades dos [seus] clientes ao [seu] gosto e criatividade”, afirma Rita. Contudo, a empresa passou também a disponibilizar serviços de Home Staging, a partir de 2012, após a sua fundadora se ter “apaixonado completamente pela atividade”, e, mais tarde, serviços de acompanhamento de obra.
Tanto na Prateado como na APHS, o ponto de enfoque comum é o Home Staging, que Rita define como “uma técnica de marketing interno do imóvel que [o] torna mais apelativo aos olhos de quem compra” e que “ajuda a vendê-lo mais rápido e por um melhor valor”.
Apesar de a intervenção de Home Staging trazer “sempre uma valorização relativamente ao valor do imóvel, seja pela defesa do valor do imóvel, seja pelo incremento do valor do mesmo”, Rita afirma que há muitos fatores que podem “influenciar esses valores”, destacando que “o mercado imobiliário não é estanque nos preços de compra e venda”. Assim, para que o Home Staging seja bem-sucedido, é preciso “garantir que o imóvel irá ser colocado pelo preço correto no mercado”, algo que a própria estratégia defende. De acordo com a especialista, a valorização usual ronda entre os 7% e os 10%, porque “ao eliminar os pontos negativos do imóvel, reduz-se a probabilidade do processo de negociação”. Todavia, na Prateado, Rita admite que tem havido “casos de sucesso em que fazem uma valorização de 20% ou superior” e até já houve situações em que esta atingiu os 60%, havendo uma “intervenção mais profunda”. “Por isso, é necessário sempre avaliar caso a caso, pois o nosso lema na Prateado [é] ‘Cada casa é um caso!’”
Em Portugal, o Home Staging está em “fase de crescimento”, diz Rita; porém “ainda estamos longe de todos os consultores imobiliários entenderem o verdadeiro valor do Home Staging”, isto é, a venda “não só mais rápida como melhor” dos seus imóveis, realçando a presidente da APHS que esta pode ser feita “três vezes mais rápido [relativamente] aos imóveis sem” a estratégia.
Mas porque Portugal ainda não vê as potencialidades do Home Staging? Para Rita, isto explica-se pelo facto de o mercado nacional ainda considerar que “não é necessário investir para fazer um bom negócio e que os imóveis se vendem sem esforço”. O contrário acontece nos EUA, onde nasceu o conceito de Home Staging há 52 anos. Com um “mercado amadurecido”, este país entende verdadeiramente a “mais-valia dos benefícios do Home Staging sem restrições ou dúvidas”, exemplificando Rita que lá “mais de 50% dos proprietários já contratam os serviços de Home Staging mesmo antes de chamar o consultor imobiliário” ou, então, “é o próprio consultor a solicitar [estes] serviços”.
Desde que realizou a sua primeira formação, “há mais de 11 anos”, que Rita sentia que seria um “longo caminho” até “abrir as mentalidades” dos portugueses e fazê-los entender “o verdadeiro valor do Home Staging”. Todavia, tem havido mudanças, especialmente nos últimos três anos, que Rita considera terem sido “cruciais para a abertura do mercado”. Na opinião da especialista, a pandemia e os confinamentos foram as principais razões para isto, pois “[obrigaram] as pessoas a olhar para as imagens dos seus imóveis de uma forma completamente diferente”, tendo começado a “sentir a necessidade de uma apresentação cuidada do imóvel no momento das visitas”.
Graças às formações de Rita e ao passa-palavra, o conceito de Home Staging “tem entrado no dia-a-dia” do mercado imobiliário nacional, afirma, e isto tem resultado na multiplicação de clientes – maioritariamente, consultores imobiliários – que querem “trabalham diretamente” com a sua empresa de uma forma “regular, quase semanal”, ao entenderem a “mais-valia de utilizar o [seu] serviço” e a “rapidez” e “qualidade do [seu] trabalho”.
Desta forma, a presidente defende que o Home Staging “já é obrigatório para as imobiliárias que queiram fazer um serviço de excelência” e, por causa do “grau de exigência cada vez maior dos seus clientes”, poderá tornar-se num “serviço ‘quase’ obrigatório a incluir na oferta da angariação de qualquer imóvel”, sempre realizado por um profissional qualificado para “garantir o sucesso do negócio”.
Apesar de estar a crescer em Portugal, a profissão de Home Stager ainda não é completamente valorizada, segundo Rita, pois “ainda falta muita consciência do mercado imobiliário de que só um Home Stager profissional realmente sabe como preparar verdadeiramente um imóvel para ser colocado à venda”. Na sua experiência, a presidente refere que no ano em que começou a trabalhar como Home Stager, 2012, “ninguém queria saber do Home Staging” e as pessoas “achavam que era algo que só interessava para os andares modelo e que era algo que poderia ser feito, por um decorador de interiores ou arquiteto de interiores”. Isto impulsionou-a a “dar formação aos consultores imobiliários” para mostrar-lhes que “só o Home Staging feito por um Home Stager tem um método” e é este “que faz [com que o] Home Staging seja a melhor ferramenta para o marketing interno do imóvel e que garanta resultados”, afirma.
