Patrícia de Jesus Monteiro é advogada há mais de uma década e fundou o seu próprio escritório – PJM Advogados. Viu a advocacia a mudar, quebrando a ideia fria e inacessível tradicional do advogado, e a entrada na era digital. Nesta entrevista, conta-nos como utilizou a tecnologia a seu favor para ajudar os seus clientes e reflete sobre as desigualdades de género no acesso a cargos de topo, deixando conselhos para as mais novas juristas.
Desde os 11 anos que Patrícia sonhava ser advogada. Ajudar o próximo faz parte da sua essência e, enquanto filha de pais divorciados, sentiu na primeira pessoa a necessidade de uma maior defesa. “Ainda hoje defendo que, por exemplo, na área da família, todas as crianças deveriam ter acesso a um defensor nomeado, independente dos pais, em caso de conflito parental”, afirma.
Em 2009, fundou a PJM Advogados, que se tem tornado ao longo dos anos num escritório de referência. Diferenciam-se, principalmente, pela proximidade ao cliente. “Temos a preocupação constante de aferir todas as informações relevantes para a situação em apreço e, posteriormente situarmos os factos no Direito, analisarmos e delinearmos a melhor estratégia de atuação possível”, explica. Conscientes de que os problemas podem surgir a qualquer momento, estão quase sempre contactáveis, quer por telefone, WhatsApp, SMS, email ou pelas redes sociais. Orgulham-se de primar pela celeridade de reposta às solicitações.
Nos seus 10 anos de carreira enquanto advogada, Patrícia sente que o/a advogado/a deixou de ser visto como um profissional de “difícil trato, intocável, com muitos conhecimentos e com valores de honorários incomportáveis.” Todavia, a maior mudança a que assistiu nesta profissão ainda muito tradicional foi a entrada na era digital. Com a progressiva evolução tecnológica, os cidadãos têm acesso a mais informações e com mais facilidade. Quando se dirigem aos advogados, são mais exigentes e comparam
Assim, o profissional de Direito tem de estar mais preparado, ter conhecimentos atualizados e saber utilizar as novas tecnologias, quer para dar respostas aos clientes quer para desempenhar o serviço jurídico. Ao longo do seu percurso, Patrícia tem se adaptado com sucesso a este novo modelo de trabalho. “Verifico que se obtém muitos benefícios, principalmente para o cliente”, conclui.
Com um clique, os clientes podem procurar na internet a informação que precisam. No entanto, essa informação avulsa carece de uma orientação e de uma confirmação. É neste sentido que a PJM Advogados vai de encontro ao cidadão para lhe apresentar inúmeras situações e alerta para o que pode acontecer ou o que pode prevenir. Recorrendo às redes sociais, partilha conteúdo relativo aos temas da atualidade relacionados com o Direito. “A nossa missão é dar significado e compreensão, explicar, numa linguagem simples, adequada e acessível a todos os cidadãos inúmeras questões que surgem nas diversas áreas do Direito”, elabora.
A PJM está sempre a procurar inovar e melhorar os seus serviços, tendo em conta as necessidades dos seus clientes. No futuro, pretendem desenvolver o departamento de formação e criar um serviço de maior apoio na área de registos e notariados, com profissionais específicos, para complementar o serviço jurídico disponibilizado atualmente. O objetivo é prestar um “serviço jurídico completo de excelência”, para que o cliente consiga, num só lugar, resolver as questões que o preocupam. É importante destacar que este apoio não deve ser procurado apenas quando surgem problemas, mas também num ponto de vista preventivo. “O que acontece, na maioria dos casos, é que o cliente só procura o advogado depois de receber a notificação ou de estar em incumprimento e, neste caso, o profissional limita-se a tentar encontrar a melhor resposta e estratégia de acordo com o que já sucedeu, não conseguindo por vezes ir ao encontro do que o seu cliente deseja”, conta. Por isso, é crucial que o cliente se aconselhe com um profissional antes do problema surgir, facilitando o processo de resolução.
Desigualdade no acesso a cargos de topo
Desde 2006 que a taxa de participação feminina na área da advocacia é superior à masculina. Contudo, poucas são as mulheres em posição de topo nos grandes escritórios. Como mulher num cargo de liderança, Patrícia de Jesus Monteiro reconhece que a área de Justiça nos cargos de topo é ainda muito marcada pela presença masculina. Portugal é “um país muito paternalista, em que o homem é visto como aquele que é capaz de ter uma profissão para sustentar a família e a casa”, ilustra. Continuam a ser atribuídas ao homem como características inatas a capacidade de gerir, liderar, representar e ser objetivo. “Estes advogados ao estarem em determinados cargos também não estão disponíveis para colocarem mulheres que mais, cedo ou mais tarde, irão substituí-los”, revela. Quando surge uma vaga para estes cargos, para além do processo de seleção por vezes ser através de pessoas próximas, mesmo quando há concursos, privilegiam-se os candidatos homens.
Para Patrícia, a escolha devia ser feita através de um processo complexo de seleção de competência, com provas de aptidão e de conhecimentos, de modo a ser escolhido o melhor profissional para o cargo em causa. “Defendo sempre que há profissionais mais competentes que outros, e desvalorizo a questão do género”, acrescenta.
Para além disso, conciliar a vida familiar e a vida profissional é ainda difícil, o que leva muitas mulheres em determinada idade a abdicarem do exercício da sua atividade para darem apoio à família.
Esta desigualdade não se verifica apenas no acesso a cargos de liderança. A justiça portuguesa ainda tem um longo caminho a percorrer no que tange à desigualdade de género, o que se reflete nas decisões/acórdãos dos Tribunais. Tome-se como exemplo o acórdão que, em 2018, manteve em liberdade com pena suspensa dois homens que violaram uma mulher inconsciente na casa de banho de uma discoteca. Ou o acórdão de 2019 em que Neto de Moura relativizou o crime de violência doméstica com o facto de a
vítima ser adúltera.
Patrícia atenta que a crise pandémica trouxe à tona a crise de valores que se encontrava mitigada. Para muitos, esta é uma fase de autorreflexão, que tem alavancado mudanças a todos os níveis incluindo a desigualdade de género. “No nosso escritório somos pessoas muito humanas, que estamos “alerta”, valorizando bastante o papel da mulher que nos chega na nossa sociedade”, diz. Para melhorar a situação sugere que os profissionais de Direito, nomeadamente os advogados, sejam mais independentes, que representem na íntegra o seu cliente, lutando pelo seu superior interesse. “Deverá agir, com verdade, honestidade e confiança e não deve sujeitar-se a outras ideias que não as suas”, explicita.
Para as jovens juristas e advogadas estagiárias que estão a iniciar a sua vida profissional no mundo da advocacia aconselha-as a serem “versáteis, ouvintes, intuitivas, com capacidade multitarefa e sólidos conhecimentos nos projetos que visam abraçar.” Numa altura em que a concorrência é alta e a exigência ainda maior, as jovens juristas e advogadas estagiárias, devem ser idóneas, isentas, saberem subsumir factos ao direito e acompanharem as noticias e jurisprudência atual. Realça esta última parte, como o segredo para o cliente ficar mais satisfeito com o serviço jurídico. “Um cliente satisfeito volta sempre que precisar e recomenda o serviço a outras pessoas”, garante.