A capacidade para mudar de país e de área profissional

Beatriz Correia deixou o Turismo para se juntar à equipa da Consumer Choice como Sales Country Manager na Espanha. A gestora fala-nos das diferenças entre o mercado português e o espanhol e conta- nos os grandes desafios de mudar de área profissional.

A paixão por viagens, em aprender com outras culturas e em lidar com pessoas levou Beatriz a seguir academicamente a área do Turismo. Licenciou-se em Tourism Business Management e, durante muitos anos, trabalhou em agências de viagem.

“Atraiu-me muito o lado cor-de-rosa do Turismo, o viajar sem sair do lugar”

O seu percurso profissional começou como Trainee na Associação Portuguesa de Turismo de Culinária e Económica, mas, ao fim de quatro meses, migrou para a GeoStar e exerceu o cargo de travel consultant. Em 2018, segue-se a Agência Abreu, onde Beatriz exerce exatamente o mesmo cargo. A gestora afirma que todo este caminho foi resultado da sua curiosidade e do seu esforço pessoal, para além de lhe permitir desafiar-se a si própria e explorar o que está fora da sua zona de conforto.

No entanto, o seu grande desafio surge no momento em que decide ir viver para Barcelona. Foi lá que exerceu o cargo de business development executive sales da TripAdvisor, sendo, mais tarde, promovida a senior executive sales. Beatriz Correia confessa que mudar-se para outro país foi a melhor decisão que tomou, nunca tendo vivido nenhum choque cultural, mas sentiu e sente um “ambiente internacional, quase como se fosse Londres do Sul da Europa”, acrescenta.

Tendo em conta o cargo que exercia, Beatriz considerou necessário complementar a sua formação em Turismo com um programa executivo em B2B Sales Performance, uma vez que as duas áreas se focam numa vertente mais “relacional entre a empresa e os seus parceiros/clientes”.

No início deste ano, Beatriz aceitou ser sales country manager da Consumer Choice – uma empresa que cria sistemas de avaliação e classificação de marcas, em que o primeiro e o principal sistema se designa por “Escolha do Consumidor.” A gestora afirma que a equipa que lidera é constituída por “génios do Marketing”. Beatriz Correia viu ali um grande desafio, saindo, pela primeira vez, do ramo do turismo. Esta mudança alterou muita coisa no contexto profissional da gestora, que sentiu diferenças e as mesmas fizeram-na “recuar, estudar e interligar todo o conhecimento que adquiri até hoje”. O conhecimento adquirido, tanto pelas formações como pela experiência profissional, contribuiu para que Beatriz ganhasse uma visão “mais holística” das relações entre os parceiros e a própria empresa. A gestora enumera algumas “soft skills” que aprendeu e que sempre considerou serem essenciais e relevantes no exercício profissional: “a resiliência, o trabalhar em equipa, a criatividade necessária para a resolução de problemas ou mesmo para a criação de estratégias.”

Beatriz é responsável pela expansão internacional da empresa em Espanha, por criar alicerces nos processos e estratégias comerciais, fazendo crescer o negócio e repetir o sucesso que teve em Portugal. O principal objetivo passa por “tornar a Consumer Choice líder de mercado em Espanha e quiçá, no resto da Europa”, explica Beatriz. A empresa já se encontra na Polónia e na Roménia, para além de Portugal e Espanha. A Consumer Choice está constantemente a inovar e a criar meios para que o consumidor possa avaliar as marcas que mais gosta e que consuma por escolha própria.

Atuar no mercado espanhol altera toda a forma como o trabalho acontece. Beatriz Correia revela que o mesmo é “muito especial e tem várias particularidades que o distinguem do mercado português”, sendo elas o poder de compra, a comunicação mais informal e de forma mais direta para com outras empresas e o facto de ser um mercado partido regionalmente. Contudo, a gestora considera que a base da cultura espanhola é muito semelhante à portuguesa – “falamos a mesma língua emocional”, acrescenta. Esta similaridade acaba por ajudar na questão de adaptação e a compensar as diferenças existentes.

Estando Beatriz a assumir um cargo de liderança, a mesma partilha algumas das características que considera essencial um líder ter: “humildade, ambição, responsabilidade e resiliência”. Para além disso, deverá inspirar-se noutros líderes para liderar e inspirar a sua equipa a ser melhor. No entanto, olhando para a realidade atual, conseguir alcançar um cargo de líder nem sempre é fácil para uma mulher. Beatriz confessa que já sentiu alguma dificuldade “em fazer-me ouvir e em conseguir alcançar um cargo de líder enquanto mulher e jovem, numa área ainda hoje muito associada ao género masculino, ao típico homem de negócios”. Apesar de tudo, embora nunca fossem negadas oportunidades à gestora, destaca contudo que, em alguns setores, ainda existe essa desigualdade e discriminação de género.

Mais uma vez, apesar de não ser o caso de Beatriz, a mesma já conheceu mulheres emb funções de liderança, principalmente nas multinacionais, que têm de adotar uma postura firme e uma linguagem mais assertiva, ao contrário dos seus colegas homens. Mesmo assim, Beatriz reconhece que estamos no bom caminho e, “cada vez mais, temos mulheres incríveis a liderar organizações e a alterar a cultura organizacional das mesmas”, acrescenta.

“Fazemos a diferença todos os dias ao demonstrar que somos iguais e tão capazes como qualquer género”

Infelizmente nem sempre chega uma mulher demonstrar o seu trabalho diário, podendo ser reconhecida unicamente pelo seu mérito. Por esta razão, Beatriz Correia considera que é ótimo uma mulher ser notícia por alcançar uma posição de destaque, uma vez que se comprova que já acontece.Para além disso, inspira outras mulheres e gerações futuras que é normal uma mulher alcançar um cargo de chefia ou de liderança por mérito próprio. A gestora fala que é imperativo “normalizar a liderança feminina”, para que um dia se possa acabar com as quotas obrigatórias em várias organizações e instituições, por exemplo. Torna-se também essencial “conversar, informar e educar todas as gerações do que é igualdade de género e como a podemos alcançar”, acrescenta Beatriz. Estas são alguma medidas que a sales country manager considera que devem ser seguidas, para que um dia seja considerado normal haver uma mulher como chefe ou líder.

Para Beatriz, as mulheres que anseiam chegar a uma posição de chefia ou de liderança na área de gestão de vendas devem ser persistentes, confiantes em si próprias e aprender com todos os que as rodeiam. É também essencial acreditar que é possível, não esquecendo que só a lutar e a trabalhar se consegue alcançar os sonhos e as ambições.