MOMENTOS DE ADVERSIDADE POTENCIAM A CRIATIVIDADE E GERAM INOVAÇÃO

Anabela Braz, Coach & HR Adviser
Anabela Braz é Coach & HR Adviser, com experiência consolidada em Recursos Humanos, um forte know-how em diversos setores do mercado e serviços profissionais. Em conversa com a Revista Liderança no Feminino, deu o seu contributo face à situação atual que não só o país, mas o mundo em geral atravessa.

AS NOSSAS CRENÇAS SÃO COLOCADAS EM CAUSA

Com especialização em parceria de negócios e especialista em diversas disciplinas de Recursos Humanos (RH) em ambientes nacionais e internacionais, Anabela Braz demonstra uma sólida capacidade de trabalhar entre jurisdições, em diferentes estruturas organizacionais.

Numa análise preliminar sobre o impacto do novo coronavírus na sociedade, Anabela aborda a crise económica que vivemos em Portugal, como idêntica ao que observamos noutros países. O COVID-19 originou uma perceção e interpretação da realidade atual baseada na ansiedade, medos e incertezas. Este vírus invisível aos olhos, veio pôr em causa as nossas crenças, gerando um sentimento de impotência.

Facto é que algumas das consequências serão ao nível da saúde, do emprego, das condições de trabalho, da qualidade de vida das pessoas, das formas de estar no dia-a-dia e, inclusivamente, da situação climática do planeta.

O que está a acontecer, hoje, não é mais do que o “retorno” de tudo o que fizemos até agora, explica. A crise irá agudizar-se antes de entrar em recuperação. Anabela Braz refere que devemos aproveitar esta pausa forçada para analisar como chegámos até aqui e o que queremos para o futuro. Delinear o mapa e, logo que possível, pôr pés ao caminho.

O POSSÍVEL IMPACTO NAS PMES

Enquanto coach profissional e com experiência no ramo dos RH, Anabela Braz vê as PME’s como a representação da maior parte do tecido empresarial em Portugal e a área de maior empregabilidade do país. Assim sendo, acredita que as mudanças que se têm vindo a introduzir, nos últimos anos, sobre o posicio- namento das empresas, relativamente, às estratégias de gestão de recursos humanos demonstram sinais bem claros de evolução.

“CUIDAR DAS PESSOAS”

O que esta pandemia nos deu a ver é que ainda temos um caminho a percorrer e isso é bom, pois significa que estamos no rumo certo. Anabela partilha ainda uma recomendação, como já alguém disse: “cuidem das vossas pessoas, elas são o garante do sucesso de negócio”. As empresas têm, neste momento, a oportunidade de realizar um exercício de análise sobre a sua cultura e adaptar-se à nova realidade, quer pelo contributo que podem dar para a comunidade, pelo que devem deixar de fazer e, o que falta colocar em prática.

AS PME’S PODEM APROVEITAR PARA COLOCAR PERGUNTAS SIMPLES, MAS PODEROSAS: “O QUE APRENDEMOS COM ISTO?”, “O QUE QUEREMOS EM VEZ DISSO?”
E A QUESTÃO MAIS DESAFIANTE: “COMO GARANTIMOS QUE ISSO PASSA A INTEGRAR A CULTURA?”

Numa sugestão, agora dirigida aos gestores das empresas, Anabela recomenda que partilhem as suas experiências, as suas boas práticas e as suas lições aprendidas. Este momento de pausa criou as condições ideais para estabelecer ligações e fazer aquilo que antes, por falta de disponibilidade, não conseguíamos fazer. Colocar de lado as estratégias de concorrência e unir esforços perante o verdadeiro concorrente económico atual: COVID-19. Os momentos de adversidade potenciam a criatividade e geram inovação. Um desafio que lança passa por criar uma plataforma de partilha do conhecimento para o sucesso de todos e, registar as vivências deste período para referência futura.