Contudo, Rita admite que “ainda existe a ideia de que qualquer pessoa com “jeitinho” consegue fazer” o Home Staging. Para a presidente, isto é um “erro tremendo”, visto que esta estratégia engloba várias tarefas: “é necessário ajustar o investimento em Home Staging ao imóvel, saber quais são as alterações a fazer, respeitar a vivência dos proprietários, respeitar a imagem do imóvel e as suas características e saber o que realmente irá trazer a melhor imagem para aquele espaço em específico”, enumera. E apenas “alguém certificado” consegue cumprir estes objetivos, “pois é preparado durante o [seu] curso para o efeito”, realça a Home Stager.
Em Portugal, têm surgido, “muitas formações, workshops e até cursos, sem qualquer certificação nacional ou estrangeira da área” do Home Staging, que ensinam “coisas sobre o [conceito] sem qualquer sentido”. Por exemplo, a especialista indica que há cada vez mais profissionais, como “arquitetos, decoradores e designers” e até consultores imobiliários, “que se apresentam como Home Stagers sem ter qualquer qualificação para o efeito”. Desta forma, é imperativo o mercado “ganhar consciência de que o profissional a contratar na preparação do Home Staging é um Home Stager certificado e não outro”. E é aqui que entra a APHS, com a finalidade de “separar o trigo do joio”, referindo a sua presidente que “todos os [seus] membros” são certificados pela organização em si ou, se não, têm de “apresentar uma certificação internacional que seja reconhecida” por esta npara que sejam aceites para a sua “bolsa de Home Stagers”.
São vários os desafios por que Rita já passou na sua carreira excecional, sendo um dos “melhores que já teve” a liderança da APHS. Contudo, o “maior desafio” para a Home Stager foi “lidar com o mercado [imobiliário] nacional, em 2012”, que considerava “muito atrasado e com muitos vícios que não estava de todo preparado para evoluir”. “Eram muitos poucos os investidores com mentalidade de empresário e viam os seus imóveis apenas para o mercado de arrendamento, o que fechava as portas ao Home Staging”, revela.
No entanto, sendo que o mercado português “evoluiu bastante” nos últimos anos, segundo Rita, há cada vez mais consultores imobiliários que “têm um cuidado diferente não só no tratamento com clientes como também na apresentação dos seus imóveis”. Contudo, vão surgindo também outros obstáculos, como o aparecimento de profissionais “de outras áreas que não têm qualquer qualificação para serem home stagers”, sendo “lidar” com estes o “maior desafio” atual para a presidente.
Por ser um ramo que foi “durante décadas dominado por homens”, existia no setor imobiliário a “ideia de que as mulheres não saberiam lidar com negócios de produtos de alto valor”, afirma Rita. No entanto, na sua experiência, refere que, hoje em dia, consultores imobiliários tanto do sexo masculino como do feminino “recorrem aos [seus] serviços sem diferença”, mas, relativamente a investidores, já há uma maioria de “homens a fazer esse investimento”. Assim, a presidente da APHS defen
de que o mundo está a “caminhar muito rapidamente para uma sociedade igualitária”, mas não “uma sociedade equitária como preferia”, que “reconhece as diferenças” entre os géneros, mas que “luta para ajustar o desequilíbrio da diferença” entre estes.
Um exemplo no setor imobiliário, Rita demonstra que “é possível ser mulher” e uma “mãe presente” e, simultaneamente, “ter sucesso profissional”, para o qual acredita ser preciso “muito trabalho, dedicação e perseverança” e “nunca desistir”, características que diz estarem presentes em homens e mulheres. Contudo, isto não deixa de ser um “desafio” para si. “Ter mais tempo de qualidade com os [seus] filhos e alcançar novos desafios” foram algumas das razões por que a Home Stager criou a sua empresa, mas, acima de tudo, pretendia demonstrar-lhes que, “na vida, tudo depende de nós e temos o poder de decidir o nosso caminho, independentemente do que outros possam dizer”. “É possível ter tempo de qualidade para tudo, desde que as prioridades es- tejam bem definidas. Esse, sim, é o verdadeiro segredo”, reitera.
Atualmente, no topo da APHS e doutras organizações, Rita é defensora da ideia de que “qualquer líder que dê verdadeiramente o seu melhor já é perfeito”. Sendo o “conceito de perfeição” uma “ilusão”, pelo facto de, como seres humanos, “somos imperfeitos por natureza”, a presidente advoga que “qualquer um de nós consegue ser um líder se as- sim o desejar ser”, não se devendo liderar por “ego”, mas “apenas pela vontade de ajudar e ser ajudado”. Assim, para Rita de Miranda, uma “líder perfeita” é capaz de “influenciar, incentivar e motivar os outros pelo bem de todos” e de “trabalhar para o bem comum”, mantendo sempre a “premissa” de que vai “aprender durante todo o caminho”.