PORQUE ARDE A AMAZÓNIA?

Paulo do Carmo, presidente da QUERCUS
“ Cada geração, no uso e na herança da terra, é depositária da confiança das futuras gerações, e tem o dever de prevenir danos irreparáveis para a vida na terra e para a liberdade e dignidade humanas”. ( Jackes Ives Cousteau- Explorador, Ativista, Ecologista, Cientista, Fotografo,Cineasta e Autor Francês- 1910-1997).

Finalmente, e com bastante atraso, foram proibidas as queimadas na Amazónia pelo Governo Brasileiro. A devastação da Amazónia é um problema Político/ Económico com impactos elevadíssimos no Ambiente. A desflorestação da Amazónia não surgiu em
Agosto de 2019, bem pelo contrário, trata-se de um problema que surgiu há poucas décadas, que se tem agravado ano após ano, e que infelizmente só se tornou um assunto mundial, quando este ano surgiram vários incêndios violentos. É preciso sublinhar que a floresta amazónica brasileira permaneceu completamente intacta até à inauguração da Rodovia Trans- Amazónica em 1970.

Mas é a partir de 1991 que a desflorestação tem vindo a aumentar, por várias razões, mas especialmente por causa da criação do gado. E este cenário só pode ser parado e invertido, por vontade e decisão Politica, o que infelizmente e até ao momento ainda não aconteceu. A Floresta Amazónica fornece pelo menos três grandes e importantes contributos Ambientais, dos quais a sobrevivência do ser humano depende. Estamos obviamente a falar da Captura e Armazenamento de Carbono, o Ciclo da Água e a manutenção de toda a Biodiversidade. Por outro lado as árvores da Floresta Amazónica não estão adaptadas ao fogo, e as queimadas sucessivas repetidas nas mesmas áreas provocam uma total mortalidade, com enorme perda de Biodiversidade. Segundo vários especialistas, as queimadas da Floresta Amazónica têm origem criminosa. Primeiro desfloresta-se o terreno( este ano com maior extensão do que nos anos anteriores), depois as árvores são deixadas caídas para secar. Passado algum tempo, por norma 2 meses, incendeiam-se essas árvores. Não havendo praticamente vento na floresta amazónica, a propagação do fogo é efectuada pelo homem. E os efeitos estão à vista de todo o Mundo.
Com o aumento da população e do consumo esta situação tenderá a agravar-se, pois os proprietários latifundiários promovem e provocam a destruição da Floresta Amazónica, com a necessidade de criar pastagens para alimentar o gado, e também para a produção de soja. Segundo alguns especialistas desde a década de 70 já se desflorestou mais de 10 vezes a área de Portugal. Trata-se sem dúvida de um problema político, que só os políticos poderão resolver. E aqui o papel da Comunidade Internacional, nomeadamente a ONU poderá ser não só exigível, mas imprescindível. Se nada for feito para parar esta escalada, perdermos a maior floresta tropical do mundo, com mais de 5,5 milhões e meio de Km2, com a maior área de biodiversidade do planeta, em que vivem 2,5 milhões de espécies de insectos, 40.000 espécies de plantas, 3.000 espécies de peixes, 420 espécies de mamíferos, 430 espécies de anfíbios.

Além disso a Amazónia é uma importante zona de produção de Oxigénio e Carbono, vital para o futuro da Humanidade. Citando Jorge Paiva, Professor e Botânico Português de Coimbra, “ A destruição da Amazónia e das restantes florestas tropicais ao longo dos séculos acentuou-se nas últimas décadas e vai comprometer a sobrevivência da espécie humana, sobretudo nas zonas equatoriais, elas são ecossistemas de elevadíssima Biodiversidade. Não vamos conseguir sobreviver sem essas Florestas.

Se nada for feito, ou muito pouco vier a ser feito, a Humanidade corre um sério e preocupante risco de exterminação da vida humana. Não podemos brincar com o Fogo.

Paulo do Carmo, presidente da Quercus – Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA) portuguesa fundada a 31 de outubro de 1985.

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