Em 2019, Portugal registou um total de 69,9 milhões de dormidas (1), traduzindo-se num aumento de 4% face ao período homólogo. No entanto, apesar de 70% das dormidas corresponderem ao mercado externo, este evidenciou uma ligeira descida face a 2018, a qual foi compensada pelo mercado interno.
O Município com maior quota de residentes foi Matosinhos (60%), decorrente do turismo de negócios, seguido do Município de Braga (52%), um Município que, para além do “corporate” e do “mercado da saudade”, tem apostado na diversificação da sua oferta turística.
No que concerne aos mercados externos, a descida ligeira verificada nos mercados francês e britânico (relacionadas, maioritariamente, com a concorrência de outros destinos pouca expressão terá, mas o crescimento de 20% do mercado norte-americano e de 13,5% do mercado brasileiro face a 2018 evidenciam, de facto, uma conquista por novos mercados, a qual tem efeito direto nas receitas turísticas obtidas.
2019 foi assim, mas 2020 apresenta um panorama já muito diferente.
A restrição das viagens, o fecho de fronteiras, ocasionou o fecho dos hotéis, mas a indústria do sonho não pereceu, porque todos continuam a idealizar (e desejar mais que nunca!) aqueles dias longe da rotina, de descoberta e de lazer. A redução da estada média, verificada em 2019, confirmou a mudança no tipo de viagem, ficando cada vez mais no passado as tradicionais férias estivais de duas ou três semanas. Mas a procura por períodos mais curtos – a crescente democratização dos city breaks ! – tem efeitos positivos na hotelaria nacional, isto porque não só promove a concentração da estadia na mesma unidade hoteleira, como é uma oportunidade para aumentar o revenue de outros serviços da unidade. Cabe, assim, aos hoteleiros nacionais continuarem a apostar na diferenciação do seu produto e dos seus serviços, com criatividade e profissionalização.
A venda dos hotéis Intercontinental Palácio das Cardosas e do Penha Longa Hotel & Golf Resort, em 2018, num total de 155 milhões de euros, estabeleceram um recorde histórico de valor por quarto, superior a 500.000 euros, e é nesta busca por fortalecer o valor do nosso mercado hoteleiro que todos os esforços devem ser canalizados. Saliento que, em 2021, entrarão no mercado nacional novas marcas e novos operadores hoteleiros, como Room Mate Hotels e Leonardo Royal Hotels.
A tormenta que assolou o setor hoteleiro tem de ser entendida como motor de oportunidade para o reinventar da indústria. O medo de viajar ficou latente pelos atentados terroristas, que nos últimos anos fizeram estremecer a hotelaria em destinos tão sólidos como Paris, Londres e Barcelona. Mas a vontade de viajar e de retomar a normalidade foram mais fortes e assim será em relação a esta pandemia, que em 2020 colocou esta “aldeia global” a descoberto.
Cabe assim acelerar a transformação digital dos destinos, implementar ações contínuas, que restabeleçam e transmitam a confiança de todos, comunicar de forma simples e transparente sobre o que de melhor temos para oferecer, pensar em ações básicas que permitem concretizar o desejo no seu impulso, sem que indefinições ainda latentes impeçam a compra, como flexibilizar os cancelamentos das reservas, estimular a compra direta e o diálogo com o cliente, muito antes da sua entrada no hotel.
Serviços como buffet e all inclusive serão os mais afetados, mas não cairão por terra a médio prazo. A hotelaria satisfaz o desejo do seu cliente e estes são serviços muito desejados por alguns dos nossos principais mercados externos, como o alemão ou o britânico. Será necessário reinventar a forma do serviço, mas não colocá-lo de parte.
Este é, sem dúvida, um momento de reflexão e estratégia: reorganizar hotéis, optimizar espaços garantindo segurança, investir no ativo, valorizá-lo, apostar no talento, na formação e coesão das equipas, são algumas das linhas condutoras.
Os hotéis rurais, os hotéis destino, as unidades luxury de alojamento local, e algumas pousadas serão os alojamentos procurados, sendo esta uma oportunidade para posicionar o seu produto, divulgar novos territórios, que, pela sua recôndita posição geográfica, poderão agora, mais que nunca, ser refúgio de segurança e ócio.
Por outro lado, os hostels serão as unidades mais afetadas, assim como alguns hotéis urbanos e o alojamento local fracionado, que muitos proprietários já optaram por emergir no mercado de arrendamento de longa duração. Será um 2020 difícil, período de prova final para muitos empresários e seus respetivos negócios.
Atualizando um artigo que escrevi em fevereiro, antes da pandemia, 2020 será um ano de mudanças, a nível mundial e nacional, mas o turismo já não será um dos principais setores exportadores e grande motor de criação de emprego, arrastando consigo outras indústrias que dele dependem. O impacto da COVID-19 é já impactante, mas resta-nos ter o optimismo que a humanidade saberá lidar com distância social e proximidade empresarial.
(1) Segundo dados preliminares do Instituto Nacional de Estatística.