Nascida em França e criada numa pequena aldeia transmontana, viajou para a
cidade do Porto para frequentar a Licenciatura em Organização e Gestão de
Empresas concluído em 2000. Ao longo dos 24 anos que se seguiram,
continua apaixonada por aprender e não abdica do seu papel de mãe dedicada
a sua única filha de 13 anos, que descreve como o “seu bem mais precioso”.
Durante a sua trajetória foi necessário reinventar-se para alcançar o sucesso
indiscutível e a realização pessoal que hoje desfruta como empresária. Para
ela, o segredo é simples: estar sempre em busca de mais conhecimento.
Após deixar a sua terra natal, Helena Magalhães iniciou o seu percurso académico no curso de Organização e Gestão de Empresas, especializando-se no último ano na área de Marketing. A primeira oportunidade de trabalho foi um estágio profissional através do IEFP de 1 ano no departamento de Marketing de uma empresa ligada ao sector da construção e imobiliário. Com o crescimento da empresa e do Grupo na qual se integrava – todas ligadas ao sector imobiliário – acabou por ser transferida para o departamento financeiro, respondendo diretamente, ao Diretor financeiro do grupo empresarial, para além de fazer a ponte com a empresa de contabilidade, que era externa. Passado pouco tempo chegou-se à conclusão que seria do interesse das empresas, manter a Contabilidade “dentro de portas” passando a assumir a responsabilidade técnica pela contabilidade da empresa e gerindo a equipa de contabilidade.
Paralelamente, colaborava nas ações de marketing desenvolvidas e no processo de vendas, “alimentando o bichinho que adquiriu, ainda criança, na loja de roupa de criança da minha mãe, onde aprendi como funcionava um negócio, desde a compra de produto, o imposto que incidia sobre o produto (IVA), a fixação do preço, e inclusive com cerca de 14 anos já fazia os depósitos bancários sozinha, o que eu adorava, e foi um dos motivos que me levou a querer seguir Gestão.
O primeiro grande desafio surgiu com a crise económica. A empresa onde trabalhava não suportou as consequências financeiras. Para piorar todo o cenário, nessa altura Helena foi mãe solteira, após ter passado por uma situação de risco de vida durante o parto, tendo sobrevivido “por milagre” segundo os médicos a uma forte hemorragia pós-parto. Como ela mesma define, foi preciso repensar os seus objetivos de vida e mudar completamente a forma de estar, ser e fazer. “Tive de adaptar toda a minha vida à minha filha. Era mãe solteira e tinha de pensar no que poderia fazer para garantir o nosso futuro. Decidi abrir o meu próprio gabinete de Contabilidade em 2012, sem clientes em carteira, e trabalhar a partir daí, conseguindo gerir o meu horário em função das necessidades da minha filha. Para aumentar o negócio, em 2014, decidi investir num curso de Agente de Seguros dos Ramos Vida e Não Vida, uma área que também me interessava bastante para, assim ampliar, o negócio”, partilha.
Nenhum obstáculo foi suficiente para impedir os seus recomeços. A maior aprendizagem que diz ter retirado, desde então, foi que o “conhecimento que adquirimos é nosso, e fica sempre connosco … ninguém nos tira”. Para além do sentimento gratidão enorme pelo altruísmo dos dadores de sangue, a quem “deve a vida”. E é com estas premissas que trilha o seu percurso profissional e pessoal. Um dos valores que Helena mantém ao longo da sua carreira é a proximidade com os clientes, o respeito e, de certa forma, a informalidade. Sendo a contabilidade uma área repleta de termos técnicos, cabe aos profissionais aproximar os clientes da realidade fiscal e financeira. Helena faz isso com naturalidade e, por vezes, realça que “gosta imenso de conversar com as pessoas” e sente que de certa forma ajuda o próximo com o simples ato de ouvir.
Mesmo com todas as responsabilidades como empresária e contabilista, a sua prioridade continua a ser acompanhar de perto o percurso escolar da filha, participando ativamente como encarregada de educação, chegando a fazer parte de uma associação de pais durante o 1º ciclo, membro representante dos pais no conselho geral do agrupamento da escola, e sido nomeada Representante dos Pais da turma desde o 2º ano até este ano letivo que passou. Isto permite-lhe estar mais informada sobre o processo educativo e pedagógico da filha de 13 anos, a Helena tem opiniões assertivas sobre o programa escolar atual. Sendo uma mulher que compreende a economia de Portugal, acredita que a falta de literacia financeira nas escolas desde cedo é uma questão urgente e necessária. “Primeiro, acho que o programa escolar está completamente desajustado. Estamos a focar-nos na história passada e não tanto no presente e no futuro que temos de construir. Ou seja, a carga horária de algumas disciplinas, na minha ótica obsoletas, é demasiada e porque existem conteúdos que se repetem ao longo dos ciclos o que se traduz no crescente desinteresse dos jovens pela Escola e pela dificuldade que sentem em escolher uma área com a qual se identifiquem.”
