Fátima Correia da Silva é Chief Compliance Officer (CCO), Head of Legal e DPO da Critical TechWorks. Advogada há mais de 15 anos, Fátima passou por várias áreas do direito empresarial, aceitando todos os desafios que lhe foram sendo propostos.
Fátima Correia da Silva sempre teve a certeza que iria ser professora, mas no último ano do secundário tudo mudou. Alguns professores viram em Fátima algumas apetências para a área jurídica e a mesma decidiu ouvi-los: “Era unânime a opinião de que, além de nutrir uma especial apetência pela escrita, denotava já uma boa capacidade argumentativa, uma personalidade forte, assertiva e uma atitude ponderada”, refere a CCO.
Fátima Silva decidiu seguir Direito, apesar de não ter ninguém na família que a orientasse ou a direcionasse para esse caminho, tendo sido a primeira a seguir o ramo e a primeira a entrar no Ensino Superior. Depois de ingressar na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, o interesse pela área foi aumentado cada vez mais e Fátima começou a ganhar o desejo de “vir a fazer a diferença na sociedade e acreditei real- mente que poderia trazer para o mundo muitos dos valores orientadores para mim”, confessa.
O primeiro contacto com o mercado de trabalho deu-se com o estágio profissional, em que a CCO revela ter tido um “choque com a realidade”. Isto porque teve de colocar em prática tudo o que tinha aprendido na teoria, algo que não foi um problema e que até lhe trouxe a ambição de se especializar na vertente corporativa. “Passei de um escritório de cinco pessoas para trabalhar na EY (Ernst & Young)” – uma empresa multinacional de serviços profissionais-, afirma Fátima Correia da Silva.
A advogada mudou-se para Lisboa e durante onze anos na EY, especializou-se em fiscalidade, tal como aspirava, viajou regularmente e ainda chegou a integrar a “área de Serviços Forenses e de Integridade.”
É durante a pandemia que surge a oportunidade de ir trabalhar para a Critical TechWorks e Fátima Silva não a desperdiça. Viu ali um grande desafio, que lhe permitia finalmente cumprir com o grande propósito que lhe fez seguir direito: “Tive oportunidade de aplicar o que fui aprendendo ao longo dos anos, mas voltando a trazer para a ação os valores que me guiavam desde início e a possibilidade de criar algo que faria a diferença na sociedade.”
A Critical TechWorks é uma empresa resultante da parceria do grupo BMW e da Critical Software, tendo como objetivo apoiar a BMW na criação de software para os seus futuros automóveis. A BMW entrega à Critical TechWorks diferente projetos que têm impacto em várias “vertentes e unidade de negócio da marca.” Para além disso, o foco está na inovação, olhando para as necessidades do consumidor para apresentar novas soluções tecnológicas à BMW. O objetivo passa por criar um “espaço criador de vivências, entretenimento e conforto para o nosso dia a dia, muito além de um simples meio de transporte”, explica Fátima Correia da Silva.
A nível jurídico, Fátima refere que os seus principais valores “são comuns a todas as pessoas, sendo transversais, desde os “shareholders ” aos “entry levels.”
Atuam sempre perante a integridade e a transparência, “desafiando o lado tendencialmente mais teórico da área jurídica”, ou seja, o pensamento está sempre em alcançar o resultado, mesmo que este pareça impossível. A Critical TechWorks destaca-se pela sua atuação estratégica de compliance, na implementação do RGPD, no monitoramento legal e potencial mitigação de risco. A empresa é bastante assertiva nestas questões jurídicas e, por isso mesmo, os seus colaboradores sentem-se seguros, mas também se demonstram “atentos e curiosos sobre estes temas, com implicação direta no seu trabalho diário”, acrescenta a CCO.
Um advogado é, cada vez mais, imprescindível numa empresa e se até há pouco tempo era unicamente responsável por “rever contratos e reconhecer assinaturas”, agora assume “um trabalho de apoio à estratégia, à gestão de risco e à tomada de decisão, com uma visão jurídica como pano de fundo – é um verdadeiro Chief Legal Officer”, explica Fátima Correia da Silva. A mesma ainda acrescenta que o advogado corporativo deverá estar constantemente a aprender e evoluir com o mercado, de modo a criar, na vertente legal, “vantagem competitiva” às empresas. Os advogados “devem ser uma espécie de confidentes dos órgãos decisores. Efetivamente, somos uns guardiões de segredos”, afirma Fátima Silva.
Em início de um novo ano, Fátima Correia da Silva confessa estar já em marcha um plano de crescimento ambicioso, com base no compliance. O objetivo passa por acompanhar os “desafios legislativos que vão surgindo”, em que a CCO revela estarem a “preparar as medidas para a transposição da diretiva ESG, fundamental para continuarmos a desenvolver um negócio com foco em pilares de sustentabilidade e compromisso para um futuro melhor”.
É na Critical TechWorks que Fátima alcançou muitos dos seus objetivos e onde encontrou um local de constante progressão profissional. Como mulher, refere que ainda existe algumas discrepâncias na progressão de carreira, sendo que a mesma não acontece de “igual modo entre géneros” e a grande razão está na permanência das gerações passadas na profissão. Contudo, Fátima demonstra-se confiante e acredita que esta mentalidade alterar-se-á nos próximos anos: “Acredito que, dentro de 20 ou 30 anos, esta troca geracional no mercado de trabalho ocorrerá naturalmente e tudo se irá resumir ao mérito, não ao género.” “Vivemos numa meritocracia e este gap vai fechar naturalmente, trazendo à mulher advogada um papel mais equilibrado”, acrescenta Fátima Correia da Silva.
Para além desta “troca geracional”, é necessário que “as organizações olhem para a diversidade e inclusão como um plus, não um handicap, enquanto potenciam, cada vez mais, a liberdade laboral”, acrescenta Fátima Silva. É necessário haver confiança da organização no trabalhador e do trabalhador na organização, para que possa haver espaço para uma maior “autonomia e responsabilidade”, afirma.
Como uma mulher num cargo de topo, Fátima Correia da Silva deixa alguns conselhos para jovens mulheres que pretendem seguir a advocacia: “Saber escutar ativamente e manter imparcialidade, sem julgamento precipitado”. Contudo, torna-se necessário também ser empática, de modo a “colocar-nos no lugar dos outros” e, ao mesmo tempo, resiliente e assertiva, nunca colocando em causa o valor que tem como profissional. “É um equilíbrio desafiante, mas essencial!”, confessa.