Quando uma pergunta muda tudo: a história da ASK e da mulher que a criou
Antes de existir uma marca, existia uma inquietação. Uma curiosidade antiga, quase visceral, que acompanhava Filipa Cardoso desde sempre. “Nunca me contentei com viver a vida em piloto-automático, sem fazer perguntas”, conta.
E talvez tenha sido essa recusa em aceitar a superfície que a levou a colecionar perguntas como quem coleciona chaves — cada uma capaz de abrir uma porta diferente dentro de nós.
Formada em Arquitetura e Artes Plásticas, Filipa movia-se entre o desenho, a criação e o desenvolvimento pessoal. Estudou Yoga Iyengar, Meditação, Breathwork, certificou-se como coach pelo HeartMath Institute. Mas, acima de tudo, estudou pessoas. “Sou extremamente curiosa e sempre adorei aprender. Sobre mim, sobre os outros, sobre a vida e sobre o mundo.”
Foi assim que nasceu o famoso tupperware. Um recipiente improvável, cheio de perguntas recolhidas ao longo dos anos — de mestres espirituais, filósofos, cientistas, artistas, amigos, desconhecidos. Perguntas leves, profundas, divertidas, desconcertantes.
Um dia, decidiu levá-lo para um jantar de família.
O primeiro em vinte anos com todos à mesa.
O tipo de jantar onde o amor existe, mas as velhas dinâmicas também.
“Começámos a fazer perguntas uns aos outros e o que aconteceu foi… mindblowing!”, recorda.
Houve riso.
Houve lágrimas.
Houve revelações que nunca tinham encontrado espaço para existir.
“Descobrimos sonhos dos meus pais que desconhecíamos por completo. Não por não sermos próximos, mas porque nunca tínhamos criado o espaço para esse tipo de partilha.”
Naquela noite, Filipa percebeu que tinha algo poderoso nas mãos.
Algo simples, mas transformador.
Pouco depois, mostrou o tupperware a um amigo.
“Estou com a minha namorada há quatro anos e não sei nada disto sobre ela… Espera, não sei nada disto sobre mim. Quero uma coisa dessas!”
Foi o empurrão final.
Com o irmão, Nuno, estruturou o primeiro ASK.
Selecionaram 130 perguntas entre mais de 700.
Criaram níveis de profundidade.
Pensaram em contextos, em pessoas, em possibilidades.
No Natal de 2020, esgotaram a primeira edição.
Hoje, a ASK está na oitava — e continua a crescer.
Mas o crescimento não foi fácil.
“Fazermos tudo sozinhos foi o maior desafio. Da conceptualização à logística, tudo é feito por mim e pelo meu irmão.”
Ainda assim, nunca perderam o propósito: criar ferramentas que devolvem às pessoas algo que o mundo moderno tem dificuldade em oferecer — presença.
“As perguntas estão desenhadas para gerar impacto real, conversas intencionais e conexão humana autêntica, longe dos telemóveis.”
A liderança de Filipa reflete essa visão.
Uma liderança que integra, que observa, que cuida.
“Vejo na liderança feminina uma capacidade muito própria de cuidar do todo e de todos… Existe um calor e uma presença que contrastam com modelos mais tradicionais.”
E, ao mesmo tempo, uma liderança profundamente consciente do planeta.
“Mais do que sustentabilidade, penso em regeneração. Não temos mais 20 anos para viver como temos vivido.”
Por isso, tudo na ASK é produzido em Portugal, com materiais certificados e escolhas éticas. “Para nós, sustentabilidade não é marketing — é responsabilidade.”
Quando lhe perguntamos que mensagem deixaria a outras mulheres que querem criar algo seu, Filipa não hesita: “Descubram o vosso PORQUÊ. Quando o trabalho se transforma numa missão, tornamo-nos praticamente invencíveis.”
E talvez seja essa a essência da ASK: uma marca que nasceu de uma pergunta — e que continua a transformar vidas, uma pergunta de cada vez.





