Começou por versar Línguas e Literaturas Modernas, passou pela aviação enquanto assistente de bordo da TAP – “um mundo sedutor e com glamour” –, mas que lhe não preenchia o seu desejo de “fazer coisas” ou de se “entregar a algo”. Seguir-se-ia uma experiência no secretariado executivo financeiro, tendo desempenhado a função durante 14 anos, até chegar ao topo da carreira com apenas 30 de idade. Aventurou-se em novos voos, nomeadamente na área da gestão, onde venceu definitivamente o receio dos números. Esta é (parte) da história de Ângela Veras, diretora da LOGO desde março de 2020, no preciso momento em que a pandemia se alastrou pelo mundo e obrigou a reformular todos os esquemas e organizações empresariais.
Na hora de escolher a área de formação académica superior, Ângela Veras apostou numa área pela qual sentia um particular gosto e facilidade em aprender: Línguas e Literaturas Modernas. A noção de que a comunicação e a dinâmica linguística podem aproximar os indivíduos atraiu-a, sendo que, mesmo depois dos estudos universitários, frequentados em regime laboral, continuou a cursar línguas. No entanto, no seu horizonte, não se vislumbravam muitas saídas profissionais, pelo que a vontade em sair da sua ‘zona de conforto’ levaram-na a “querer saber mais e conhecer outras experiências. (…) O fato de ter tido sempre oportunidades de desafios e crescimento disponíveis foram-me sempre levando de um interesse a outro. E o fato de nunca parar de ter formação faz-nos descobrir novos gostos”, confidencia-nos.
Iniciou o seu percurso profissional como assistente de bordo da TAP, o qual se revelou uma “vivência muito interessante”, principalmente quando se tem 18 anos, mas Ângela Veras garante-nos, não obstante, que “não tinha perfil”. Segundo refere adiante: “Gosto de fazer coisas novas, diferentes. (A aviação) É um mundo sedutor e com glamour, mas sentia necessidade de ‘fazer coisas, de se ‘entregar a algo”. Entretanto, encontrou no secretariado executivo financeiro, já que ambicionava “uma rotina mais assente em terra” – literalmente –, por não suportar “fazer uma mala de viagem todas as semanas”. Atingiu a meta que delineou para si mesma e desempenhou a mesma função durante 14 anos, atingindo o topo da carreira aos 30 anos. Nesse momento, constatou que não se sentia realizada: “Apenas produzia para os outros, eu não via ‘obra’, realização, de atos meus.”
Seria então aí que, gradualmente, transitaria para o mundo da gestão: “Na realidade foi um grande desafio, o medo dos números foi uma grande meta a ser ultrapassada”, relembra. De fato, os números são uma constante na carreira de Ângela Veras, principalmente nesta fase. A primeira campanha comercial que geriu pessoalmente foi uma pequena iniciativa de telemarketing que decorria das 18H00 às 22H00; de seguida, embrenhou-se no mundo online, onde se incluem inúmeras ferramentas e competências inovadoras, sempre em constante reformulação: “Tudo a pensar em como reage o consumidor, se se torna cliente e, de seguida, como o manter com a marca.”
Seguiu-se a primeira gestão de campanhas digitais segmentada em pequenos nichos de mercado, a qual envolveu “um orçamento de 16.000 euros, a seguinte foi de 160.000 euros e por aí fora, até chegar ao grande investimento em campanhas de televisão, rádio, entre outras.” Posteriormente, assumiria a responsabilidade de campanhas massivas, com “trabalho coordenado de gestão entre as agências de performance de marketing digital, as agências de media e de comunicação, as agências de conteúdo e de criatividade.” Neste universo, indica que existe “todo um mundo a gerir, a orientar e de ensinamentos a receber (…) fundamentais para que consigamos desenvolver um bom trabalho e atingir os resultados.” Neste intenso percurso profissional, Ângela Veras desempenhou e acumulou, simultaneamente, funções para duas marcas, o que considera “uma grande mais-valia. (…) Implementar um know how do modelo de negócio de forma totalmente distinta, quer pela marca e as suas especificidades, como pela maturidade e mindset das pessoas.”
