Professora há quase 3 décadas, vê na educação a solução para um mundo mais justo e feliz. É diretora da Escola de comércio há quase 15 anos, uma escola que aposta na inovação, interdisciplinaridade e a aprendizagem orientada para a solução de problemas.
Desde os seus 19 anos que Ana Mestre se interessou por entender a realidade humana e social. Licenciou-se em sociologia, para explorar os fenómenos e as relações sociais e os comportamentos que os indivíduos estabelecem entre si. Em 1997, começou a lecionar sociologia na Escola de Comércio do Porto (ECP). Aí encontrou a paixão pelo marketing, relacionada com a sua área predileta: os estudos do comportamento do consumidor.
Vinte e quatro anos depois, mantem-se ligada à ECP, sendo a diretora da escola há 14 anos. É professora há quase 3 décadas e é nesta profissão que se sente realizada. “A Educação é um dos pilares de qualquer sociedade”, afirma. “Aprender é a capacidade que mais nos distingue enquanto seres humanos”. Ana acredita numa sociedade mais inclusiva e pacífica, numa abordagem mais altruísta e humanística que torne o nosso mundo melhor e mais feliz. “Creio sinceramente que a função de professora me dá a oportunidade de aprender e trabalhar ainda mais em prol dos outros”, justifica. Um educador pode despertar a necessidade, provocar o deseja ou levar à mobilização, tendo a capacidade de operar a mudança e a renovação na vida de uma pessoa.
É impossível ignorar que durante muito tempo, os cursos profissionais sofreram uma grande estigmatização e foram vistos como algo secundário no sistema de ensino. “Nós não o entendemos assim, e lutamos todos estes anos, para mudar esse estigma”, diz. Os estudantes dos cursos profissionais terminam o 12o ano, com dupla certificação – académica e profissional – que, segundo a diretora, lhes permite enfrentar o mercado de trabalho com melhores ferramentas que os alunos do regime científico humanístico. Mui- tos optam por ingressar no ensino superior e são, em vários casos, a primeira pessoa com curso superior na família.
Existem inúmeras escolas profissionais espalhadas pelo país, por isso tentamos perceber o que distingue a ECP. A resposta foi a busca pela inovação, a promoção de metodologias ativas e a valorização do trabalho colaborativo através da aprendizagem orientada para a resolução de problema. A escola desenvolve projetos interdisciplinares abrangentes que incentivam a “aprender a aprender” e “aprender fazendo”.
A ECP incentiva também os alunos a participarem em concursos, tendo obtido diversos prémios em concursos de empreendedorismo social e criativo, sustentabilidade ambiental e práticas de inserção profissional. “Esta participação desafia os alunos, a serem curiosos, audazes e capazes de saírem da sua zona de conforto, expondo-se publicamente à crítica, no sentido de fazerem melhor”, descreve Ana.
A escola promove ainda intercâmbios nacionais e internacionais no âmbito do Erasmus+. Esta experiência permite uma convivência no mundo global atual, preparando os alunos para a diversidade social e cultural presentes nos diferentes mercados de trabalho. As competências adquiridas nestes intercâmbios apresentam-se como vantagens no mercado atual, sendo fatores diferenciadores.
Para além disso, os estágios de curta duração permitem desenvolver competências fulcrais para a sua futura profissão – “competências linguísticas, de adaptação cultural experiência internacional; e conhecimentos técnicos essenciais para fazer face a um mer- cado de trabalho cada vez mais global e competitivo”, enumera Ana Mestre.
Nos mais de 30 anos de vida da ECP, o comércio foi mudando e adaptando-se às novas realidades. Na era da digitalização, o e-commerce deixou de ser apenas uma alternativa de conveniência para passar a ser também uma necessidade com o surgimento da pan- demia.
De forma a manter-se atualizada, a ECP tem apostado na formação nas áreas do e-commerce e da criação e gestão de conteúdos das redes sociais. Simultaneamente, o Grupo Ensinus, do qual a ECP faz parte, tem apostado bastante e de forma continua na formação das suas equipas diretivas e pedagógicas, para se manterem atualizados e na vanguarda das metodologias de trabalho inovadoras.
Para além das mudanças digitais, as lojas físicas também se adaptaram, oferecendo, por exemplo, experiências únicas e personalizadas. Todas estas mudanças estão ligadas à customer experience. Ana aponta que “os consumidores estão cada vez mais exigentes e, por consequência, precisam de mais experiências únicas, que os façam sentir valorizados em todos os pontos de contacto.”
Assim, as lojas físicas devem apostar num contacto de maior proximidade e com um atendimento mais personalizado, enquanto a loja online deve refletir os valores e a imagem da marca. Deve existir, ainda no online, um esforço para antecipar os gostos e as necessidades dos clientes. “É fundamental existir controlo em ambas as frentes”, realça a diretora.
A crescente exigência dos consumidores contrasta com a descida da compreensão face a falhas, em todo o processo de compra, desde o apoio ao cliente à qualidade do produto. Uma das grandes preocupações dos consumidores atualmente prende-se com a sus- tentabilidade. “A valorização de produtos feitos com materiais sustentáveis, ecologicamente corretos e produzidos por trabalhadores em boas condições de trabalho são argumentos importantes e convincentes para a maioria de nós sobre a ética empresarial”, relata Ana. “Por isso, temos que estar atentos e trabalhar para a valorização do local e do sustentável.”
Para o comércio tradicional, a digitalização é uma faca de dois gumes. Se existem negócios que responderam ao desafio e ultrapassaram a crise com renovação e modernização ajustadas, existem fatias do comercio tradicional mais atingidas, em que os estabelecimentos comerciais terão mais dificuldade em ultrapassar os obstáculos. “Para alguns negócios, o online pode tornar-se no principal canal de distribuição, mas para outros, o espaço físico é insubstituível enquanto via primordial de vendas”, reconhece.
Para além de diretora da Escola de Comércio do Porto, ainda é professora na Universidade Lusófona e doutoranda em Estudos em Comunicação para o desenvolvimento. Já terminou a parte escolar, falta apenas encontrar tempo “num futuro próximo” para se dedicar a terminar a tese. Este doutoramento estabelece uma ponte entre a Sociologia do desenvolvimento e a comunicação. “O progresso e o desen- volvimento são termos cada vez mais presentes nos diversos campos da comunicação e, existem cada vez mais, lógicas e estratégicas comunicacionais, que favorecem o desenvolvimento”, algo que a cativou e motivou a estudar.
Equilibrar todas as vertentes da sua vida torna-se, por vezes, difícil. O marido e o seu filho são muito presentes, colaborantes e expressam apoio e orgulho no seu percurso. “É uma construção feita com e para eles. Tenho deles, a segurança e a confiança para continuar a dedicar-me também aos outros”, confessa. Sempre foi apaixonada pela vida, por novos desa- fios e por colecionar experiências, por isso este ritmo de vida já faz parte do seu ADN.