Ser empreendedora é uma fusão entre a resiliência e coragem para adotar riscos

Ana Vaz

Contabilista certificada e empreendedora, Ana Vaz sempre teve o desejo de criar a sua própria empresa, um exemplo dado pelos seus pais, também empreendedores. Mãe, esposa e avó, a contabilista iniciou o seu negócio, como ela mesma define, aos poucos. Hoje, tem uma carreira consolidada, uma carteira de clientes fiéis e o principal objetivo, agora, é deixar um bom legado.

A sua paixão por empreender surgiu na juventude, influenciada pela educação empreendedora dos pais. “Desde pequena, sempre admirei o espírito empreendedor dos meus pais. A ideia de ter o meu próprio negócio sempre me fascinou” afirma Ana. Este espírito empreendedor não só moldou a sua carreira, mas também impulsionou a criação da sua própria empresa, que começou de forma modesta e cresceu exponencialmente ao longo dos anos. O início foi como para todos aqueles que precisam dar um primeiro passo: devagarinho.

Rodeada pela sua equipa, ela confessa que, por muito tempo, trabalhou em ambientes onde era a única contabilista mulher. Hoje, a presença feminina já é bastante expressiva, representando 80% dos trabalhadores do seu escritório.

As dificuldades enfrentadas pela empreendedora, segundo ela, são semelhantes aos desafios percorridos por todos os empresários do país. “Os empresários são heróis. Porquê? Porque nós temos que ser financeiros, temos que ser gestores de recursos humanos, temos que ser comerciais, temos que ser tudo. E, portanto, as minhas dificuldades são as da maioria. Depois, estamos num país onde tudo muda. Nós não podemos fazer planos a longo prazo. E esta adaptação é desafiante” compartilhou.

Esta abordagem multifacetada permitiu-lhe construir uma relação sólida com os clientes, baseada na confiança e na dedicação.

“A relação com o cliente é fundamental. Eles sabem que podem contar sempre comigo”

Mesmo quando iniciou a sua carreira, a empresária conta que as recomendações dos clientes sempre foram pontos fundamentais para que o seu trabalho pudesse ser conhecido, o famoso “passa a palavra” de clientes satisfeitos.

Além de gerir o seu negócio, Ana é uma defensora ardente da literacia financeira, especialmente entre os jovens. Ela acredita que a implementação de programas de educação financeira nas escolas é crucial para preparar as novas gerações para a vida adulta. “Portugal está na cauda da literacia financeira na União  Europeia. Precisamos começar desde cedo, e integrar esses conceitos na educação básica é essencial” defende. Ela sublinha que, embora a medida de incluir a literacia financeira nas escolas tenha demorado a ser implementada, é um passo vital para melhorar a compreensão dos jovens sobre questões económicas e financeiras.

Por ser uma profissional da contabilidade e trabalhar com microentidades, ela vivencia diariamente o impacto das questões financeiras e fiscais no quotidiano da população e, por isso, defende veementemente que as pessoas entendam os conceitos básicos e fundamentais para terem mais liberdade. “Não é só de literacia financeira que precisamos, há outras coisas que são necessárias. Mas isto é muito importante, porque mexe com a vida das pessoas. As pessoas não sabem o que é a inflação, o que a inflação significa para nós e como interfere no dia a dia” realça.

Suas palavras destacam a importância de melhorar a literacia financeira em Portugal, educando a população sobre opções financeiras que possam garantir um futuro mais estável e próspero. ” Qual o maior investimento das famílias portuguesas? A casa …não se pensa em arrendar e investir o que se paga pelo empréstimo, que é imenso , spread, taxa nominais, efetivas, e investir para mais tarde até comprar casa a pronto, por desconhecimentos até achamos que isso é impossível “destacou ela, que acredita que esse tipo de pensamento revela uma falta de compreensão sobre alternativas financeiras que podem proporcionar maior segurança e crescimento patrimonial a longo prazo.

Ana entende que as propostas em relação à literacia lecionada nas escolas deveriam ter sido implementadas há bastante tempo, principalmente ao considerar a posição atual de outros países da União Europeia sobre a literacia financeira. ” Devíamos ter começado mais cedo! Como é sabido o Sistema Nacional de Pensões não está estável , a taxa de substituição hoje é de 68% e estudos feitos revelam que daqui a 30 anos será de cerca de 40% , terá de se fazer outro tipo de poupança para quando se chegar á idade da reforma, um seguro, um PPR, um aforro.”

Com todos os anos de carreira, Ana demonstra que duas coisas foram fundamentais para garantir o sucesso com os clientes – a qualidade e a dedicação. Também, uma das coisas que acredita e valoriza é a evolução contínua. Com a sua vasta experiência e um olhar atento para o futuro, ela está agora focada em deixar um legado. “Preocupa-me o futuro da minha empresa. Quero garantir que o trabalho e a dedicação que coloquei na empresa sejam passados para uma equipa que possa continuar a oferecer o melhor serviço aos nossos clientes” revela.

Ela acredita que o papel do contabilista evoluiu significativamente, tornando-se um verdadeiro consultor e parceiro estratégico para os empresários, e que essa mudança exige uma atualização constante e um conhecimento abrangente. Ana afirma que, apesar das dificuldades e do ambiente político e económico em constante mudança, o conhecimento contínuo e a dedicação são essenciais para manter a relevância e eficácia na profissão.

E para aqueles que sonham em ter sucesso, a empresária acredita que uma dose de risco é parte essencial do processo.

“Temos que arriscar, de maneira calculada e ponderada, mas ainda assim arriscar”

 

Ela atribui o seu sucesso a essa disposição para enfrentar o desconhecido e aprender continuamente.