Amor Corporativo

Alexandra Lemos

Alexandra Lemos, ceo da Premium Coaching,  é engenheira, coach  e lançou recentemente o seu livro “Amor Corporativo.” Nesta obra onde o amor corporativo é apresentado como o elemento diferenciador no potenciar das ligações interpessoais em contexto laboral e na felicidade nas instituições. Em entrevista à Revista Liderança no Feminino, deu a conhecer um pouco mais do seu trabalho como Internacional Certified Coach, formadora para Portugal da ICC e a sua vasta experiência no coaching empresarial.

 

Quem é Alexandra Lemos? Fale um pouco – em termos gerais – sobre o seu percurso até aqui.

O meu percurso tem momentos felizes e também desafiantes, no sentido de algumas vezes ter ponderado desistir da área que me apaixona. Felizmente, mantive-me fiel ao que me realiza como pessoa e profissional: o trabalho com o fator humano e as surpreendentes descobertas sobre tudo o que ainda iremos aprender sobre o potencial humano, assim como também sobre as suas resistências internas que criam um formato de GPS mental que nos afasta do centro de cada um.
Comecei a minha atividade profissional como engenheira especializada na área da óleo-hidráulica e trabalhei na construção da Ponte Vasco da Gama, nos acionamentos das cofragens e do carrinho de avanço. Quando percebi que tinha sido poupada a um acidente de trabalho na ponte, decidi procurar uma área profissional em que pudesse honrar a minha energia sensível a pessoas, continuar a agradecer à vida pelo facto de me manter capaz de fazer muitas pontes humanas através do coaching. Tenho sido uma aprendiz de temas relacionados com a «engenharia humana» e chego a um ponto do meu percurso em que me é fluído estabelecer relações coesas, nas quais as pessoas aprendem sobre si mesmas e clarificam o que querem, percebendo o que realmente importa na vida. Tem sido um percurso bafejado pela alegria, o amor, a aprendizagem e a apreciação de pessoas e do seu desenvolvimento da consciência, a ponto de sentirem em maior equilíbrio nas suas diversas transições.

O que a motivou a licenciar-se em Engenharia Química e mais tarde a tirar Pós Graduação em Ciências Empresariais – Marketing e Empreendedorismo?

A licenciatura em Engenharia Química captou a minha atenção pela parte prática de poder encontrar soluções para o funcionamento das reações químicas, através de instrumentos, equipamentos, engrenagens e sistemas complexos que processam átomos, moléculas, compostos. Esta parte da transformação da matéria em algo novo, perceber os eletrões, neutrões e protões e as suas dinâmicas ao serviço de produtos de utilidade para as empresas e os seres humanos foi a chave. Sempre me interessei pela parte invisível do lado visível das coisas. Quando passei a lidar com interculturalidade do trabalho no terreno das operações com profissionais de diferentes origens e geografias, percebi que gostava de ser empreendedora na área dos sistemas mais incríveis com os quais podemos lidar e que não se processam como lidamos com as máquinas, pois não têm um botão on/off: as pessoas e a natureza ativa dos bens não instrumentais, isto é, os bens relacionais que se constroem nas pontes que fazemos uns com os outros. Quis perceber como se gere uma empresa a partir do zero e fui procurar instruir-me, aprender nas áreas das ciências empresariais. Foi um passo que marcou muito positivamente a minha vida, pois lancei-me como empreendedora na área do coaching. Hoje faço a gestão da Premium Coaching e sinto-me realizada pelas aprendizagens que fiz para poder dirigir o empreendimento de contribuir para relações importantes e longevas com os meus clientes.

É professora convidada de várias Universidades, IST, TecMinho, ISPA, ISCTE, ABS, Universidade de Coruña. O que a fez enveredar pela área do ensino académico? Foi algo que sempre quis?

Sempre gostei de aprender no movimento de ensinar. Vejo a parte académica como uma partilha daquilo que sei, colocando na equação os inputs que os alunos me trazem e que me permitem dar também o meu melhor. Não fui à procura desta parte ligada à academia. Penso que a academia me foi lançando convites para poder partilhar aquilo que é a minha experiência de coaching e que pode acrescentar valor.

Para além de todos as técnicas e teorias que leciona, quais são os principais valores que passa aos seus alunos?