É PRECISO AGIR, REALINHAR, SER COLABORATIVO E COMUNITÁRIO

É claro para todos que é necessário evitar o descalabro económico. Para tal, o verbo da ordem do dia é «AGIR». Agir em conjunto, olhar não somente pelos colaboradores, mas igualmente contribuir para a comunidade onde as empresas estão inseridas, em conjunto com os clientes, parceiros, fornecedores e entidades com quem interagem.

O espírito deve ser colaborativo e comunitário. A palavra que mais se tem ouvido é «solidariedade», voltámos a ser solidários. Isso é claro.
Temos várias entidades e empresas que também se realinharam e interagem para produzir outros produtos: viseiras, máscaras, gel higienizante, entre outros.

Muitos, e cada vez mais, são os exemplos. Para Anabela, isso demonstra que temos a capacidade de mudar as coisas, que somos capazes de rapidamente nos adaptar face às circunstâncias. Temos sucesso no curto prazo.

Anabela Braz reforça que é importante colocar foco nas medidas a médio e longo prazo, de apoio à saúde, melhoria das condições de vida e zelar pelo que é essencial para viver e não para sobreviver. Gerir as nossas pessoas para evitar ter de contar o dinheiro no final do mês.

Com fortes habilidades de liderança e capacidade comprovada de estabelecer relacionamentos com a empresa, Anabela foca na importância de zelar pela qualidade vida dos colaboradores para que a frase: “Tenho de trabalhar”, passe a ser “Gosto do que faço”.

É VITAL QUE OS GESTORES ESCUTEM AS SUAS PESSOAS

A motivação dos colaboradores é de extrema importância e sabemos que os índices de produtividade e os resultados de negócio dependem de quem trabalha para nós. Para isso, é vital que os gestores, realmente, escutem as suas pessoas, para as conhecerem, saberem o que as move, o que pretendem para a sua carreira e definirem estratégias de gestão centradas nas pessoas. Não bastam discursos sobre o tema, é necessário e devemos passar à ação. Senão serão palavras que o vento leva e nada fica.

No entanto, Anabela também sublinha que a responsabilidade sobre o que queremos, não depende somente dos gestores. Os colaboradores têm, igual- mente, um papel determinante no estabelecimento destas novas estratégias e em procurar ser parte integrante na definição de metas e processos. Todos, enquanto colaboradores, não podemos demitir-nos do nosso papel.

É IMPORTANTE REFLETIR SOBRE VALORES E SOBRE O QUE REALMENTE IMPORTA

Anabela considera ainda que as metas de negócio são fundamentais para ultrapassar esta crise. Torna-se necessário aproveitar a paragem forçada para refletir sobre os valores e o que realmente importa. Realça que não estamos sozinhos e que o exercício da cidadania é fundamental, tal como a solidarieda- de é essencial e, a sustentabilidade, indicador de su- cesso dos objetivos traçados.

Estas ações poderão implicar:
1. Reagrupar: Rever as atuais metas e ajustar à nova realidade;
2. Redefinir: as metas a médio e longo prazo para gerar sustentabilidade;
3. Re-focar: Envolver ativamente os colaboradores no estabelecimento dessas metas;
4. Reorganizar: Rever as políticas de RH em linha com as alterações introduzidas.

Por fim, pensar novamente os princípios da Visão, da Liderança e da Gestão de pessoas.

A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS

Existe uma Responsabilidade Social Corporativa e Empreendedora nos seus diferentes eixos e, como tal, é necessário implementar efetivamente diferen- tes ações.

Ao compreender o que estamos a viver, podemos tirar partido das sinergias e cooperação e gerar criatividade e inovação. Ajustar o foco, para adaptarmos às novas circunstâncias.

De acordo com a expert, o coronavírus mostrou ao mundo que objetivos exclusivamente baseados na obtenção de lucro não beneficia nada, nem nin- guém. Sejamos ricos ou pobres, estamos todos de forma igual vulneráveis ao contágio.

