A Revista Liderança no Feminino esteve à conversa com Ana Mendes Godinho, atual Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. Nestes últimos quatro anos é percetível o crescimento da economia portuguesa, associado às medidas implementadas pelo Governo. Já no próximo ano, a tutela vai disponibilizar, pela primeira vez, um barómetro das diferenças remuneratórias entre homens e mulheres por empresa, profissão e níveis de qualificação.
Enquanto secretária de Estado do Turismo, Portugal conquistou vários prémios de turismo internacionais. Ter recebido o convite para Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social representa uma responsabilidade acrescida (pelo trabalho que desenvolveu nos últimos anos)?
Foram quatro anos absolutamente extraordinários. Foi com um grande espírito de missão que desempenhei o cargo de Secretária de Estado do Turismo, nesta última legislatura. Conseguimos abrir o mapa turístico de Portugal, promover o alargamento da atividade turística ao longo do ano, diversificar os mercados de origem, inovar na oferta, qualificar pessoas, com o envolvimento de todos. O turismo foi um dos grandes responsáveis pela criação de emprego nos últimos 4 anos, e foi sempre esse um dos nossos grandes objetivos em tudo o que fizemos. Também por isto, é com especial entusiasmo que abraço esta missão no Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.
Portugal tem estado a renovar mínimos de mais de uma década no desemprego. Que evolução tem sido esta?
Portugal tem criado emprego de forma consistente nos últimos anos, o que tem levado a uma grande descida da taxa de desemprego. Nos últimos 4 anos, foram criados 386 mil novos postos de trabalho. Passámos de uma taxa de desemprego de 13,9% em 2014 para 6,1% no terceiro trimestre de 2019, a taxa mais baixa desde final de 2002. Temos praticamente cinco milhões de pessoas a trabalhar em Portugal, neste momento.
O que justifica esta evolução?
Houve uma grande capacidade de recuperação da economia nos últimos 4 anos, em resultado de um clima de confiança e de criação de condições para dinamismo no investimento. Portugal tem crescimento acima da média europeia, e é hoje um “case study” em termos de viragem após anos difíceis de crise, mostrando existir um caminho alternativo ao da austeridade. Paralelamente, Portugal conseguiu demonstrar que o aumento do salário mínimo desde 2015 não teve um efeito negativo na criação de emprego. Pelo contrário. O salário mínimo cresceu cerca de 20% nos últimos 4 anos e foi sempre acompanhado de aumento do emprego.
O aumento do salário mínimo tem particular importância no combate à pobreza, razão pela qual pretendemos continuar esta trajetória de valorização dos salários.
Quais são os maiores desafios para os próximos anos?
Destaco dois grandes desafios que enfrentamos: demografia e desigualdades.
Demografia, porque sabemos a evolução demográfica que temos tido nos últimos anos, e é fundamental criar condições para, por um lado, promover a natalidade, atrair, captar e reter jovens e talento, e, por outro lado, promover a formação ao longo da vida e o envelhecimento ativo e saudável da população. Por isso estamos a fazer uma forte aposta em medidas direcionadas ao apoio às famílias, à parentalidade, aos jovens, ao reforço dos equipamentos sociais e à qualificação – de que a proposta do Orçamento do Estado para 2020 já é reflexo. Desigualdades, porque o combate à pobreza e às desigualdades é condição para a paz social. Por isso, elegemos como prioridade a promoção do diálogo social e a implementação de uma estratégia concertada e articulada e combate à pobreza.
É possível combater a desertificação do interior?
Acredito que é possível combater a desertificação do interior, através de medidas ativas de discriminação positiva para atração de pessoas e de investimento para os territórios.
Nos últimos 4 anos, o turismo foi exemplo desta capacidade de alargamento da atividade ao longo do território, com programas específicos criados para abrir o mapa turístico de Portugal.
Neste Governo, optámos por ter a Secretária de Estado da Ação Social no interior do país precisamente como uma forma de garantir o contacto permanente e a capacidade de identificar as medidas que temos de implementar para responder aos desafios específicos desta área vital para os territórios de baixa densidade. O peso da economia social é determinante nos territórios do interior, nomeadamente na Guarda, que apresenta grandes desafios relativamente às questões demográficas e às desigualdades sociais e onde é essencial o papel das políticas públicas de promoção da natalidade, envelhecimento ativo e captação e fixação de novas populações. Também como reflexo desta aposta em medidas dediscriminação para o interior, destaco o programa
que vamos lançar em 2020, “Trabalhar no Interior”, com incentivos e medidas especiais.
O que é mais desafiante, enquanto Ministra do XXII Governo Constitucional?
O mais desafiante é criar uma relação de confiança entre o Estado e os cidadãos e as empresas para que se canalizem todos os meios para responder aos desafios e situações concretas das pessoas. Estar sempre em espírito de missão e de serviço público. Ter a capacidade de fazer acontecer e ver os resultados na vida das pessoas, das empresas, dos territórios. Com a permanente consciência de que podemos fazer sempre melhor.