Os valores definem o que é verdadeiramente importante para cada um de nós. Nestes termos, valores como a ética, a integridade, a autenticidade e a coerência são os pilares nucleares para sermos bem sucedidos em qualquer área e principalmente no coaching, na liderança de outros, na dedicação empenhada a um trabalho que nos permita servir as futuras gerações através da nossa pegada consciente e colaborativa. Passo aos alunos valores de serviço à comunidade, de confiança, de dedicação a causas ecológicas (que têm um impacto sistémico positivo no maior número de pessoas afetadas e noutras áreas das nossas vidas), de equilíbrio e integração da diversidade.

Já desempenhou várias funções e esteve em vários cargos. Qual foi, até hoje, o maior desafio da sua carreira profissional?

O momento que mais me impactou em termos de desafio foi quando uma crença poderosa se enraizou na minha forma de pensar com resultado direto na minha forma de atuar: quando a vida quis que eu tivesse sido salvaguardada do acidente que vitimou trabalhadores na Ponte Vasco da Gama, eu ouvi-me dizer: «Se não é para morrer, é para viver!». E a partir daí, decidi empenhar-me exatamente naquilo que me apaixona: trabalhar como coach executiva e de equipas, numa grande proximidade com as pessoas.

Como surgiu o interesse no coaching?

Cruzei-me com o Coaching numa sincronicidade curiosa, em que procurava uma atividade que me permitisse «fazer pontes» com as dinâmicas dos seres humanos ativos, que querem evoluir na sua liderança, nos diversos equilíbrios desafiantes que a vida integra, na sua conquista de objetivos de forma ecológica. Conheci as pessoas certas, como os cofundadores da ICC – International Coaching Community, que me desafiaram a experimentar os processos de coaching e a ser a formadora da ICC para Portugal. Além de realizar processos de coaching com executivos e equipas, também formo futuros coaches para exercerem a atividade do coaching com base na excelência interventiva e nos critérios da ética e nos standards da qualidade internacionais.

A Alexandra tem obtido várias certificações, nomeadamente Internacional Coach Trainer da ICC para Portugal, certificada por Joseph O’Connor e Andrea Lages, co-fundadores da ICC no mundo. Diria que a sua experiência académica foi determinante para a profissional que é hoje?

Sim, sem dúvida. A pessoa que sou hoje é indissociável das minhas bases académicas e de todas as experiências que me foram formando como profissional nas vertentes técnicas e humanas. A formação em engenharia química ajuda-me a ser prática e a entender os modelos cognitivos de uma forma profunda e transferível para a realidade dos temas dos meus clientes. A formação em empreendedorismo e ciências empresariais trazem-me a lógica do funcionamento da minha empresa em coordenação com o mercado e as nuances do funcionamento das empresas clientes e parceiras. A formação em psicologia Carl Junguiana abre-me espaço para unir razão e emoção na compreensão cognitiva e intuitiva das dimensões humanas que permitem um trabalho intenso no desbravar das perguntas certas para despertar os movimentos mentais e emocionais dentro das pessoas que me permitem ser os meus sócios de aprendizagem: os meus clientes. A formação nas áreas do coaching sistémico apetrecham-me das ferramentas e intuição adequadas a intervenções de coaching de espectro alargado para além do plano cognitivo.

A sua ajuda a orientar o empresário e a empresa rumo à liderança, ajuda-a também enquanto pessoa a conhecer o seu sentido na vida?

Adoro esta pergunta! É precisamente a perspetiva de uma aprendizagem esférica de tipologia ganha-ganha que eu considero ser a maior valência de valor acrescentado trazido à minha vida, pelaatividade de coaching que exerço. Em cada momento de coaching com os empresários e as suas equipas, aprendo muito sobre mim mesma e ganho o melhor sentido que a vida tem para mim e que eu sinto honrar com a minha dedicação: estar muito de bem com a minha profissão, por me sentir inspirada pelos clientes e refletir sobre o meu papel no mundo, no meu microcosmos, no qual sinto que contribuo de forma produtiva. Recebo feedbacks incríveis por parte dos clientes, que atingem os seus objetivos, sem ser pela pressão do dia a dia, e sim, com a clarividência dos valores que tornam os seus sonhos importantes e a consciência que a sua existência na vida de uma organização é também uma presença marcante na vida das pessoas que tocam e que podem fazer a diferença pela sua atitude e comportamentos íntegros, empáticos, mobilizadores de ações que impactam positivamente um sistema alargado: as pessoas das suas equipas, as suas organizações e todo o sistema alargado que é o tecido empresarial local e global.

