Rosário Moreira é Professora na Faculdade de Economia do Porto (FEP), Diretora da Licenciatura em Gestão da FEP, Docente convidada da Porto Business School e Diretora do The Digital MBA da PBS. Ao longo do seu percurso tem trilhado por um sólido crescimento e pleno de sucesso e êxitos, em entrevista à Revista Liderança no Feminino, fala-nos sobre Liderança Feminina.
LECIONAR, A NÍVEL ACADÉMICO, SEMPRE FOI UMA DAS SUAS AMBIÇÕES?
Nunca tive um só objetivo em termos de atividade profissional. Quando era pequena via-me, “quando fosse grande”, num consultório médico a aliviar a dor de quem estivesse a sofrer (inspiração, talvez, da série “Retalhos da vida de um médico” que passava na minha juventude), num anfiteatro a transmitir conhecimento e a preparar os jovens para o mundo do trabalho, ou, ainda, em viagem à procura de novos clientes e a negociar com fornecedores, a gerir uma empresa. Eram estes os 3 cenários que imaginava. Acima de tudo, tinha de ter, no meu percurso estudantil, muita matemática e disciplinas de lógica. Acabei por ingressar no curso de Gestão da Faculdade de Economia do Porto (FEP) e de, depois de concluir os estudos, abraçar a carreira académica de docente universitária. Portanto, posso afirmar que esta foi, desde cedo, uma das minhas ambições, um dos meus objetivos de vida profissional e que foi atingido.
O QUE A MOTIVA NO ENSINO ACADÉMICO?
Ensinar é, para mim, uma paixão. E mesmo após 25 anos de ensino na FEP (e cerca de 15 anos na Porto Business School), no arranque de cada novo semestre letivo, preparo sempre novos materiais e adiciono casos atuais para acompanhar o ensino, assim como novas abordagens pedagógicas para promover a aprendizagem e manter o estudante comprometido e “desejoso” da próxima aula. (risos). Os jovens de hoje, os estudantes atuais do ensino superior, já nasceram com todas as tecnologias e conhecem-nas desde o berço, tendo, por isso, um conjunto de estímulos e competências diferente da minha geração e uma visão do mundo muito particular. Para os manter atentos e committed até ao final do semestre, é preciso investir muito na estratégia pedagógica. Isto constitui um desafio permanente e, por isso, é um dos fatores que mais me motiva no ensino universitário. Mas o que mais me motiva é o estar no papel de professor no sentido de ter de conseguir “desconstruir” conceitos complexos e metodologias avançadas de gestão e apresentá-los aos estudantes de forma eficaz, inteligível e simples. Finalmente, sem qualquer dúvida, o ter de, enquanto orientadora de trabalhos científicos (dissertações e teses), estar sempre a aprender, permanentemente a estudar e continuadamente a “descobrir” (encontrar fatores determinantes de um certo fenómeno da gestão, analisar impactos de determinadas decisões, encontrar associações entre diversas variáveis, etc.). Digamos que como que em permanente descoberta do conhecimento.
A PORTO BUSINESS SCHOOL VAI INICIAR, EM NOVEMBRO, O PRIMEIRO “THE DIGITAL MBA”. O QUE OFERECE ESTE PROGRAMA?
O The Digital MBA é o primeiro programa de MBA, oferecido por uma escola de negócios portuguesa, que pode ser frequentado totalmente on-line. É um programa único em Portugal e que viu a luz do dia um pouco mais cedo (a Escola já tinha no seu plano estratégico o desenvolvimento de um programa semelhante), fruto do que temos vindo a viver nos últimos meses devido à pandemia do Covid-19. A PBS reagiu com rapidez tendo a sua prioridade sido a proteção dos seus estudantes, professores e staff e, posteriormente, o planeamento do futuro imediato e do mais distante. E daí surge o The Digital MBA. A necessidade de adaptação dos nossos serviços de educação mostrou-nos, de forma clara, que a formação na área digital é urgente e crítica para os gestores e líderes das empresas. E sendo nós uma business school, sentimos como uma emergência, no âmbito da nossa missão, oferecer formação nas áreas de que as organizações mais precisam para, neste novo cenário, terem sucesso.
Este programa oferece a possibilidade de fazer um MBA à distância, ao ritmo do estudante, adaptado ao seu estilo de vida pessoal e profissional, numa escola de excelência, com o mesmo corpo docente dos outros dois MBAs e usufruindo da experiência de mais de 30 anos de ensino ao nível de MBAs aqui na PBS. O The Digital MBA permite ainda ao estudante customizar parte do seu MBA, uma vez que tem 2 módulos (finais – módulo 3 e 4) constituídos por disciplinas totalmente opcionais em áreas tão diversas como as Finanças, as Operações/Supply chain, Marketing, Recursos Humanos, Analytics, Digital e Inovação. Nestes dois módulos existe ainda a possibilidade de frequentar disciplinas numa das prestigiadas universidades com que a PBS tem parcerias: FIA e Cesar School (Brasil), MUST University (Macau), GFKM (Gdansk, Polónia), IESEG School ofManagement (França), a AMS – Antwerp Business School (Bélgica).
