Como posso liderar os outros se não me lidero a mim?

Ana Paula Ribeiro Founder @WeCareOn e Co-Founder @AtelierFamiliaConscient

Por Ana Paula Ribeiro Founder @WeCareOn e Co-Founder @AtelierFamiliaConsciente

Tenho falado com muitas mulheres líderes e quase todas se queixam do mesmo, da falta de tempo para a quantidade de coisas que têm nas suas agendas e acima de tudo da falta de tempo para si próprias.

Estas mulheres quem são? Umas são (tal como eu), empreendedoras, outras lideram nas empresas que não são suas (e que parece que são), outras são mães, outras mulheres casadas ou em relação, outras sem relação, outras que por qualquer motivo não trabalham e vivem cheias de medo de não estar a trabalhar e há algumas que têm uma mistura de várias destas mulheres numa só. Aliás, a maioria tem mais que um papel/função na vida.

E hoje escolho não falar de técnicas de liderança ou de como se pode criar tempo para as mulheres, pois já há muitos artigos que falam sobre estes temas e mesmo assim parece que tanta literatura ainda não entrou na vida prática de muitas destas mulheres. E porquê?

Hoje em vez de falar de liderar os outros, escolho falar de liderar a mim mesma.

Estamos hoje numa cultura em que a mulher deixou de se ligar à sua natureza nutridora, mais sensível. As mulheres, até em termos físicos foram preparadas para receber e gerar vida e hoje tantas de nós se desconectaram dos seus ciclos, e dos ciclos da natureza (Inverno, Primavera, Verão e Outono). Quantas mulheres se desconectaram do cuidar-se e do cuidar da tribo e estão mais ligadas à energia fazedora dos homens, à energia yang? Com esta cultura de patriarcado, tudo pode mesmo acontecer.

Eu tenho trabalhado com muitas mulheres que apesar de para fora parecerem estar empoderadas, pois têm um bom trabalho, casa, carro, lideram equipas, são mães, e mais X coisas que se pode acrescentar do ponto de vista do TER, na realidade quando me pedem ajuda, o que falta é o SER. Quem sou eu? O que perdi de mim, para estar a FAZER tudo isto?

Muitas delas vêm sem brilho no olhar, sem saber como expressar o que sentem, com bloqueios no sentir, com burnout, com cancros, depressões, com problemas relacionados à maternidade, doenças femininas, entre outras.

Na realidade não estão empoderadas, têm só uma máscara que desde cedo foram ‘’obrigadas’’ a colocar, quando desde pequenas lhes foi dito:

– Tens que trabalhar para ter sucesso;

– Tens que ser melhor que os homens;

– Tens que ser capaz de fazer tudo;

– As mulheres agora não podem ficar em casa a cuidar dos filhos;

– As mulheres são iguais aos homens;

– Sentir não é ok, se queres viver nesta sociedade;

– Não chores, pessoas sensíveis não são capazes de ter sucesso;

– Medo é para os fracos, etc, etc

E com tudo isto, vêm-me muitas perguntas e uma delas é…

Como é que eu posso estar a liderar tantas coisas na vida e não estou a liderar-me a mim?

E é certo que cada uma terá as suas respostas, ou talvez nem esteja consciente do real motivo para que isto esteja a acontecer.

Vou deixar aqui algumas hipóteses e acredito que haverão outras tantas, esta é só uma lista de algumas das histórias que ouço e acompanho.

1 – Quero ser vista

2 – Quero que me reconheçam pelo que faço

3 – Tenho medo de não sobreviver nesta sociedade

4 – Tenho medo de SER quem eu realmente sou

5 – Quero fazer parte ( empresa, amigos, família, relacionamentos, país, cultura, …)

6 – Tenho medo de deixar algo ir, de me desapegar do que já conheço

7 – Tenho medo de não conseguir pagar as contas

8 – Tenho uma baixa autoestima e ninguém ou poucos sabem

9 – Não confio verdadeiramente nas minhas capacidades, em mim

10 – Coloco tantas coisas na agenda só para não sentir o vazio que sinto se parar um pouco

