Transformou a sua paixão pela contabilidade numa carreira profissional
brilhante, que a conduziu ao mais alto posto. Hoje, Paula Franco é o rosto
da Ordem dos Contabilistas Certificados e representa todos os atuais
profissionais, enquanto inspira uma nova geração, mostrando que a
contabilidade é muito mais do que uma ciência exata: é feita de pessoas
para pessoas, que devem, cada vez mais, estar devidamente informadas.
Paula Franco nunca teve dúvidas: sempre foi uma pessoa de números ao invés de palavras. Diz que esta paixão pela contabilidade é antiga e assume-se “uma pessoa completamente rendida à profissão que escolhi e pela vida que decidi seguir”.
Quando iniciou o seu percurso profissional, tal como qualquer outro jovem, o coração de Paula Franco estava preenchido por sonhos e ambições. Mas o lugar dos nossos desejos é fora de nós, para que se possam tornar realidade. E foi nesse sentido que se licenciou em Gestão de Empresas, obteve uma Especialização em Fiscalidade e, findada a sua formação académica, decidiu navegar na direção contrária a de todos os outros. Em vez de procurar emprego, acreditou que reunia as competências e potencial necessárias para fundar o seu próprio escritório, onde prestou consultoria contabilística e fiscal durante vários anos. Está na Ordem desde o início, “primeiro como consultora técnica, depois como assessora dos bastonários” que a antecederam, no caso, Domingues de Azevedo e Filomena Moreira, tendo prestado apoio técnico no domínio da fiscalidade, contabilidade e segurança social.
Assim permaneceu durante algum tempo, mas a vida queria mais dela, e Paula Franco também queria mais da vida. Foi assim que, a 5 de março de 2018, tomou posse como bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados. “Nos últimos seis a minha vida e, felizmente, a de dezenas de milhares de contabilistas certificados, mudou”, admite. Sente-se feliz e realizada “por hoje os profissionais e as suas famílias poderem ter um mês de agosto em que as férias são mesmo férias”, graças à conquista que se obteve ao nível do diferimento das obrigações declarativas e contributivas. “Durante muito tempo, os profissionais não conseguiam ter um período mínimo de dias de férias consecutivos. Eram quase obrigados a levar o computador com eles em pleno agosto e as notificações não paravam de chegar. Com este progresso, é possível ter um período de descanso com qualidade”, explica, salientando que é preciso que as pessoas entendam que “as ‘férias fiscais’ são tão importantes como as férias judiciais”.
A bastonária destaca ainda o justo impedimento como outra “conquista incrível”, representando um outro avanço de elementar justiça. “Antes, perante um impedimento de doença ou morte de familiar, o contabilista tinha, ainda assim, de cumprir com as obrigações declarativas”. Com esta novidade legislativa, suspende-se o prazo para a entrega das declarações ou, se a ausência for mais prolongada, recorre a um contabilista para a sua substituição temporária.
Se há algo em que a líder acredita, é que “a liderança é algo que não se compra”. É da opinião de que “há características que podem ser melhoradas, mas, nesta em particular, ou se tem ou não se tem”, por ser algo “inato, que nasce connosco”. Liderar instituições, equipas e, no fundo, lidar com pessoas, é um trabalho “sempre difícil, exigente e também ingrato”.
Conta que, recentemente, na sua tomada de posse, alguns atuais deputados que lidam consigo de perto consideraram que a característica que melhor define Paula Franco é a persistência. Ao que a bastonária concorda: “tenho convicções fortes e vou até ao fim quando acredito em algo, para a profissão e para os profissionais”, e é por isso que considera “um orgulho e um privilégio diário liderar uma das maiores ordens profissionais do nosso país e que tanto contribui para a dinâmica e desenvolvimento de Portugal”. Diz ser isso que a anima e motiva diariamente.
“só de um conhecimento sólido é que podem surgir decisões informadas e inteligentes”
Nesta profissão, e, ainda para mais, no cargo que ocupa, os desafios são diários, constantes e imprevisíveis, “seja pela saída de legislação nova, seja pelos frequentes constrangimentos que se registam no Portal das Finanças”, entre outros. Todavia, Paula Franco elege a pandemia como o momento mais desafiador já vivido, uma vez que “os profissionais suportaram uma enorme pressão, mas responderam de forma irrepreensível”, reinventando-se. Para a bastonária, esta foi uma altura em que “os contabilistas certificados demonstraram de uma forma irredutível a sua resistência e rigor absolutamente inigualáveis”, salvaguardando assim o futuro de muitas empresas, que certamente estariam “muito mais fragilizadas e o país muito mais pobre”.
Deste modo, Paula acredita que este foi o período de viragem na credibilização da profissão na sociedade, tanto que “vários governantes de então fizeram questão de, publicamente, reconhecer o papel essencial que os contabilistas certificados desempenharam ao fazer chegar os apoios financeiros do Estado às empresas, num contexto tão adverso”. O dia tem 24 horas, mas para a bastonária da OCC, “por vezes não chegam para acomodar todas as solicitações e os problemas que surgem para resolver”. Dá-nos a conhecer um pouco de como é um dia normal: marcado por sucessivas reuniões, quer seja dentro ou fora da Ordem; pela participação em conferências e ainda pela necessidade de responder às solicitações da comunicação social que, “nomeadamente quando os impostos estão no topo da atualidade – que é quase sempre – são bastante frequentes”. No seu gabinete, conta com uma “equipa coesa”, em quem deposita toda a sua confiança.
