Beatriz Camacho, desde sempre esteve ligada ao meio associativo. Começou na
associação fundada pelo seu pai, onde passou grande parte do tempo da sua infância, passou pelo escutismo, e, mais tarde, por organizações de intervenção social e juvenis. Iniciou o seu caminho no Conselho Nacional de Juventude – CNJ em 2016, quando entrou para a direção da associação juvenil da qual faz parte, longe de imaginar que em 2020 seria eleita para a direção do CNJ como representante dessa mesma organização. Desde então, tem assumido o compromisso para com esta missão de grande responsabilidade que é ser uma das representantes dos jovens portugueses.
Há 37 anos a Assembleia da República confiou no Conselho Nacional de Juventude -CNJ a representação de todos os jovens, e, com base nesta missão, o CNJ tem, ao longo dos anos, cumprindo com a sua responsabilidade de ser uma plataforma onde estão representadas organizações juvenis nacionais com as mais diversas expressões de associativismo desde associações culturais, ambientais, escutistas, partidárias, sin- dicais, juniores de empresas e federações estudantis (entre outras) cada uma delas com os seus pontos de vista e posições.
Tendo em conta esta diversidade e o espaço de diálogo que construíram e que querem manter, nem sempre é fácil agregar as diferentes visões, mas é precisamente nesta diversidade que encontram a sua força, conseguindo consensos naquilo que os une: o superior interesse dos jovens que representamos.
No CNJ a juventude fala por si, sendo os jovens representados, efetivamente, por jovens, falam por todos, com um posicionamento claro sobre uma política de juventude que se quer transversal, transsetorial e inclusiva. Os jovens, querem que a sua perspetiva seja tida em conta em todas as políticas, “queremos acesso aos nossos direitos e garantir a participação efetiva em todos os temas que nos dizem respeito.”
O último mandato, como não podia deixar de ser, foi profundamente marcado pela pandemia.
Acompanharam de perto as problemáticas que lhes iam chegando através dos jovens e das organizações membro do CNJ. Preocuparam-se não só com as consequências diretas e imediatas, mas também com a consequente crise económica e social que se seguiu e acentuou as fragilidades, já existentes, dos jovens portugueses. A geração mais jovem foi das mais sacrificadas pela pandemia, a mais afetada em termos de impacto no seu bem-estar e saúde mental; a que mais viu os seus empregos e perspetivas de emprego serem destruídos e a sua educação e formação ser afetada, não só em termos de qualidade no ensino, mas também no acentuar das desigualdade no acesso ao ensino à distância.
No momento em que o país preparava a sua recuperação económica e social o CNJ disse presente, mostrando que as gerações jovens teriam de ser tidas em conta. A Direção do Conselho Nacional de Juventude com base numa auscultação realizada aos jovens portugueses, apresentou um pacote de propostas de medidas “Por uma recu- peração económica e social da juventude”. Este pacote tem como objetivo oferecer soluções concretas e de rápida concretização, cujo impacto positivo na vida de milhares de jovens será tremendo caso sejam aplicadas.
O CNJ fez questão de lembrar ao país que a ju- ventude é umas das peças chave para a sustentabilidade económica e social a médio e a longo prazo. São a geração mais qualificada de sempre, nasceram no digital e têm maior propensão para desenvolver tecnologia que permite ao país ser mais competitivo tecnologicamente e querem contribuir para o desenvolvimento social e económico do país. No entanto, é necessário que o país faça esforços para aliciar os jovens talentos a fixarem-se em Portugal de forma a poderem contribuir para o desenvolvimento social e económico. Assim, propuseram também uma Agenda para a Natalidade que reflete um compromisso transversal para com as gerações ao englobar um conjunto de medidas articuladas e integradas que permitam à juventude alcançar a segurança e independência financeira para que se possa emancipar e escolher iniciar família.
Esta é uma agenda que não se centra apenas em medidas que promovem o aumento da natalidade em si mas que pensa esta transição de forma transversal com impacto na sociedade no seu todo. Desta forma, contribuem também com soluções para que o país possa reverter o envelhecimento generalizado da população e a baixa taxa de natalidade portuguesa, uma das mais baixas a nível mundial, por sinal.
Outra das preocupações sempre presente no trabalho que o CNJ tem desenvolvido é a baixa participação política da juventude nos atos eleitorais. A maior parte dos jovens não se revê nos discursos políticos e não se sente representado, afastando-se dos modelos formais de participação e optando por participar de outras formas, igualmente válidas, mas não formais como as eleições.