11 – Não sou capaz de dizer não, Não sei colocar limites

12 – Os outros são mais importantes do que eu

13 – Não sei gerir as minhas emoções

14 – Sinto que tenho um dever maior que eu para fazer tudo o que faço

15 – Sinto-me responsável pelos outros e esqueço-me de mim

16 – Quero salvar o mundo

17 – O meu ego é tão grande que nem o vejo, quanto mais tenho menos capacidade existe em mim de me enxergar nesse ego

18 – Não gosto de mim

19 – Quero provar a alguém que sou capaz

20 – Sou viciada no trabalho pois não quero ver o que preciso de ver na minha outra vida que não a profissional

Etc, etc…

 

Uma líder consciente, na minha opinião, pode escolher diferente. Em vez do foco ser na liderança dos outros, ou da casa, ou da família, ou dos filhos ou do/da companheiro/a, é primordial liderar-se a si.

Se eu me lidero, ou na realidade, se eu me amo, tudo o que faço a seguir, na liderança para fora e para os outros, vai sair com amor também. E assim, não mais vou dizer que não tenho tempo para nada, que não me cuido e que vivo infeliz.

E como posso fazer isso?

Em jeito de brincadeira, resolvi pegar na palavra liderar para ver que palavras podem sair, que nos possam dar inspiração:

Leveza

Intuição

Diversão

Empoderamento

Rainha

Amor Próprio

Reconexão

Como podemos liderar-nos a nós próprias?

Sim, com leveza, a vida não tem que ser esse lugar de tanta coisa, responsabilidades acrescidas e sim um espaço onde me posso permitir estar só com o que é meu, sem carregar fardos dos outros. E é fundamental usar a clareza para comunicar aos outros que há coisas e desafios que cada um pode resolver por si. Cada coisa para quem é o responsável por essa coisa. E acredito que muitas vezes acreditamos mesmo que tudo é para ser resolvido por nós, ou porque não confiamos nos outros, ou porque achamos que somos melhores a fazer algo, ou porque temos alguma crença bem inconsciente de que aquela tarefa é só mesmo para mim. E crenças inconscientes nas mães, por exemplo, há milhares!

Usar mais a intuição típica das mulheres. Ao usarmos a intuição, estamos a ligarmos a algo em nós que é não é aquela inteligência que se potencia desde que nascemos, que é a mental. A intuição é uma sabedoria que é inata, que vem connosco e que se pode fazer crescer ou desenvolver também, mesmo quando nos desligamos dela.

Para isso é importante ter momentos de pausa, de ligação ao nosso corpo energético e não estar constantemente em piloto automático, ou em modo de sobrevivência.

Se passarmos um dia na natureza, a observar e a respirar com os ritmos naturais da natureza, tanta sabedoria notamos em nós e os nossos sentidos são ativados…e as nossas emoções também. Se passamos os dias a correr, sem estar atentas ao que está a passar-se à nossa volta, com o nosso corpo e as nossas emoções, é natural que seja o medo associado ao modo sobrevivência que vai estar ativo, e não o medo que te permite criar a vida que queres.

Diversão. A vida não é um mundo de fantasia onde estamos a rir a toda a hora, pois há tristeza, raiva e medo a acontecer em cada momento. O convite à diversão ou à alegria, é mesmo que em cada momento eu escolha estar em alegria quer seja quando estou comigo ou quando estou a liderar pessoas ou a fazer aquilo que realmente gosto. Sempre que notar que estou em algo ou com alguém onde não sinto alegria genuína e é só uma farsa, e que isso é constante, então a proposta é olhar mesmo para este tema, pois há uma mensagem a ser retirada daí e acredito que há muitas possibilidades para se voltar a encontrar a alegria em qualquer coisa que faça, quer seja na vida profissional ou pessoal ou relacional.

Fala-se muito de Empoderamento Feminino. E tenho visto várias versões do que isto pode significar. Acredito que há bases simples para que uma mulher se sinta empoderada e cada uma pode precisar de ferramentas específicas para se sentir como quer, com todo o seu SER em plenitude e na sua essência. Em círculos de mulheres ou sessão individuais falamos sobre isso.

Nas sessões que eu facilito neste tema, tenho visto que falta muito o uso da raiva consciente para se dizer o que se quer e dizer Não, impor limites, sem precisar de dar justificações.

