QUEM É QUEM: Ana Paula Cecília, Ceo da Ultraprint e Diretora da Revista Intergráficas

Ceo da Ultraprint Lda e diretora da revista Intergráficas

SOMOS O QUE LEMOS,VIAJAMOS E AMAMOS!

Adoro conhecer pessoas, viajar, ler e escrever, paixões que me fazem feliz.
Gosto de dar vida a projectos que me desafiem e me levem a inovar.

Quem me conhece sabe que vejo sempre o lado positivo de qualquer situação e passo a vida a impulsionar os meus amigos para que possam dar vida aos seus sonhos. Acredito que cada um de nós é sempre capaz de se superar na busca pelo que deseja e que, uma imensa força surge da vontade e do “querer”. Tudo o que sou e me tornei teve início no dia 21 de Abril de 1971, em Santarém, onde nasci. Dizem que somos o resultado das viagens que fazemos, dos livros que lemos e das pessoas que amamos e eu concordo, mas acho que somos também a infância que vivemos e a minha foi feliz, muito feliz. Não vivi entre a cidade e as serras, mas com um pé no campo e outro na cidade, dividida entre a capital do Ribatejo e a vila de Coruche, onde moravam algumas das minhas tias e avós. Foi um tempo feliz, livre, sem pressa de viver, com as sensações únicas que só o contacto com a terra proporciona, com todas as experiências que passaram, literalmente, pelos pés na terra, pela proximidade dos animais, das culturas, das gentes simples e de sorriso fácil. Não há melhor lembrança do que os mergulhos num imenso tanque de rega que o meu imaginário de criança transformou em piscina olímpica, ou mesmo nas tardes passadas debaixo de uma ameixeira, como se fosse uma competição de gargalhadas. Se somos também a nossa infância, então parte de mim é amor e carinho. Acho que sou mesmo o resultado dos meus primeiros anos, de tudo isto e, ainda das viagens entre uma  idade e um campo que não duravam mais de uma hora num Ford Escort amarelo do meu pai e que, me faziam sorrir enquanto debruçava a cabeça na janela e absorvia o vento no rosto. O que ainda tenho bem marcado são os cheiros da terra molhada da rega da horta, dos bolos de mel acabados de fazer, do azeite por cima de uma torrada, do pão caseiro, do vinho… Fui crescendo neste equilíbrio, de quem tudo tem na cidade e tudo recebe do campo, das histórias à lareira, do colo da família, das brincadeiras com os primos, dos passeios de mota, das corridas de carrinho de mão. No intervalo entre os dias no campo e na cidade, a escola deu-me os amigos, a descoberta e a aprendizagem que sempre me entusiasmou.