Para Anabela, um maior equilíbrio entre objetivos financeiros e de responsabilidade social levará a maiores lucros. A recuperação económica virá ligada à responsabilidade social: Negócio, Saúde, Emprego, Educação/Formação e Ambiente.

É IMPORTANTE INTEGRAR A RESPONSABILIDADE SOCIAL NO ADN DAS EMPRESAS

Como tudo na vida, existe um lado positivo, e temos, neste momento, as condições mais favoráveis para as empresas exercerem a sua responsabilidade social. Temos excelentes exemplos, desde empresas que deixaram o seu negócio habitual para produzir produtos necessários a todos; alterações dos tempos de trabalho (redução, alterações de turnos, ro- tatividade); introdução de novas formas de trabalhar (como o teletrabalho); maior preocupação nas questões de higiene e segurança no trabalho (menos horas, maior espaço entre postos de trabalho, regras de higienização). E estas reduções já estão a ter efeitos no nosso clima (redução da emissão de CO2 e da poluição em geral).

O desafio, para Anabela, será: “Conseguirão as empresas, aproveitar o momento e integrar a Responsabilidade Social no seu ADN?”

PARAR, AVALIAR E, EVENTUALMENTE, REINVENTAR

Tempos difíceis se avizinham, mas para todos. Eventualmente, muitos trabalhadores independentes enfrentarão dificuldades para voltar às suas atividades profissionais. Existem medidas de apoio social também para estes profissionais e que também foram contemplados pelas medidas do Governo, di- vulgadas recentemente. À semelhança dos restantes agentes económicos, deverão parar para avaliar o seu estado e, eventualmente, reinventarem-se para prosseguir o seu caminho.

ESTAMOS NUMA FASE EM QUE DEVEMOS PENSAR POSITIVO E UNIR ESFORÇOS

Anabela, que tal como muitos de nós nunca imaginou viver uma situação de pandemia, refere que durante as últimas semanas tem sentido a saudade de um abraço, de um beijo, de dar a mão, de passear, de tomar café numa esplanada, de estar com a família e com os amigos. Afirma que hoje, sente falta daquilo que sempre deu por adquirido, até nas mais pequenas coisas.

Para além da desinfeção das mãos, a coach recomenda também desinfetar a mente das crenças limitantes, que nos impedem de atingir toda a nossa máxi- ma capacidade.

Reforça ainda que não é tempo de reclamar, não é tempo de intolerâncias, de apontar de dedos e de culpabilização. Já que a vida nos obrigou a esta pa- ragem, devemos aproveitá-la para pensar positivo, refletir sobre as nossas escolhas de vida e desejos futuros. Devemos unir esforços.

É TEMPO DE ACREDITAR E DE FAZER ACONTECER

A executiva e coach de equipas, resume esta conversas como o resultado de um contributo de vivências de pessoas que lhe são próximas e trabalham em diferentes áreas: Saúde, Educação, Indústria, Formação, Turismo, Terapias e, indica que aprendeu que o sentimento é igual, os medos são os mesmos e a in- certezas são comuns.

Contudo, também é comum o desejo de sair mais forte, de ultrapassar este momento e voltar à normalidade, sabendo que o conceito de normalidade não será igual ao anterior.

Termina com um agradecimento a Isabel, Lígia, Ana- bela, Inês, Raquel, Paula, Ana Filipa, Bruno e Ricardo, por contribuírem de forma enriquecedora para esta conversa.

Agora temos tempo para estar em recolhimento, fazer tudo aquilo que antes, por falta de tempo, fomos adiando. Não adiemos mais, é tempo de seguir vi- vendo e ACREDITAR que sim… «Vai correr tudo bem» e, está nas nossas mãos o Poder de Transformação e de Fazer Acontecer, porque afinal estamos todos no mesmo barco.

Email: AMSBCoach@gmail.com