A urgência imperiosa de lideranças intermédias e do planeamento das sucessões nas organizações do setor público

Cátia Ferreira Vogal do Conselho de Administração do serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira

O futuro e a sustentabilidade das organizações do setor público passa inequivocamente pelo  compromisso com a formação e a valorização de profissionais altamente diferenciados do ponto de  vista humano, profissional e ético, de forma a posicionarem-se como organizações da Era do  Conhecimento, com uma maior eficiência e eficácia no cumprimento da sua missão e objetivos  económicos e sociais.  

As organizações da Era do Conhecimento caracterizam-se por assumirem, sem preconceitos, uma  cultura de aprendizagem, procurando sempre perceberem o ambiente que as rodeia, adaptarem-se,  evoluírem e renovarem-se continuamente, alavancando-se na capacidade de transformar o seu maior  ativo intangível – o conhecimento do capital humano – nos resultados organizacionais desejados. 

Desta forma, a existência de líderes em todos os níveis e em todas as áreas da organização é  fundamental para se obter uma cultura organizacional robusta, promotora do progresso, consistente em todos os pontos de contacto e um fator acelerador da prática de inovação e  obtenção de resultados.  

Estes devem ter o estilo de liderança que realmente interessa ao mundo atual: líderes centrados em  princípios, que inspirem, que sejam de confiança a partir da integridade e dos exemplos colocados  em prática, saibam comunicar, esclareçam propósitos, libertem os talentos dos que os rodeiam e  alinhem sistemas entre todos os stakeholders.  

Atualmente no setor público, apenas “aparecem” os líderes que têm inerentes cargos cuja função  envolve a tomada de decisão. Não é frequente a distribuição de lideranças e por isso são dadas poucas  oportunidades e autonomia aos elementos das equipas para se afirmarem também como líderes de  confiança, capazes de apoiar na execução da estratégia, o que atrasa o aparecimento de resultados. 

Se pensarmos no setor privado, o oposto ocorre. O incentivo ao crescimento e desenvolvimento  destes líderes intermédios ocorre desde o primeiro dia.  

Assim sendo, mais do que nunca nas organizações do setor público torna-se imperativo captar, reter  e gerir novos talentos de forma a alinhar os objetivos individuais com os organizacionais. A base da  gestão das organizações do setor público deve passar a estar assente em processos humanos que  criam ambientes propícios à construção do conhecimento, ao desenvolvimento de competências  individuais e coletivas e à emergência dos denominados líderes intermédios que no contexto das  novas práticas de gestão no setor público, devem ser incentivados.  

Os líderes intermédios não são de forma nenhuma forças de bloqueio mas antes, parceiros  estratégicos importantes para concretizar processos de inovação e de progresso da organização. A  ideia é que todos podemos ser líderes na função que ocupamos da organização sem ter que ser  nomeado para o efeito, pois todos temos e devemos contribuir para a concretização da missão da  organização. Trata-se de tornar a organização num laboratório para a aceleração de resultados, que  oferece ferramentas para escalar a inovação, e que incentiva a manutenção de equipas motivadas  e dinâmicas, por forma a manter a agilidade. 

É pela via da descentralização e distribuição das lideranças e da proliferação de líderes intermédios  que se consegue a construção e a manutenção da união e maior eficiência das equipas de trabalho, a  identificação de fontes de inovação nos processos e a maior propensão para a partilha de boas práticas  entre equipas, pois estes tendem a consolidar a sinergia entre todos os escalões para incentivar a  partilha da visão e o compromisso com a missão institucional. 

E porque nenhum líder é, fisicamente, eterno e/ou consegue executar tudo sozinho, é importante  inspirar as equipas que nos rodeiam com ensinamentos e exemplos para deixar um legado quando o nosso ciclo chegar ao fim ou quando novas oportunidades emergirem. Um líder de sucesso tem a  responsabilidade acrescida de antecipar a formação de novos líderes para ocupar sua posição ou  para alcançar novos lugares, continuando o bom trabalho independentemente da sua presença.  Somente assim as suas conquistas não são esquecidas ou apagadas da memória, com sua saída, mas perpetuam-se, continuando as equipas que ficam a gerar os resultados desejados e a ser um exemplo  a ser seguido. 

Assim sendo e dado o contexto atual, é possível afirmar que a sustentabilidade futura, o progresso e  a inovação das organizações do setor público assentam na necessidade de ativar o fator urgência  imperiosa para se obter um outro modelo de gestão e liderança das Pessoas. 

De acordo com Bill Gates, “Há duas grandes forças na natureza humana: o interesse próprio e o  cuidado dos outros. A escolha é nossa.” (World Economic Forum de 2008). 

Enquanto líder, a minha escolha já a fiz. Consciente do meu propósito de vida e da minha missão, caminho sempre lado a lado com as Pessoas e com os interesses da organização. Sou assim estou a  servir verdadeiramente.