Ainda antes da escola, passava horas numa livraria lá do bairro, fascinada pelos livros, por capas e títulos e, a paixão por escrever e ler tornaram-se numa obsessão boa. Sem saber muito bem como integrar estas duas paixões na minha vida, fui eliminando áreas que poderia ter seguido, até ter concluído que a comunicação batia mais forte e fazia sentido no meu percurso. Aproveite sempre todas as oportunidades onde a comunicação fosse o tema central e, foi por isso que passei pela rádio, onde além da área jornalística fiz locução em programas da tarde numa rádio perto de Santarém, em Pernes, numa época em que cada vila e cidade tinha a sua rádio e ia formando profissionais que seriam grandes nomes da rádio e da televisão em Portugal. Com uma média final de 18,3 concorri à Universidade, escolhi a Universidade Técnica de Lisboa e, o curso do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, onde entrei na primeira opção. Foram quatro anos inesquecíveis por todos os motivos mas, sobretudo, pelas amizades de uma vida, pelos professores que se tornaram referência e pela envolvência do ambiente universitário. Era tudo novo, a cidade, a dinâmica de uma universidade, os métodos e processos, os dias longe dos meus pais, dos amigos, da zona de conforto da minha Scalábis. Foram quatro anos que passaram a correr. Quando saímos de dentro de portas de um lugar onde nos preparam para a vida profissional na área que escolhemos trabalhar, achamos que sabemos tudo. Não sabemos nada. A licenciatura, como dizia o meu professor de Direito Económico, só nos permite uma coisa: licença para estudar sozinhos! Na verdade, é o que sentimos. Achamos que sabemos muito, que o mercado nos vai dar valor, reconhecer e acarinhar de imediato. Nada mais falso. O mercado começa por nos sugar até que estejamos preparados para reagir e impor. Foi assim comigo. Depois de um estágio de três meses, trabalhei em editoras nacionais, em revistas de banca, jornais diários, edição de suplementos, fui freelancer e assinei muitos artigos em revistas femininas, sempre mudando quando queria, sempre escolhendo os cargos, numa altura em que a economia fluía, em que o mercado oferecia emprego em cada esquina. Um dia, depois de desiludida com ideias fracas sobre o que uma revista deveria ser e farta de viver ao sabor dos ideais de cada novo director, decidi lançar um o meu próprio projecto editorial na área da impressão e comunicação, tendo criado uma empresa e um título. Foi arrojado, foi destemido, foi sem pensar. Hoje, acho que sempre que pensamos muito sobre as decisões que tomamos, acabamos por não avançar e, naquela época, decididamente, não pensei. Foi isso que me levou por diante. Sem dinheiro, mas com muita vontade. Na minha cabeça surgia esta frase: “Deve existir uma outra forma de ganhar a vida em que não tenha de me sujeitar a escrever sobre o que outros querem…” Ainda assim, estava grata aos editores da minha vida, aos homens (porque foram sempre homens) que me ensinaram a saber escrever. Ainda me lembro de um dos primeiros artigos que fiz para uma revista dirigida a homens de negócios, sobre vinho verde. Cheia de mim, pesquisei e entrevistei quem podia dar informações preciosas sobre esse delicioso vinho e acabei por escrever três páginas entre títulos e fotos. O resultado, foi o que aprendi como lição de uma vida, quando o editor, um senhor inglês que vivia em Portugal desde 1972 me disse que “texto cortado é texto melhorado.” Com este inglês, que surgiu em Portugal para revolucionar o mundo da edição e do marketing e publicidade, aprendi também a ser inovadora, a procurar ver o lado que os outros não procuram, a conseguir perceber que quando queremos muito algo, nada nos impede de o conseguir. James Lanham era também um criativo e isso é algo que sempre me fascinou nele, mesmo quando o império começou a enfraquecer. Com outros editores aprendi o que não fazer na edificação de novos projectos, aprendi a ser comedida nos passos maiores do que a perna, aprendi que o respeito por quem trabalha ao nosso lado é fundamental para que haja uma equipa, para que a liderança seja positiva e agregue pessoas em torno de objectivos comuns. O que aprendi por oposição de quem nada disto fazia, tem sido baliza da minha vida, sobretudo no respeito que sinto por quem está
ao nosso lado na vida, seja em que dimensão for.

Em 1997, depois de algumas desilusões e aproveitando uma oportunidade, decidi criar uma revista e dar-lhe vida. Nasceu a Intergráficas quando senti vontade de lançar um projecto inovador e diferente do que já existia no mercado e, por isso, confiei o layout e design gráfico, ao meu amigo Vasco Ferreira, que “desenhou” a famosa revista “Volta ao Mundo”. O resultado acabou por ter o destaque imediato e cativou o mercado, anunciantes e leitores. Ao Vasco Ferreira disse que não tinha dinheiro para pagar de imediato e, como os amigos são isso mesmo, o Vasco nem pestanejou e acertámos que quando tivesse retorno do investimento o pagamento haveria de surgir. Foi tão inocente, tão incrível e resultou num layout que posso dizer hoje, foi na altura um dos mais bonitos do mercado. Costuma-se dizer que mais vale cair em graça do que ser engraçado e isso aconteceu. Foram vários anos em que tive o privilégio de ter ao meu lado, como director de arte, um dos homens que mais entende de design gráfico e isso não tem preço. O Vasco Ferreira ensinou-me a arte do “querer mais”, do “ainda pode ser melhor”, do “não custa experimentar e ver como fica”. Durante anos foi assim, até que ele voou para novos projectos e isso encheu-me de orgulho.
Com um discípulo fantástico, seguiu-se Bernardo Ferraz, um dos melhores designers que conheço, e que é, desde há 15 anos o designer responsável pelo layout gráfico da Revista Intergráficas. Se há uma condição que permanece até hoje, é a total liberdade de inovar em cada edição, que vai já no número 213. Ao longo dos anos, esta publicação especializada, tornou-se referência a nível nacional e mesmo internacional e foram surgindo prémios, reconhecimento e outros projectos editoriais e eventos.