Além disso, Helena Magalhães entende que as gerações atuais têm menos sensibilidade em relação ao valor do dinheiro comparadas às anteriores. Num mundo totalmente digitalizado, o dinheiro físico praticamente desaparece e os jovens sabem cada vez menos sobre a sua origem. “Eles não sabem de onde vem o euro. Por exemplo, a minha geração acompanhou todo o processo de adesão de Portugal à União Europeia e a transição da moeda, o impacto que teve na inflação. Hoje em dia, as crianças e jovens não sabem o que é um orçamento familiar, e quanto os pais têm de ganhar para suprir as necessidades básicas da família. Se perguntarmos a uma criança ou jovem, se ela sabe qual o papel do Estado, a Constituição, o que são impostos e para que servem, para citar alguns, dos muitos conceitos que elas desconhecem”, completa.
A preocupação de Helena é que estes jovens não estejam preparados para enfrentar os desafios financeiros da vida adulta quando precisarem agir por conta própria. A compra de uma casa, o investimento na carreira e o gerenciamento do próprio dinheiro podem ser assuntos delicados para aqueles que nunca precisaram de lidar com as finanças de forma independente. O antídoto para a situação é simples, mas não é fácil de implementar: educação financeira desde cedo.
“Eu acredito que a falta de informação é o maior inimigo das pessoas. Temos
de começar a educar desde cedo. Caso contrário, daqui a pouco tempo
teremos jovens que, primeiramente, não sabem o que é o dinheiro, nem quanto
custa ganhá-lo”
O 4.º Inquérito à Literacia Financeira da População Portuguesa de 2023 revelou que Portugal ocupa o 13.º lugar entre 39 países no indicador global de literacia financeira, destacando-se nos comportamentos e atitudes financeiras. Aproximadamente 85,9% dos portugueses pagam as contas a tempo, 85% evitam compras por impulso e 78,5% sentem que não possuem demasiadas dívidas. Além disso, 76,9% dos entrevistados monitorizam regularmente as suas finanças e 68% priorizam poupar para o futuro. Contudo, a percentagem de portugueses que conseguiram poupar no último ano diminuiu em relação a 2020, indicando áreas que necessitam de melhoria, como a poupança e o entendimento de conceitos financeiros mais complexos, tais como juros compostos e diversificação de risco. “vivemos numa sociedade que vive dependente do estado, com a agravante de Portugal ser um país no qual o peso da máquina estatal é muito elevado. E isso tem um impacto muito grande no desenvolvimento da economia no geral”, adiciona.
Na sua história de vida, especialmente por ser filha de emigrantes em França, e viver próxima da fronteira com Espanha, Helena já tinha conhecimentos sobre o valor das moedas. Por exemplo, sabia quanto valia um franco francês ou da peseta espanhola em relação ao escudo português. Todas essas experiências ajudaram-na a crescer num contexto que a incentivou a pensar no dinheiro de outra forma. Para ela, há um grande distanciamento nos dias de hoje entre crianças e jovens em relação às questões financeiras.
A contabilista acredita que, para garantir um futuro financeiro seguro, é vital que a geração atual comece a aprender sobre dinheiro desde cedo, através de jogos educativos nas escolas, aulas de economia doméstica e com a continuidade desse aprendizado em casa pelos pais. “As pessoas confiam nas instituições bancárias, mas essa confiança não deve ser cega. Se continuarmos a educar uma geração a confiar apenas nas instituições financeiras sem questionar, estaremos abrindo portas para fraudes e queixas. É essencial que as pessoas estejam informadas e conscientes para evitar esse tipo de situação.”
Como empresária e contabilista de sucesso, Helena vivencia na pele a importância de compreender as nuances do dinheiro e o seu verdadeiro valor. Para ela, a população precisa saber como lidar com o seu dinheiro da melhor forma possível. “Não faz sentido ouvir um cliente afirmar que tem um depósito a prazo a render nada e por outro lado ter um crédito hipotecário no mesmo valor (ou inferior) a pagar uma taxa de 5 ou 6% de juros ao banco. Qual é a lógica por trás disso? Além disso, os bancos recomenda que não liquidemos os nossos créditos. Isso é inconcebível. Precisamos desenvolver um senso crítico para entender que o dinheiro que está no banco é nosso, não do banco. Isso é extremamente grave”, disse ela.
Helena Magalhães é assertiva e decidida quando afirma que o novo projeto piloto que arranca no município do Porto, com o objetivo de aumentar a literacia financeira entre os alunos, deve funcionar da melhor forma, e preferencialmente ser alargado a todas as escolas. Como mãe e profissional, Helena continua a lutar para garantir que a sua filha e os jovens portugueses tenham acesso a uma educação financeira que lhes permita enfrentar os desafios do futuro com confiança e conhecimento. A sua determinação em melhorar a literacia financeira em Portugal, levou-a obter uma nova competência, desta vez frequentando um Curso de Formação de Formadores – CCP, que concluiu no passado sábado, para poder fazer a diferença, e quem sabe lecionar numa escola sobre finanças e gestão familiar.
Helena Magalhães é mãe, contabilista certificada, agente de seguros, formadora, mas além dos números e estatísticas, ensina-nos que o desejo de aprender é uma chama que nunca se apaga. Com a sua perseverança, demonstra que nunca é tarde para expandir os horizontes do conhecimento.