Temos ainda muitas mulheres com a crença que sentir raiva não é ok, pois fomos ensinadas que raiva é mau, pode ser violento, é incivilizada, barulhenta, destrutiva, imprevisível, é má educação, pode magoar alguém, fora de controle, perigosa, é para insultar os outros, imatura, não é para ser levada a sério, caótica, constrangedora, faz os outros ficarem zangados, convida à vingança, cria barafunda e inicia guerras. Esta eu chamo de raiva inconsciente.

E quando lhes dou novas perspetivas sobre a emoção da raiva, que é simplesmente uma energia e informação neutra e que serve para fazer algo no momento, tantas histórias de empoderamento começam aqui.

E para ti mulher líder, deixo já algumas informações que talvez sejam novas e que te podem ajudar.

A raiva, se a estiveres a ver num novo mapa de pensamento e como uma emoção neutra, em que raiva é raiva, sem nenhuma crença associada, pode ajudar-te em tudo isto:

Com raiva consciente tu podes:

dizer não, dizer sim, começar coisas, parar coisas, mudar coisas, limpar e livrar-se de coisas, criar clareza, reconhecer injustiças, delimitar fronteiras, manter a integridade, mostrar intenção, tomar decisões, manter promessas, segurar espaços de transformação e de clareza, prestar atenção, auto-observação, pedir o que queres, tomar uma atitude em relação a algo ou a alguém, proteger, agir, entre outras mais.

Já viste o poder que a raiva te dá? Esta sim, e não a raiva inconsciente que talvez ainda tenhas ideia como a que apresentei acima. O convite é que comeces a usar esta e se não souberes como fazer, estou por cá, para te mostrar como.

Sê a Rainha da tua vida. Cria os espaços onde possas ter à tua disposição todas as tuas competências, os teus valores e a tua essência e nunca deixes que isso te seja tirado. Pode haver momentos em que tenhas que estar sozinha nessa caminhada e sabes uma coisa? Há sempre mais mulheres no mundo, que têm os mesmos valores que tu e que te podem suportar nessa criação e empoderamento da rainha que és.

Só tu podes colocar e retirar a tua coroa…e por isso escolhe quando a queres ter e para quê a queres ter.

 Sem Amor Próprio não consegues amar. Para liderares em qualquer atividade ou função, é mesmo importante que te ames primeiro a ti. E isso faz-se de muitas formas, estando presente em cada momento às tuas necessidades, aos teus valores, ao tempo que precisas para estar só e acompanhada, ao prazer que tens de viver, ao prazer de fazer coisas que realmente te apaixonam, ao prazer de não fazer nada, ao prazer de rir, de cantar, de dançar, de fazer uma viagem sozinha ou acompanhada, de beber um copo de vinho ou um chocolate quente, de andar nua em casa ou na praia, de caminhar sem saber para onde, de brincar com os filhos ou sozinha, de fazer amor com o teu/tua companheiro/a ou de fazeres amor com aquele/a desconhecido/a ou contigo mesma. E tantas e tantas outras formas de te amares que só tu sabes e que podes estar a esquecer de juntar no teu dia-a-dia. Se não te amares, não vais estar capaz de amar o que fazes, em plenitude e em liderar com amor o que fazes…Não vai dar mesmo…E tu e os outros vão notar isso.

E por fim e para acabar com as palavras que me surgiram da palavra LIDERAR, vem a Reconexão.

Esta reconexão vem em último e talvez seja das mais importantes e urgentes.

Se te reconectares a ti, a quem tu realmente vieste para SER nesta vida, ou para quem acredita em almas, se te reconectares à tua alma, tantas mensagens fantásticas vais receber para que a tua liderança seja ao serviço de um bem maior, do teu propósito aqui na terra e também de qual o propósito onde só tu tens a capacidade de transformar o mundo e quem te rodeia, essa centelha divina que te faz brilhar o olhar quando te levantas de manhã e sabes que estás onde devias estar, a fazer o que devias estar a fazer, com quem devias estar.

Acredito mulher, que tu, tendo escolhido nascer como mulher, tens uma sabedoria ancestral fantástica para liderar, em tribo, nutrindo, ouvindo, e ao serviço de um bem maior, para que novas culturas possam emergir, onde cada ser possa efetivamente estar, fazer e ser, sem julgamentos e sem expectativas, e cada um possa estar em bem-estar, pois ao cuidar de mim, estou mais capaz de cuidar e servir os outros.