Desafiou-se a si própria para fazer um doutoramento e realizar uma investigação numa área que lhe diz muito, a Emigração

Berta Montalvão, Membro da Comissão Executiva CPLP

Licenciada em Gestão dos Recursos Humanos pelo ISCTE e a frequentar atualmente o Doutoramento em Sociologia Económica e das Organizações no ISEG, Berta Montalvão caracteriza-se por ser uma cidadã do mundo. Em criança queria ser professora de geografia mas anos mais tarde percebeu que esse sonho era uma desculpa para conhecer o mundo.

Aos 24 anos de idade recebeu um convite para trabalhar em Angola e a sua decisão de abraçar o desafio foi imediata. Duas semanas depois aterrava em Luanda e assim iniciava a sua carreira internacional. Nunca pensou que acabaria por residir um terço da sua vida em África, mas a verdade é que Angola tornou-se a sua casa, o país onde era feliz pessoal e adorava trabalhar. Neste país colaborou em inúmeros projetos que lhe proporcionaram uma carreira bastante consolidada na área em que se formou.

Trabalhar numa “big4” como a PwC abriu-lhe portas para trabalhar com as melhores empresas nacionais e internacionais. Ao longo dos 7 anos que trabalhou como Consultora na PwC teve a oportunidade de contactar diversos contextos organizacionais e pessoas de diferentes nacionalidades, tornando-se cade vez mais óbvio que a diversidade e a inclusão fazem parte do seu ADN e da sua forma de ser. Foi nesta casa que aprendeu a gerir equipas, a tornar-se líder e onde desenvolveu o seu estilo de liderança para o passo seguinte que viria a dar em termos de carreira.

Durante a sua vivência em Angola, fez um interregno de alguns meses no seu percurso profissional para estudar. Matriculou-se na Universidade de Sydney para uma especialização em Business English e mais uma vez foi exposta a um ambiente multicultural, onde a maior parte dos seus colegas eram asiáticos, provenientes de diferentes países.
Aliado ao gosto que tem por viagens, Berta é uma apaixonada por conhecer novas culturas, experimentar diferentes gastronomias e aprender as características únicas de cada povo que vai conhecendo. Esta experiência pela Austrália permitiu-lhe isso, mais uma vez.

Na sua carreira destacam-se os anos na PwC, que considera ser uma excelente escola, um centro de grande aprendizagem.
As metodologias e as ferramentas de trabalho a que teve acesso enquanto aqui trabalhou permitiram-lhe que, em 2015, aceita-se o desafio para liderar uma direção de recursos humanos, numa empresa de retalho que estava a iniciar em Angola. Foi a 3ª colaboradora da empresa e teve de começar tudo de raiz, desde a contratação da sua própria equipa, passando pela definição das políticas da empresa e a implementação dos sistemas de informação. Ao fim de três anos, a empresa já contava com três espaços comerciais e 1.500 trabalhadores.

Em 2018, com a Direção de RH consolidada, decidiu mudar o seu rumo e partiu para Timor-Leste para desenvolver o seu próprio negócio, uma empresa especializada em consultoria de gestão de recursos humanos. Aventurou-se sozinha, mas contou com o apoio da família e dos amigos para abraçar mais um grande desafio na sua vida profissional. Tornar-se empreendedora nunca fez parte do seu plano de carreira, mas à medida que foi desenvolvendo a sua experiência profissional noutras em- presas percebeu que esse poderia ser um caminho a considerar.

Ao longo dos anos em que viveu em Angola o seu foco foi a carreira, tendo deixado de lado a sua vida pessoal. Reconhece que foi uma decisão bastante ponderada, e durante muito tempo a sua prioridade foi a carreira. Talvez por ser mulher, talvez porque tinha de ser assim. A mudança para Díli fê-la mudar de ideias e encontrar um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Hoje está muito mais disponível para os seus, para aproveitar melhor a vida e é mais feliz. Ser empreendedora e mulher não é fácil, mas nunca baixou os braços e deixou de acreditar no seu projeto, mesmo durante o período mais difícil da pandemia em que viu todos os seus contratos serem suspensos ou cancelados. “It always seems impossible until it’s done”, de Nelson Mandela, é a sua life quote e é neste ensinamento que se foca nos períodos mais complicados do seu negócio.

Recentemente, desafiou-se a si própria para fazer um Doutoramento para realizar uma investigação numa área que lhe diz muito, a Emigração. Candidatou-se não pelo grau académico mas porque considera importante estudar os emigrantes, perceber os fenómenos que surgem em redor deste tema e por fazer parte desse grupo, desde 2005. Pretende compreender as motivações de todos aqueles que deixaram para trás as suas referências, a família e os amigos em busca de melhores condições no exterior.
Quer estudar o regresso dos portugueses ao país de origem e perceber que impacto a experiência internacional teve na vida pessoal e profissional dos que tudo arriscaram. Escreveu um livro sobre carreiras internacionais nos países lusófonos, mas ainda aguarda a sua edição. Espera fazer o lançamento da sua obra nos primeiros meses de 2024.

Em termos profissionais, quando decidiu regressar a Portugal quis integrar novamente o mercado de trabalho. Contudo, as oportunidades não surgiram e decidiu continuar com a sua veia de empreendedora. Está a desenvolver de momento um projeto com dois sócios e espera em breve poder divulgar a empresa e o negócio nas redes sociais e comunicação social.

Nos últimos 18 anos viveu em Angola, Austrália e Timor-Leste e ao longo destas trajetórias intercontinentais visitou 50 países. Dadas às suas origens e experiência profissional, em 2021, juntou-se à Confederação Empresarial da CPLP, fazendo hoje parte desta associação como membro da Comissão Executiva. Neste contexto tem a possibilidade de contactar os Estados-Membros e os empresários dos nove países lusófonos. Já visitou todos os países que constituem esta comunidade.