Num trajeto pautado pela pluralidade de experiências, Cristina Matos é, hoje em dia, diretora-geral da Associação Portuguesa de Franchising (APF), que dinamizou, em abril, a 25ª edição da Expofranchise, na cidade de Lisboa.
Como dizia Charles Darwin, “não é o mais forte que sobrevive, mas o que melhor se adapta às mudanças”. No caso de Cristina Matos, “mudança” tem sido denominador comum de um percurso, quer como estudante quer como profissional, que sempre foi rico e diversificado. Desde Portugal a África do Sul, passando pelo Brasil e pelos Estados Unidos da América, a diretora-geral da Associação Portuguesa de Franchising (APF) já conta com inúmeras experiências multiculturais, que vêm a acontecer desde tenra idade.
“Viver em vários países durante a infância e mais tarde na adolescência, ensinou-me a adaptar-me a diferentes realidades sociais, económicas e culturais. Trago essa capacidade de adaptação até aos dias de hoje.” – refere.
Num colégio interno em África do Sul, dos 8 aos 10 anos, aprendeu o inglês que se viria a revelar um enorme facilitador naquele que foi o seu “percurso como estudante e posteriormente como profissional”. E por falar em “percurso profissional”, é seguro afirmar que, hoje em dia, não podemos dissociar a palavra “liderança” de Cristina Matos. No entanto, à luz daquela que foi a sua formação superior, tal não seria de prever.
“Várias vezes fiz opções profissionais a achar que estaria mais perto do mundo das artes e da moda, mas acabei por verificar que isso não iria acontecer. Quando iniciei funções nas Lojas Francas, achei que estaria mais próxima do mundo da moda e acabei por ser Buying Manager de bebidas, tabaco e alimentação. Posteriormente entrei no Grupo Brodheim, como diretora de novos projectos, novamente pensei que viria a estar mais ligada ao mundo da moda, mas acabei por trabalhar no franchising de serviços.”.
Ainda assim, e apesar de todas as responsabilidades inerentes a um cargo como aquele que ocupa, a diretora-geral da APF continua a pintar e a fazer bijuteria, “sempre que o tempo permite”.
Costuma-se dizer que é preciso ter um conjunto de características bastante específicas para se ser uma boa líder. Há quem diga até que a única forma de liderar uma equipa de trabalho é pelo exemplo. No caso de Cristina, esse exemplo é dado quer no trabalho quer fora dele. Para além de ser uma profissional de sucesso, encontra-se ligada a causas sociais há mais de 20 anos, de um modo voluntário.
Cristina Matos percorre o caminho da solidariedade social, enquanto dá largos passos ao nível da liderança. No entanto, para a diretora-geral da APF, uma coisa é certa: “ambos podem caminhar lado a lado, porventura sem se cruzar”. Posto isto, uma boa líder não tem, necessariamente, de ter a experiência social que Cristina tem, ao ter “iniciado aos 14 anos o [seu] primeiro ano de trabalho de solidariedade social na favela do Morro do Canta Galo”, no Brasil.
Na verdade, ninguém nasce CEO de uma empresa. Antes pelo contrário, uma líder também se vai construindo, à medida que se vai permitindo “aprender e desenvolver as competências necessárias e desejadas” para se tornar numa boa líder. Apesar disso, para Cristina Matos, existem alguns fatores associados ao caráter individual que fazem a diferença.
“A paixão pelo que fazemos e a forma com transmitimos, motivamos e incentivamos as equipas. Permitir que cada um tenha a sua própria voz, respeitando a sua individualidade e zelando pelos seus interesses. Compartilhar o conhecimento e não ter receio de que os outros também nos possam ensinar. Assumir o fracasso, não permitindo que outros sejam responsabilizados pelas nossas falhas e erros.” – enumera.
Num trajeto profissional já bastante preenchido, Cristina Matos é, como referido anteriormente, CEO da APF, que atribuiu, pela primeira vez, na 25ª edição da Expofranchise, os Selos de Excelência em Franchising, distinguidos pela associação. Por detrás desta inovação, está a “necessidade de reconhecer a qualidade e a excelência das empresas que atuam como franqueadoras e master franqueadoras”, o que permite que o empreendedor se sinta “mais seguro em investir, quando descobre que a franqueadora acompanha o desempenho dos seus franquiados”.
Como a própria associação define, a atribuição dos Selos de Excelência em Franchising da APF possibilita às empresas “o reconhecimento pelo mercado como referência na adoção das melhores práticas de gestão em franchising”. Ainda que, neste processo, seja complicado eliminar a subjetividade a 100%, o mesmo “foi pensado tendo em conta a necessidade de a atribuição ser o mais objetiva possível”, pelo que as regras são “bem claras”.
“O Selo de Excelência só está disponível para os nossos associados e esse já serve como um primeiro critério de avaliação, uma vez que os nossos associados passam por um processo de avaliação, para poderem ser considerados associados de pleno direito. Também temos um questionário elaborado por uma consultora e um inquérito, efetuado por uma empresa externa, a Multidados. O questionário aborda assuntos de performance global, económica, relacionamento, sustentabilidade e operacional. É feito via online e totalmente confidencial.” – explica.
Para além do cargo que ocupa enquanto CEO da APF, Cristina Matos acumula as funções de chairwoman da World Franchise Council Task Force (WFC). Na verdade, ambos os cargos se encontram interligados, atendendo ao facto de que o posto que ocupa na WFC apenas é possível “em representação da Associação Portuguesa de Franchising”. Apesar da passagem pela WFC, iniciada em 2018, estar a ser extremamente desafiante, Cristina refere que “não [se irá] recandidatar”, por defender a circulação de países para o desempenho da função.
Independentemente da qualidade que se tenha para exercer determinada função, o skill associado à liderança de Pessoas vai-se ganhando, com o tempo. Mesmo assim, o aparecimento da pandemia de covid-19 revelou-se um grande desafio que “veio estimular a capacidade de liderar à distância, onde tudo se torna mais impessoal”, até pela dificuldade que é manter uma equipa de trabalho motivada em tal contexto.
Como referido anteriormente, “mudança” tem sido denominador comum no percurso de Cristina Matos. No entanto, “diversidade” também seria uma palavra bastante ajustada para descrever aquele que tem vindo a ser esse mesmo percurso, até ao momento. Tendo já trabalhado no setor dos acessórios e decoração, mais tarde no setor alimentar, depois na área da animação cultural, entre muitas outras áreas com as quais já teve contacto, Cristina afirma que, hoje em dia, “[pode] dizer, com segurança, que o que mais [a] enriqueceu foi este trajeto multifacetado”, pelo que usa como lema a inspiração de Richard Branson: “Se alguém lhe oferecer uma oportunidade incrível, mas se não tiver a certeza de conseguir fazê-la, diga sim e depois aprenda a fazê-la”.
Independentemente da responsabilidade advinda das posições que se ocupam, existe, para cada indivíduo, a dimensão pessoal e a dimensão profissional. Sendo os trabalhos de chefia, geralmente, mais absorventes do que outro tipo de trabalhos, é essencial saber definir uma espécie de “linha separadora” entre ambas as partes. Ainda que Cristina o reconheça, confessa que “não raras vezes, é difícil de conseguir” tal coisa.
Apesar de todas as dificuldades que uma vida de líder implica, Cristina Matos faz com que o seu “lado otimista” sempre prevaleça, pelo que acredita numa sociedade, futuramente, “mais desenvolvida e mais madura”, onde problemas como as diferenciações de género deixarão de ser uma questão.