Aida Chamiça, a primeira portuguesa a alcançar o Master Certified Coach pela ICF

Aida Chamiça foi a primeira portuguesa a alcançar o Master Certified Coach pela ICF. 

 

Aida Chamiça

O que senti na altura foi uma mistura de orgulho, gratidão e humildade. Orgulho por ter posto Portugal no mapa dos coaches certificados ao nível master pela ICF (só há cerca de 750 MCC no mundo inteiro), gratidão pelos clientes que confiaram em mim, pela oportunidade de me formar em escolas de coaching com reputação internacional, e humildade pelo muito que tenho para aprender.

Como definiria a sua profissão?

Esta é uma profissão ainda em draft. Não estando regulamentada, nada impede que alguém que fez uma formação de 2 dias se coloque no mercado com o título de master coach por uma qualquer entidade desconhecida, ao mesmo nível que um profissional que fez centenas de horas de formação, exames de elevado rigor, formação contínua e muita experiência. É a reputação que vai sendo criada que vai separando o trigo do joio, mas isso não impede que haja ainda muitas pessoas que acham que o coaching é uma espécie de aconselhamento (muito pelo contrário, o coaching consiste em apoiar o cliente na tomada de decisões que são suas, utilizando a sabedoria de que dispõe e que é sempre muito vasta). No livro Break Heaven recentemente editado, procurei partilhar histórias de coaching executivo que ajudem a ilustrar de que forma funciona a ativação de potencial em coaching, e como se dá a transformação, sem que o coach interfira nas decisões e escolhas do cliente.

A sua experiência internacional como coach, permite-lhe criar novas metodologias. Portugal está bem posicionado no coaching ou começa a dar os primeiros passos?

Portugal já tem mais de uma década de experiência formal em coaching. Eu frequentei o primeiro curso certificado pela ICF, trazido de França pela Catherine Tanneau e Anne Petit, em 2003. Desde aí muito se tem evoluído. Há cada vez mais informação. Há muitos Diretores de Recursos Humanos que se formaram em coaching, tendo alguns deles formado equipas de coaching internas para possibilitar o acesso ao coaching aos níveis da pirâmide que não têm funções de lidrança (os restantes níveis são normalmente assegurados por coaches externos). A Supervisão em Coaching começa a ser vista como algo inevitável para assegurar a nivelação por cima da qualidade do coaching profissional. As equipas de coaching internas têm normalmente um Coach Supervisor externo e os coaches externos começam a investir seriamente na Supervisão como mais um fator de evolução e diferenciação, num mercado cada vez mais confuso, pela proliferação de pessoas e atividades que se dão a conhecer como coaches/ coaching.

A variação no ponto de observação (de cada situação do dia a dia) é sinónimo de mudança?

Ao alteramos o ângulo de observação, acedemos a informação nova. Vemos a realidade de forma diferente. E a mudança começa quando nos abrimos a uma nova realidade. Há experiências de vida que nos levam a questionar a forma como olhávamos o mundo. São experiências transformadoras. Por exemplo, alguém que é racista, ter uma experiência de ser ele próprio tratado como uma raça inferior, numa viagem por outra cultura, pode sofrer uma transformação estrutural no seu sistema de crenças. Há experiências do dia a dia que, não sendo por si só transformadoras, podem ser oportunidades para nos questionarmos e progredirmos na direção da mudança que desejamos. Ao adotarmos um novo olhar, acedemos a novas possibilidades que não conseguíamos ver antes, ainda que sempre tenham estado lá.

Para si o que é a liderança?

Não tenho um conceito fechado de liderança. Na minha atividade profissional, acompanho em coaching lideres com estilos, convicções e comportamentos muito diferentes. Todos têm desafios e áreas em que querem ir mais longe. Esse é o traço comum que encontro nos bons líderes: nunca se acomodam e acreditam que ao melhorar as suas competências de liderança, contribuem para a formação de equipas mais autónomas, colaborativas e maduras. Noto que quanto mais autênticos, mais inspiradores, mais fortes e mais abertos à mudança são.

Como podemos ser bons líderes?

Abraçar e integrar as vulnerabilidades, em lugar de as esconder ou ignorar, faz parte do caminho de autossuperação. Um líder inteiro é mais forte, mais inspirador e mais capaz de lidar com as vulnerabilidades dos outros com compaixão (a par da curiosidade, uma das competências que tem sido considerada chave para o líder 2020), encontrando formas criativas de trazer ao de cima o que há de melhor na sua equipa.  Um bom líder sabe que é uma obra em construção e inspira nos outros uma growth mindset (convicção de que podemos aprender ao longo da vida, não nos resignando às competências naturais a que acedemos com facilidade). É um Líder-coach, que investe em ativar o potencial da sua equipa, apostando no seu crescimento e amadurecimento.