Tendo em conta esta problemática criaram o “Politicamente Desperto”, um projeto inserido no Programa Cidadãos Ativos da Fundação Calouste Gulbenkian, com três eixos de atuação: conhecimento, capacitação e informação. Com este projeto propuseram-se a conhecer de forma mais profunda como é que os jovens participam e quais são as barreiras que eles próprios identificam à sua emancipação e participação. Outro dos aspetos importantes neste projeto é a capacitação, estando previstas sessões de capacitação em literacia democrática onde se pretende uma maior formação, informação e envolvimento dos jovens sobre as questões da democracia, ou seja, o nosso sistema político-partidário, sistema governativo e o sistema legislativo ao nível local, nacional, regional e global. Estando conscientes que a forma como é apresentada e transmitida a informação influencia a forma como os jovens participam, este projeto levou também a cabo campanhas de apelo ao voto desenhadas de raiz e adaptadas ao público jovem. Por outro lado, e para garantir que o conhecimento adquirido no âmbito do projeto informe e influencie as políticas públicas, será desenvolvido um policy paper sobre emancipação e participação jovem e que será apresentado e discutido com decisores políticos e as instituições de forma transversal.
Ao longo do seu percurso na direção do CNJ tem dedicado muito do seu trabalho ao pelouro da Educação não Formal, sendo responsável pela bolsa de formadores/facilitadores. O CNJ foi uma das primeiras organizações em Portugal a ter uma bolsa de formadores/facilitadores, composta por pessoas jovens de vários pontos do país, que implementam e multiplicam a ação e os processos educativos do CNJ, em contextos de educação não formal. A bolsa é também um espaço de capacitação entre pares, uma comunidade de aprendizagem e práticas onde cada jovem pode desenvolver-se e crescer em termos de formação/ facilitação e desenvolvimento pessoal.
A educação não formal é a principal metodologia de trabalho utilizada pelo CNJ no tra- balho com os jovens e é através da bolsa que levam para dentro das escolas e outras instituições metodologias ativas e dinâmicas que focam a aprendizagem na experiência de cada jovem e do grupo e que são, muitas vezes, mais efetivas em termos de aprendizagem, causando um maior impacto e mudança de comportamento.
Uma aprendizagem verdadeiramente transformadora. Tendo em conta a importância para a vida dos jovens das competências adquiridas através de experiências vividas com base em metodologias de educação não formal e de momentos de educação informal, o CNJ tem reivindicado uma maior valorização e certificação destas competências. Desta forma, acreditam que é necessário apostar num sistema de validação nacional para que estas competências possam ser formalmente reconhecidas e valorizadas, pois são um aspeto diferenciador na entrada para o mercado de trabalho.
No ano passado realizaram a I Escola Nacional de Educação Não Formal, um evento pioneiro que juntou no município de Ovar, professores, técnicos de juventude e jovens de todo o país com o objetivo de capacitar novos e diferentes públicos nas metodologias de educação não formal reforçando a ideia de que, cada vez mais, deverá de haver uma complementaridade entre educação formal, não formal e aprendizagem informal. Este evento esgotou em termos de inscrições, tendo em conta a capacidade previamente prevista, o que significa que existe grande interesse no tema, tanto por parte dos jovens, como por parte dos professores e técnicos de juventude que querem inovar nas metodologias utilizadas no seu trabalho com os jovens. No final do evento, com base nas discussões e debates realizados, saíram com a certeza reforçada de que é necessário levar a cabo uma atualização do sistema educativo que olhe para as competências para o futuro, repensando os modelos de ensino-aprendizagem para que se promova uma adaptação digital aliada ao pensamento crítico e à aquisição de competências para a vida.
Olhando para o futuro, os próximos anos serão certamente muito desafiantes para a juventude. A começar pela nomeação do ano de 2022 como o Ano Europeu da Juventude, proposto pela Co- missão e aprovado pelo Parlamento Europeu e Conselho, que veio mostrar que as instituições europeias estão atentas aos problemas dos jo- vens e reconhecem que o período de pandemia que atravessamos foi particularmente difícil e que é importante estabelecer pontes e diálogo com todos os jovens, incluindo aqueles que perten- cem a grupos mais vulneráveis, de forma a que as suas preocupações possam ser tidas em conta na construção de um projeto comum da União Europeia.
O que o CNJ deseja é que este ano venha trazer uma luz às instituições europeias, nacionais e lo- cais para que permitam uma participação efetiva da juventude nos processos de decisão a todos os níveis, criando compromissos solidários com a gerações vindouras.
Sendo também as Jornadas Mundiais de Juventude que receberão em Portugal jovens de todo o mundo, pondo em contacto jovens de diferentes culturas que têm como objetivo comum construir um mundo mais justo e solidário numa clara mensagem de união e fraternidade entre os povos, tendo a juventude como principal protagonista.
Sem dúvida que os próximos anos trarão vários desafios, para os quais estarão prontos para responder em nome da juventude. Beatriz continuará empenhada no seu trabalho de manter o legado que o CNJ tem vindo a construir nomeadamente na defesa dos direitos da juventude, na construção de políticas públicas de juventude e na exigência de um futuro mais ecológico e mais inclusivo para as novas gerações, onde nenhum jovem é deixado para trás.