O TURISMO AO SERVIÇO DA SUSTENTABILIDADE POR VIA DA CERTIFICAÇÃO

Patrícia Araújo, CEO da Biosphere
Com um trajeto profissional eclético, entre o jornalismo e a consultoria, Patrícia Araújo desempenha atualmente funções como CEO da Biosphere, empresa que se dedica à certificação de destinos e empresas que cumpram com metas de sustentabilidade. Conhecedora do sector do turismo, e das exigências impostas pelos cidadãos cada vez mais informado, sublinha que este “é o momento dos agentes mostrarem o compromisso de cuidar dos seus”.

Patrícia Araújo não consegue precisar como surgiu o seu interesse pela área do turismo, se fruto de um processo evolutivo ou um entusiasmo escondido à espera de ser estimulado. Na verdade, o trajeto profissional da atual CEO da Biosphere Portugal começou a ser traçado na área da comunicação, no seguimento da licenciatura em
Jornalismo na e do mestrado em Comunicação e Marketing, enquanto jornalista. Seguiu-se uma experiência como client and project management, à qual juntou, anos mais tarde, a possibilidade de trabalhar “em exclusividade um referencial internacional de turismo sustentável em Portugal” – o estímulo que estava a faltar. Foi aí que as “questões ligadas à sustentabilidade”, que sempre a preocuparam – em parte devido à sua ligação do interior do país – entraram no quotidiano profissional de Patrícia. A Biosphere Portugal dedica-se à certificação de destinos ou alojamentos que cumpram com as metas de sustentabilidade definidas. Um negócio em crescimento, tanto em Portugal como no resto mundo, face à notória tomada de consciência por parte dos vários agentes globais para os assuntos relacionados com a sustentabilidade. Patrícia classifica o tópico como “absolutamente crítico”, ressalvando que “já não temos espaço para hesitações e para estratégias” que não estejam focadas, por exemplo, na concretização das metas da Agenda 2030.

O “novo turista”, como lhe chama, parece estar consciente desta urgência. A procura reflete as preocupações dos consumidores, que optam por ofertas turísticas que respeitem as necessidades e interesses das comunidades e de toda a envolvente natural e cultural. Perante esta mudança de paradigma, a resposta da indústria tem se manifestado na “reformulação das suas práticas”. No panorama português, a preocupação com as questões relacionadas com a sustentabilidade já se fazia sentir “nos últimos anos”, pelo que “a grande maioria das partes interessadas já tinha começado a demonstrar forte sensibilidade e vontade de ação”.
Neste plano, a certificação pela Biosphere, que atesta os esforços e a diferenciação dos diferentes territórios rumo à sustentabilidade, tem se materializado, para os destinos e empresas, numa maior procura por parte de viajantes. “Este esforço tem resultado, os números demonstram-no “, reflete Patrícia, que descreve estes destinos certificados como sendo “mais resilientes”. A influência acaba mesmo por se refletir ao longo da cadeia de valor, num processo de arrastamento, algo que contribui para a criação de um “ecossistema sustentável” – tal como se pretende.
Em Portugal, “são mais de 100” as empresas já certificadas pela Biosphere, sendo que as expectativas são que este número “triplique ao longo dos próximos anos”. Na hora de enumerar as vantagens que decorrem deste reconhecimento, Patrícia Araújo destaca o “conjunto transparente de critérios”, o “amplo reconhecimento” pelas diversas partes envolvidas, assim como a “visibilidade” que dele advém. Ainda assim, o “reforço de competitividade” é, segundo a CEO, a consequência mais importante que resulta da certificação pela Biosphere. Esta valorização do produto ficou evidenciada ao longo do ano de 2020, no período pré-pandemia, mas também durante a crise sanitária, uma “prova de que as empresas reconhecem” que através deste tipo de certificação e validação “do trabalho desenvolvido em prol da sustentabilidade também se podem diferenciar e afirmar no mercado global, que, por sua vez, também procura estas ofertas”.
Ao longo dos últimos meses, também a Biosphere procurou adaptar-se ao novo contexto.
Com um workshop sobre sustentabilidade como factor-chave para a competitividade e diferenciação no turismo planeado, as soluções para as imposições de distanciamento social passaram sobretudo pelo recurso às ferramentas digitais, mas também pela capacitação de “uma equipa fantástica”. O balanço, de momento, é positivo. “Acabámos por não sentir quebras”, revela. A perda de contacto físico não foi sinónimo de um afastamento entre pessoas – equipa e clientes. A atividade foi, aliás, reforçada com o desdobramento “dos workshops, das abordagens às empresas” e com a criação de guias de apoio para a sustentabilidade sanitária, minimizando, assim, o impacto na sustentabilidade. Desta forma, a empresa procurou “assumir-se como um parceiro que está presente nos bons momentos, mas também nas alturas mais desafiantes”.
Patrícia defende, ainda, que a recuperação do sector do turismo, essencial para a recuperação económica do país, é indissociável da defesa da cultura de sustentabilidade. Como tal, “mais do que uma boa gestão ambiental”, a CEO da Biosphere considera importante questões mais específicas como as emissões de carbono, o uso de plásticos, o consumo de água, o desperdício de água, mas também tópicos de carácter social, tais como “o trabalho decente, o apoio à comunidade local, as compras responsáveis e valorização do que é autêntico e genuíno”.
O ano de 2020 para Biosphere vai ficar igualmente marcado pela participação num conjunto de sessões online dirigidas aos 35 municípios atravessados pela Estrada Nacional no2 e nas quais são abordadas boas práticas de qualidade, segurança e sustentabilidade. Um projeto “estruturante para o país”, segundo Patrícia, e que, ao diferenciar os territórios em causa dos demais destinos, poderá trazer “francas oportunidades”. “Os turistas podem descobrir a rota a pé, de bicicleta, mota, carro e autocaravana. É uma oferta muito diversa e uma experiência que mostra um Portugal autêntico, genuíno, com o que de melhor temos para oferecer”, sublinha. Sem nunca esquecer o compromisso com a sustentabilidade, o processo decorre atualmente com os agentes a serem recrutados para a plataforma de capacitação, tendo em vista a participação nas atividades programadas (ações de capacitação, apoio à implementação de requisitos de segurança e sustentabilidade, e distinção doas agentes pelo seu esforço na implementação destes requisitos). Até agora, o projeto conta com 500 inscritos, sendo que a meta desejada se situa nos mil até Março de 2021.
Com o ano novo a aproximar-se a passos largos, a CEO espera dar continuidade uma jornada “muito gratificante”. “Ir somando” é, de resto, um dos seus objetivos e desejos no que concerne ao campo profissional. “A Biosphere tem-me trazido muito orgulho, felicidade e despertado muitos sorrisos. E ainda há muito caminho a percorrer”. Juntamente com a “ambição secreta de ajudar Portugal a tornar-se o país mais sustentável do mundo”, Patrícia Araújo almeja “ser feliz”, fazendo “acontecer os momentos de felicidade todos os dias”. Uma forma de “ir somando”, nomeadamente através das “concretizações profissionais”.