A Alexandra é autora do livro “Amor Corporativo.”O que a inspirou a escrever esse livro?

As pessoas que ao longo dos últimos 20 anos têm confiado no meu trabalho como Coach são precisamente a minha fonte de inspiração. As suas narrativas apontando aquilo que não as mobiliza para o bem estar e o facto de ter descoberto que todas as perguntas que tenho colocado aos meus clientes os remete para o mesmo epicentro: o amor. Este amor como a manifestação mais genuína de ser reconhecido e reconhecer o valor dos outros, de estabelecer relações vitais no posto de trabalho com base na empatia, no sentido de pertença, na consciência de realização profissional e pessoal ao serviço de um bem maior: a produtividade individual e coletiva que eleva o sentido de continuidade das empresas e do sentido de utilidade das pessoas que fazem das empresas os motores de progresso da realização humana enquanto as pessoas trabalham. O Amor Corporativo fala de como é importante que queiramos e possamos avançar para uma melhor qualidade de Seres Humanos na nossa tomada de consciência sobre diversos aspetos: como nos escutamos com atenção plena e como ouvimos, conscientemente, os outros. Por que perspetivas observamos o que se passa no nosso comportamento, quando agimos e reagimos ao comportamento dos outros. Como interpretamos e validamos o mundo para sermos sistemicamente funcionais. Como deixamos a nossa presença elevar a energia da atmosfera do espaço relacional, a ponto de, em cada interação, deixarmos uma marca positiva em nós e nos outros. Como expandimos o nosso desejo irrefutável e ardente de sentirmos o amor num nível superior, nos contextos em que nos sentimos bem. Destaco os ambientes profissionais, os quais por excelência, envolvem pessoas, as suas atitudes e as consequências das suas decisões e manobras de utilização do poder. Este amor que no contexto corporativo se veste de valorização, escuta ativa, respeito, espírito colaborativo, comunicação empática e generativa, para resultados vantajosos para todos (desde o topo à base dos níveis hierárquicos das empresas). Investimos tempo suficiente no trabalho, para também aí, podermos sentir a recompensa de nos sentirmos amados, ouvidos, respeitosamente acompanhados nos nossos comportamentos (reforçados, corrigidos, aperfeiçoados), validados nas nossas sugestões, opiniões, criatividades e energizados, porque existe uma visão elevada sobre as pessoas que fazem parte do universo corporativo. Como é tão incrível termos a capacidade de escolhermos ser mais autores do que vítimas daquilo que nos acontece, e colocarmo-nos ao volante das nossas vidas, com um GPS mental adequado à saúde integral do nosso Ser. Determinarmos um ponto do caminho em que passamos a viver de acordo com os padrões elevados da qualidade humana que mais queremos melhorar, para sermos criadores de vida, de afetos, de ligações fortes e assertivas em compreensão mútua e em amor. Como podemos reorientar a nossa bússola emocional para destinos emocionais mais satisfatórios, para sermos pessoas de bem com a vida, num padrão coerente e consistente. Como podemos sentir amor próprio, curador e restaurador. E amor dos outros, nutridor e revelador. É o Amor – esta vibração que não se explica com ciências exatas, nem com fórmulas matemáticas rebuscadas ou simplificadas, mas que se sente e se intui. Um amor que nos torna maiores a energizar o espaço sagrado do nosso eu e o do outro.


O que ainda almeja alcançar?

Almejo continuar o meu projeto de escrita sobre o Amor, aplicado a outros sistemas tão importantes das outras áreas das nossas vidas: as dinâmicas de casal, a relação pais e filhos, a conexão professores- alunos, a ligação voluntariosa de todos os que se empreendem em projetos de caráter social e a elevação da alma lusitana, focando o amor patriótico. Tenho, por isso, bem definido no meu ecrã mental a criação de mais cinco livros sobre o Amor revelado nestes outros sistemas correlacionados com as nossas vidas profissionais. Tenho ainda um objetivo concreto: poder ter um projeto criativo relacionado com a realização de um programa de televisão dedicado a eleger os resultados impactantes e positivos de tudo aquilo que se faz bem em Portugal,