Como os restantes módulos se centram naquilo que é a essência de um MBA – elementos de economia, gestão, métodos quantitativos, cursos nas diversas áreas funcionais da gestão e ainda cursos que focam sobre estratégia, liderança e sustentabilidade – o estudante consegue associar à sua aprendizagem de conceitos novos e emergentes, os conhecimentos de um MBA tradicional. O The Digital MBA oferece ainda, on-line, dois módulos temáticos: um em Business innovation e outro em International business que decorrem na Berkeley University e na London Business School, respetivamente, e com a possibilidade de frequentar presencialmente, imergindo, neste caso, na experiência de uma semana internacional naquelas duas universidades.
DE QUE FORMA É QUE O CURSO É UMA MAIS VALIA PARA OS LÍDERES?
O The Digital MBA é uma mais valia para todos aqueles que desejem assumir ou reforçar cargos de liderança e gerir em ambientes de constante e rápida mudança. Digamos que é um MBA para os líderes do futuro. Hoje, para se ser um bom gestor e um líder competente não basta apenas saber conceitos de gestão financeira, de gestão logística, de estratégia, responsabilidade e sustentabilidade, marketing, recursos humanos e comportamento organizacional. É imperativo saber aproveitar e gerir todas as potencialidades que o digital, a inovação e a tecnologia nos traz. E isso é o que o The Digital MBA oferece, de uma forma diferenciada, aos que querem ser os líderes do futuro: ele combina, na justa medida, a excelência de um MBA tradicional, por um lado, e as áreas digital, inovação e tecnologia, por outro. É, pois, um programa claramente focado no mundo digital e na preparação da gestão para este mundo digital, disruptivo e em permanente evolução.
COMO DEFINE A LIDERANÇA FEMININA?
Este tópico da liderança feminina ou liderança no feminino é-me tão querido que desafiei este ano letivo uma estudante da FEP a efetuar um estudo científico precisamente sobre este tema. Em Portugal apenas 5 mulheres estão na liderança das 100 maiores empresas portuguesas. Muito se sabe sobre o que as impede, mas quais serão os fatores que promovem e apoiam as mulheres na sua evolução de carreira em Portugal? É precisamente a esta pergunta que este estudo vai responder. Juntamente com o meu colega, Paulo Sousa, estou a orientar uma dissertação de mestrado que, brevemente, mostrará, após termos ouvido e inquirido mais de duas centenas de mulheres portuguesas com cargos de gestão e em posições de liderança, os fatores que determinam o atingimento de cargos de liderança (C-level). Do meu ponto de vista a liderança não depende do género. Ambos os géneros têm traços diferentes que mais do que oponentes, se complementam. Há diferenças entre a liderança masculina e a feminina, mas o sucesso de uma organização poderá estar precisamente no aproveitamento dessas diferenças de quem está nos cargos de liderança. Os traços que caracterizam um estilo de liderança e o outro (em termos de género) são, obviamente, distintos sendo que a liderança feminina tende a ser mais maternal, eventualmente mais inclusiva e conciliadora. Espera-se que a liderança masculina apresente atributos mais relacionados com força, assertividade, controlo e confiança, enquanto que as mulheres tendem a revelar mais atributos como a bondade, simpatia e sensibilidade. Mas é da combinação desta diversidade de género que, do meu ponto de vista, se sustenta a força de algumas equipas.
QUAIS OS MAIORES DESAFIOS PARA AS MULHERES LÍDERES?
As mulheres que se encontram em cargos de liderança têm um desafio, diria, diário de afirmação e justificação do seu talento e competência. Este desafio penso que estará relacionado com a origem e organização da sociedade em torno da figura do Pai, somos uma sociedade ainda patriarcal. O papel das mulheres, tradicionalmente, era caracterizado por ficar em casa e cuidar das crianças e da casa, enquanto os homens trabalhavam para fornecer apoio financeiro à família (Northouse, 1997). Como que está nos genes a necessidade de mostrar que somos tão, ou mais, competentes, boas líderes, profissionais de alto rendimento, ou ainda melhores que os homens. Outros desafios como a maternidade ou apoio aos filhos, salários desiguais estão, a meu ver, cada vez mais a perder peso no leque dos maiores desafios.
NA SUA OPINIÃO, O QUE ESTÁ POR FAZER PARA QUE EXISTAM MAIS MULHERES EM CARGOS DE CHEFIA?
Não considero que as quotas sejam a solução. Penso que o que deveria, de facto, existir, era a criação – efetiva – de oportunidades realmente iguais de acesso a cargos de liderança. E depois o mérito efetuar a seleção do melhor elemento para liderar.