Numa breve análise das características e atributos que a distinguem enquanto profissional, a atual diretora da LOGO confessa a sua “resiliência, a vontade de fazer acontecer, o desenvolvimento do negócio, das equipas, da organização, um elevado nível de motivação, o estabelecimento de objetivos muito concretos e o envolvimento de cada um individualmente, a sua responsabilização.” Da mesma forma, defende categoricamente “a assertividade e a eficiência na gestão dos temas, sempre com o enfoque em encontrar soluções, a partilha contínua de melhores práticas e o feedback positivo, com reconhecimento e meritocracia devidos.” No sentido oposto e enquanto diretora e líder de equipas, Ângela Veras salienta que permanece o mesmo “desejo de fazer acontecer, de produzir de forma eficiente, a entrega, a capacidade de dar o extra mile e a cooperação são os atributos que mais valoriza nos profissionais com quem trabalha, aos que acrescem a “aceitação dos desafios e a capacidade de saírem da sua ‘zona de conforto’.”
Em 2019, Ângela Veras completou dez anos na LOGO, a empresa onde exerceu diversos cargos, evocando uma “viagem de desenvolvimento pessoal e profissional, um crescimento de função em função, já que em cada uma aprendizagem própria e quando essa função estava a atingir a ‘velocidade de cruzeiro’, veio a próxima. (…) Cada uma interligou-se na seguinte, permitindo-me ter o know how transversal da empresa e da marca que me levou à posição atual.” Segundo outro prisma, cada nova função exigiria formações sólidas nas respetivas áreas, entre as quais o marketing digital, a negociação, a liderança, a gestão de projetos e o desenvolvimento pessoal.
No caso específico do marketing (sobretudo, na componente digital), Ângela Veras considera-o “fundamental” para todas as marcas, inclusive para aquelas cuja “marca é una com o produto”, tal como a LOGO: “O ponto inicial de qualquer marca é o seu produto e/ou serviço e sem marketing é impossível darmo-nos a conhecer. O alinhamento estratégico entre a marca (e o produto), o marketing e o digital tornam-se essenciais para a concretização dos objetivos e obter uma marca e um negócio vencedor. A identidade de marca, o tom de comunicação, a experiência dada ao consumidor (e comentada pelo mesmo), a promessa do que dizemos que vamos entregar é fundamental.” Tudo deve ser executado de modo “genuíno”, de modo a satisfazer os clientes e os vários stakeholders.
Esta vertente da comunicação assumiu especial interesse a partir de março de 2020, aquando o início da pandemia, coincidindo a tomada de posse de Ângela Veras como diretora da LOGO. O facto de tratar-se de uma “marca de narrativa digital” tornou o “desafio menor”, mas foi necessário “desenvolver mais rápido os projetos de digital que já estavam pensados. (…) Contamos com o apoio de todas as equipas que nos rodeiam, sem a grande disponibilidade e resiliência das equipas e da organização não teria sido possível.” Contudo, o maior desafio seria garantir “a gestão das pessoas à distância. (…) Temos de conseguir motivar, liderar e garantir o alinhamento e prossecução dos objetivos com o bem-estar de todos. Pressentir as dificuldades de cada um e encontrar forma de ajudar a resolver ou pelo menos contornar, sem ser intrusivo.”
Por conseguinte, “reinventar” tornou-se, portanto, a palavra de ordem, dado que as dinâmicas das reuniões, as happy hours, as apresentações e-learning, as partilhas de experiências, os workshops e os brainstormings foram profundamente alterados, como se sabe.
Um ano volvido desde então, Ângela Veras enfrenta outro desafio contínuo enquanto mulher num lugar de liderança, o que implica “termos de nos esforçar muito para chegarmos onde pretendemos.” Apesar de existirem situações em que o género é uma questão positiva, nomeadamente “quando as características femininas ajudam a lidar melhor com as experiências, com os feelings e as pessoas”, mas a realidade quotidiana ainda pertence a um “mundo profissional masculino, acima de tudo pelo histórico e pela área financeira” onde a LOGO se posiciona.
Apelando permanentemente à mudança, a LOGO tem realizado “muitos recrutamentos femininos, quer em estágios como em lugares de topo e a equidade de género encontra-se nos temas que a organização endereça. (…) Sendo sinais muito positivos para que o facto de ser mulher no mundo profissional seja um orgulho.”