Sandra Oliveira está a colher os frutos do seu empenho, mas não esquece as suas raízes

Sandra Oliveira, Diretora Executiva da Lumilabo

Nasceu e cresceu no Vale do Ave, longe das oportunidades das cidades grandes e muito perto de uma realidade pautada pelo trabalho árduo. Mas o orgulho que sente pelas suas origens é do tamanho da sua determinação, e é por isso que, atualmente, Sandra Oliveira é a primeira de uma família humilde a ter um curso superior e a alcançar um cargo de Diretora Executiva.

“Tenho a coragem minhota, a garra do Norte e o orgulho de ser Vimaranense”. É assim que Sandra Oliveira resume a sua essência. Filha de operários têxteis, diz ter “vivido de muito perto a dureza de uma vida de sacrifícios, trabalho, dedicação, lealdade e honestidade”, o que a levou a perceber desde muito cedo “que nada nos cai do céu”. Revê na avó um pilar fundamental para a forma como hoje encara as responsabilidades, pela sua “exigência, dedicação e excelência profissional”, que a tornavam na empregada mais destacada da família abastada da terra. Enquanto os pais trabalhavam, Sandra assumia-se muitas vezes como a sua companhia, o que a permitiu aprender muito ao lado da avó. Como fruto dessa aprendizagem, decidiu, na adolescência, ajudar a organizar o supermercado na rua onde vivia, e teve assim o seu primeiro contacto com o mundo do trabalho.

Pelo contexto em que Sandra vivia, e pela “tradição” familiar, terminar o 12o ano foi um “privilégio”, mas também era “sinónimo de ir trabalhar”. E assim se sucedeu. Aos 18 anos, “com a esperada e natural inexperiência”, aceitou um trabalho na área administrativa, que se revelou “abrangente e desafiante”. Desempenhou funções e responsabilidades de processamento de salários, pagamento de fornecedores, lançamento e conferência de facturas, contratações, controlos bancários, implementação de softwares e “tudo o que uma empresa têxtil e familiar em crescimento e ascensão precisava”.

Sandra Oliveira abraçou esta oportunidade com a habitual dedicação e humildade, que “rapidamente geraram resultados muito positivos”. Traduziu-se numa experiência bastante enriquecedora, mas havia um bichinho dentro de si que se começava a fazer ouvir: queria muito voltar a estudar. E, como se costuma dizer, o querer tem muita força.

À sua maneira, o destino lá se encarregou de a empurrar na direção das suas ambições. Em 2007, uma reviravolta pessoal levou Sandra Oliveira até à capital. “A oportunidade estava aqui, tão perto e tão desejada. Não lhe voltei as costas, meti no bolso todas as dificuldades e o que me diziam de pouco encorajador, (…) para conseguir realizar o que acreditava ser o passe para me colocar em lugares que até então não me seria possível”, conta.

“NÃO SOU PESSOA DE DESANIMAR POR TÃO POUCO. NÃO É GESTÃO? VAI SER ECONOMIA! E FOI.”

Nesta altura, tinha quase 30 anos e mais de uma década de percurso profissional trilhado,  por isso, a escolha em seguir Gestão pareceu um “excelente complemento” à sua bagagem de competências. Só que nem sempre as coisas se desenrolam da forma pretendida, e a entra- da em Gestão tornou–se na entrada em Economia. “Não sou pessoa de desanimar por tão pouco, não é Gestão? Vai ser Economia! E foi.”, afirma Sandra Oliveira. Ainda ponderou pedir transferência, mas apaixonou-se de tal forma pelo curso que o levou até ao fim.

Com uma vontade pelo conhecimento, rumou ao mestrado em Contabilidade, Fiscalidade e Finanças Empresariais, descobrindo o quanto “gostava de estudar e o privilégio de o estar a fazer no momento certo”.

Brinca que “gostaria de ter uma história bela de motivação para aqui contar”, no entanto considera ser uma pessoa como qualquer outra, “simples e prática”. Apenas soube agarrar a oportunidade que surgiu com a mudança, e que lhe abriu várias portas. Assumiu cargos direcionados para reestruturações, gestão e liderança, onde aplicou os conhecimentos adquiridos pela experiência e pela formação.

Tudo corria pelo melhor, até que, em 2019, Sandra tomou uma decisão: despediu-se do seu emprego. Garante que não estava em causa o gosto pela função e pelo projeto, mas sim o facto de não se identificar com a liderança e cultura da organização. Foi uma saída ponderada, que deixou alguns “danos emocionais”. Mas como Sandra Oliveira acredita que “o mundo é repleto de oportunidades”, estar desempregada fez com que pessoas que conheciam o seu percurso entrassem em contacto para projetos de reestruturação, na área da saúde. Recebeu todos de braços abertos e, quando deu por si, estava a lançar a sua própria empresa de consultoria e apoio em reestruturações, otimização e gestão de clínicas.

Ao longo deste processo, e porque Sandra acredita ser “uma pessoa de missões e desafios”, aceitou o cargo de Diretora Executiva na empresa onde atualmente se encontra, a Lumilabo. Desde junho de 2023 que se dedica a este laboratório de análises clínicas. Numa fase inicial, tratava-se de um “projeto parecido com os outros, de consultoria, apoio à gestão, reestruturação, implementação e melhoria de procedimentos através da Filosofia de Melhoria Contínua”, mas rapidamente se tornou “numa presença, dedicação e envolvimento”, que culminou num compromisso de aceitar o cargo de chefia.