Ana Paula Cecília

Nos últimos anos, senti a necessidade de criar o Printalks, um evento de dois dias que reúne os maiores players da área de impressão e comunicação, para debater temas de relevo e impacto para as empresas e profissionais. São mais de 42 oradores que durante dois dias sobem ao palco para partilhar ideias, experiências, estudos, case studies e  tendências. Partilham tudo isto com mais de 400 pessoas que querem saber mais, para levar para dentro das suas empresas ideias novas, que as façam avançar e estar na frente do mercado, liderando e dando aos seus clientes o melhor serviço, os melhores produtos, os processos e métodos mais inovadores. Ao portfólio de produtos e serviços oferecidos pela Ultraprint, a empresa que criei, no preciso momento em que decidi lançar a revista IG – Intergráficas, juntei muitas outras valências, escolhendo sempre manter uma relação de proximidade com os clientes e indo ao encontro das suas reais necessidades. Actualmente, a Ultraprint dá vida a projectos de realidade aumentada em catálogos, a projectos de produção de livros, realização de eventos, design gráfico, criação de sites, gestão e manutenção de redes sociais, produção gráfica, vídeos e projectos onde a comunicação faça a diferença e possa trazer valor acrescentado. Nunca fazemos nada por fazer e em cada novo projecto recusamos a “chapa 5”, abraçamos o desafio, estudamos, adaptamos e criamos de raiz, personalizando a mensagem, os meios, a forma. É mesmo assim porque temos a mania de fazer bem feito! No meio de toda esta atividade, frequentei cursos de escrita criativa, de produção gráfica, de vendas, de criação de embalagem… e, como digo muitas vezes, “fazer o que gosto trouxe-me ainda a imensa sorte de ter viajado a trabalho um pouco por todo o mundo e, de ter conhecido sítios incríveis onde nunca teria estado, não fossem as centenas de conferências de imprensa, feiras, apresentações e lançamentos de produtos em que participei. De todos os países onde estive, destaco o Japão, Israel e Turquia. Falta-me a Austrália, e não é pelos cangurus, mas porque sei que posso conhecer o mundo inteiro, mas se faltar a Austrália, então falta-me conhecer um continente inteiro e uma outra forma de viver!

O que me falta também, é um livro. Tenho escrito livros sobre empresas, histórias de vida ou acontecimentos, mas na gaveta está o meu e em breve ganhará vida! Este ano muitos projetos ficaram adiados por causa da pandemia mas acho que tudo isto serve para que cada um de nós prepare melhor cada um desses projetos. Com a crise que estamos a viver, com as dúvidas, com a ansiedade sobre o que virá a seguir, este é também um momento de oportunidade, de lisar, de pesquisar, de ver onde e como podemos fazer melhor. Pode ser um cliché, mas só as dificuldades nos fortalecem e preparam para a vida. Vejo sempre um copo meio cheio e acredito que esta é a oportunidade de nos juntarmos, de unir forças, de trabalhar em conjunto para objetivos maiores. Em suspenso ficou também um retiro de 15 dias, na Índia, num Ashram, um desafio gigante face ao silêncio do lugar para quem, como eu, adora conversar e faz da comunicação a sua vida pessoal e profissional!