Se existia alguma dúvida sobre o profissionalismo de Paula Franco, rapidamente desapareceram com a sua reeleição para o mandato de 2025-2028. Os frutos que tem colhido são a prova de que, quando algo é feito por gosto, o resultado só pode ser gratificante. Ter sido reeleita bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados é encarado como “uma responsabilidade e um desafio diário”, mas que a preenche. Paula usa o colar de bastonária em momentos ou cerimónias mais solenes, e costuma dizer que esse artefacto que carrega ao pescoço é “duplamente pesado”: não apenas pelo peso físico, mas também pelo peso da responsabilidade. Para si, “é tão gratificante e recompensador conviver com uma dezena de membros na ilha do Faial, ou participar numa conferência, ou uma formação com quase um milhar de membros nos nossos auditórios de Lisboa e Porto”. O importante não é o sítio, nem a dimensão do público, mas sim a devoção pelo que faz.
Para os anos que se seguem, Paula Franco revela que “podem esperar de mim o que lhes prometi a 5 de março de 2018, quando tomei posse, pela primeira vez, no auditório da Ordem, em Lisboa: sempre mais, sempre melhor”. Garante que pretende “uma instituição próxima e incansável na resolução dos problemas dos seus membros, com uma voz ativa na sociedade e também junto do poder político e na Assembleia da República”. Em suma, jura compromisso e dedicação permanente, até porque “o futuro é desafiante e é já hoje”. Tendo sempre em mente afirmar o interesse público da profissão e o seu respetivo valor, não esconde ainda um desejo seu: “não gostaria de terminar o meu último mandato à frente desta casa sem consagrar, na prática, a figura do contabilista público”.
“uma iniciativa que só peca por tardia, até porque é sabido que os frutos só surgirão mais tarde”
Se, nas suas palavras, o futuro é já e é hoje, há que arregaçar as mangas e batalhar para que o mundo possa avançar. Nesse sentido, perante a literacia financeira passar a ser uma das disciplinas obrigatórias, a iniciar este ano letivo, em sete escolas portuguesas, Paula Franco revela ser “uma iniciativa que só peca por tardia, até porque é sabido que os frutos só surgirão mais tarde”. Espera que este projeto piloto se generalize “muito rapidamente” às escolas de todo o país, visto que, no seu entender, é crucial “que as pessoas saibam o que é uma taxa de juro, uma taxa de esforço, uma retenção na fonte, um PPR”, entre outros conceitos, pois “só de um conhecimento sólido é que podem surgir decisões informadas e inteligentes”. A bastonária defende “que é na escola e na formação que estão as bases para um país melhor e também para suprir as carências de literacia, a vários níveis, que a nossa população padece”.
“A profissão de contabilista certificado é cada vez mais feminina. A estatística assim o prova e as tendências vão no sentido do reforço dessa tendência.”
O topo, por si só, é um lugar que apenas alguns conseguem alcançar, à maioria apenas lhes é permitido sonhar. Sendo mulher, atingir esse patamar torna-se uma tarefa ainda mais árdua, principalmente quando a maioria das cadeiras de chefia são ocupadas por eles, e não por elas. Segundo dados disponibilizados pela Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC), a nível nacional, a profissão de contabilista certificado é desempenhada maioritariamente por mulheres, representando, em 2018, já cerca
de 53% dos profissionais inscritos na Ordem. Os números não deixam margem para dúvidas: embora sejam mais, são eles quem comandam. Ainda assim, face a esta discrepância, Paula Franco diz nunca ter sido discriminada de forma ostensiva, não negando, porém, que, “num momento ou noutro do meu percurso já fui confrontada com resistências ao facto de ser mulher e exibir a minha fibra”. Perante este cenário, deixa um apelo a todas as líderes no feminino: “é nessas situações que temos de ser fortes e mostrar o que valemos”, até porque “a profissão de contabilista certificado é cada vez mais feminina. A estatística assim o prova e as tendências vão no sentido do reforço dessa tendência”.
A bastonária frisa ainda que “as mulheres têm a mesma capacidade de liderança que os homens”, acrescendo-lhes “uma sensibilidade diferente”, fundamental nas lideranças, na gestão de pessoal e na interligação entre pessoas. Crê que “há uma cultura, ainda muito enraizada, que precisa de ser mudada”, dado que existem várias mulheres que “querem ter filhos, constituir uma família, sem perder de vista a aposta na progressão na carreira”, Como é o seu próprio caso. Com uma atividade tão frenética, é natural que o tempo que reste para a vida pessoal não seja o que desejava, mas afirma que “com compreensão e a dedicação de tempo qualidade para o marido e para os filhos, tudo é possível conjugar”.
Numa sociedade que ainda tem um longo caminho a percorrer no sentido de compreender o significado de igualdade de géneros, Paula Franco acredita que “a sociedade portuguesa, em diversos quadrantes, está cheia de fantásticos exemplos de carreiras bem-sucedidas”, apontando que deviam ser exaltados e seguidos com particular atenção. Desde as artes até à ciência, passando pela educação e pelo desporto, “há exemplos muito inspiradores”.
Para a bastonária, “não há líderes ‘perfeitos’, da mesma forma que não existem pessoas ‘perfeitas’”, e é esta imperfeição permanente no ser humano que “constitui a grande riqueza e que nos permite progredir, nas relações, na vida e nas instituições”. Nesse sentido, Paula Franco julga “que tanto a nossa instituição como a profissão que regulamos está a seguir o percurso certo e que, tarde ou cedo, acabaremos por colher aquilo que estamos agora a semear”. É com esse empenho e dedicação que encara o futuro, que já é hoje.