Apesar de ser um setor muito desafiante e complexo, Sandra Oliveira confessa que tem sido muito gratificante. “Além de excelentes profissionais, com uma experiência notável, tenho a sorte de trabalhar diariamente com boas pessoas e isso faz toda a diferença”, conta, destacando o local de trabalho como um “lugar de presença e apoio difícil de encontrar”. Como Diretora Executiva, é o rosto responsável pela implementação das estratégias definidas pela Administração, assegurando a gestão operacional, o crescimento sustentável e a coordenação da equipa para alcançar os objetivos. Já instituiu uma cultura de melhoria contínua, com processos e procedimentos mais ágeis, definição de tarefas e responsabilidades, promovendo um alinhamento mais eficiente entre as equipas. No futuro, “gostaria de expandir os serviços e contribuir de forma positiva para o setor da saúde, em especial na área da prevenção, colocando a empresa como referência”, revela.

É por isso que crê que a decisão de se ter despedido foi crucial para o presente que hoje tem a sorte de poder viver. “Acredito que o meu percurso, um pouco fora do tradicional, as minhas origens e experiências fazem de mim a profissional que sou hoje, prática e pragmática”, declara.

Para Sandra Oliveira, o aspeto mais desafiador da sua carreira tem sido, sem dúvida, a liderança de pessoas.

“Liderar exige muito mais que gerir, é preciso inspirar, comunicar com empatia, adotar sempre a postura e atitude corretas a cada situação, além de se ter de formar e motivar a equipa”, confidencia. No seu entender, existe “uma certa romantização e banalização da liderança”, muitas vezes retratada nas redes sociais “com frases bonitas” que, aos seus olhos, se encontram muito longe da verdade. Explica que “a lide- rança é um trabalho árduo, tantas vezes solitário e mal compreendido, exigente, de grande responsabilidade” e onde se está constantemente em aprendizagem.

Em determinado momento da sua vida, a curiosidade aguçou-se sobre o coaching e partiu à procura de compreender melhor o conceito. Como líder, interessava-se particularmente por livros de desenvolvimento pessoal e de autoajuda, que a faziam refletir e colocar em prática o que lia. Este “mundo” começou a expandir-se e a curiosidade cresceu junto com ele. A cada leitura, tornava-se mais consciente e descobria ferramentas para lidar com as adversidades, tendo até aproveitado um momento mais atribulado profissionalmente para realizar certificações em coaching.

“Devo dizer que encontrei muito mais do que o que procurava”

Acredita que “a profissional é a pessoa”, pois “tudo o que nos acontece, experienciamos, vivemos e aprendemos reflete-se em quem somos”. Aos seus olhos, estamos sempre em construção, não valendo a pena realizar cursos e certificações se formos com a convicção de que já sabemos tudo e não há nada a melhorar. “A pessoa que sou hoje é o somatório de tudo o que aprendi e vivi, e continuarei a fazê-lo”, acrescenta.

Durante toda a sua carreira, Sandra Oliveira tem tido a sorte de se cruzar “com pessoas repletas de lições, histórias de sacrifício, luta, risco, dedicação, que vingaram nas adversidades, criaram empresas com valores inabaláveis” que a inspiram diariamente. Entrega-se a tudo por inteiro, enriquecendo os seus clientes e deixando também que eles enriqueçam a sua vida. Pensa que “todo o trabalho a encontrar um rumo vai além dos resultados profissionais, é um processo também de autoconhecimento e realização pessoal”.

O que Sandra Oliveira ainda almeja alcançar “vai além de títulos ou funções”. Quer continuar a crescer como líder, aprendendo com quem a rodeia e apoiando novos talentos. Encara o conceito de sucesso como sendo algo subjetivo, que tem sofrido alterações ao longo do tempo. No entanto, considera de extrema relevância a permanência do “respeito aos próprios valores”, como a humildade, a honestidade,
a lealdade e a dedicação. Em específico para todas as mulheres, Sandra Oliveira sublinha que também “é essencial não permitir que o facto de ser mulher se torne uma limitação, ou que isso defina o lugar que ocupa”, porque “liderar é sobre competência, visão e caráter, independentemente do género”.

Incentiva todas as líderes no feminino com o seu próprio exemplo: “comecei com o salário mínimo, cresci dentro da empresa, fui para a universidade aos 30 anos e nunca me deixei restringir pelas circunstâncias ou pelo facto de ser mulher, nem deixei que o fizessem”. Já passou por situações em que a tentaram humilhar por conta da sua origem humilde, mas onde muitos podem ver vergonha, Sandra apenas sente orgulho.

“As minhas raízes são um orgulho e fonte de inspiração, de onde vim só reforçou, e continua a reforçar, a minha determinação. Não é por eu vir de onde venho que vou aceitar que me tratem assim, é por eu vir de onde venho que não o vou permitir”, declara com honra. Na sua perspetiva, não há limitações, e “o sucesso, seja o que isso for, não é algo que nos é dado, mas algo que conquistamos”.