Num tempo que exige mais proximidade e humanidade na justiça, Anabela Veloso lidera com coragem e visão. À frente da Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução, a Bastonária revela, nesta entrevista exclusiva, os desafios da profissão e o papel transformador da liderança feminina num setor marcado pela tradição.
Os Desafios da Profissão: Entre a Complexidade Jurídica e a Transformação
Digital
Durante décadas, os solicitadores e agentes de execução desempenharam um papel essencial na engrenagem da justiça portuguesa. São profissionais que, embora muitas vezes invisíveis ao grande público, garantem que os mecanismos legais funcionem com eficácia, proximidade e rigor. No entanto, o século XXI trouxe consigo uma nova realidade: um sistema jurídico mais complexo, mais competitivo e profundamente marcado pela transformação digital. A profissão de solicitador e agente de execução vive hoje um momento de transição. A Bastonária identifica como principal desafio a afirmação clara do papel destes profissionais num sistema jurídico cada vez mais competitivo e complexo. “Vivemos um contexto particularmente exigente, em que a justiça procura ser mais célere, acessível e tecnologicamente evoluída.”
A digitalização, longe de ser apenas uma tendência, tornou-se um imperativo. A adaptação às novas ferramentas exige não apenas competências técnicas, mas também uma redefinição profunda dos processos e rotinas profissionais. “A adaptação às exigências da digitalização é outro eixo central — não apenas na utilização de novas ferramentas, mas na redefinição de processos e rotinas profissionais.” Este cenário exige uma resposta robusta: formação contínua, inovação e proximidade com os associados. São estes os pilares que, segundo Anabela Veloso, garantem uma profissão sólida, moderna e indispensável à justiça em Portugal.
Reforçar a Proximidade: Uma Ordem Mais Presente e Participativa
A liderança da Bastonária é marcada por um compromisso claro com a proximidade — não apenas com os profissionais da OSAE, mas também com os cidadãos. Durante muito tempo, as ordens profissionais foram vistas como estruturas distantes, quase burocráticas, que funcionavam em circuitos fechados e pouco acessíveis. Mas essa imagem está a mudar — e a mudança começa com uma liderança que escolhe estar presente, escutar e agir. A Bastonária da OSAE assume esse compromisso com clareza e convicção.
“Um dos compromissos centrais da nossa missão é construir uma Ordem mais presente, próxima e verdadeiramente útil”
A proximidade não é apenas uma palavra bonita em discursos institucionais. É uma prática. É uma escolha diária. E essa escolha tem vindo a materializar-se através de uma estratégia de descentralização que leva a Ordem aos quatro cantos do país. Em vez de esperar que os profissionais se desloquem até à sede, a OSAE desloca-se até aos profissionais. Cria espaços de diálogo direto, promove encontros regionais, escuta os desafios locais e valoriza o trabalho feito no terreno. Esta abordagem tem um impacto profundo. Os associados sentem-se vistos, ouvidos e respeitados. A confiança institucional cresce. E a Ordem deixa de ser uma entidade abstrata para se tornar uma presença concreta na vida profissional de cada solicitador e agente de execução. “Estamos a investir numa comunicação mais clara, acessível e eficaz, reforçando canais digitais e presenciais que nos aproximem das pessoas.”
A comunicação é outro eixo fundamental desta proximidade. A OSAE tem apostado em canais digitais mais intuitivos, plataformas de contacto direto, eventos presenciais e conteúdos informativos que tornam a relação com os associados mais fluida e transparente. Esta aposta não é apenas tecnológica — é relacional. Porque comunicar bem é, acima de tudo, saber escutar. Mas a proximidade não se limita aos profissionais. A Bastonária acredita que a Ordem tem também um papel ativo junto da sociedade civil. E é aqui que entra a literacia jurídica — uma das ferramentas mais poderosas para aproximar os cidadãos da justiça.
“Temos a responsabilidade de contribuir para que os cidadãos compreendam melhor os seus direitos, os mecanismos da justiça e o papel das profissões jurídicas.” Num país onde o sistema jurídico é frequentemente visto como complexo, distante ou intimidante, promover a literacia jurídica é um ato de cidadania. É ajudar as pessoas a compreenderem os seus direitos, a saberem como agir perante conflitos, a conhecerem os profissionais que podem ajudá-las. É transformar o desconhecido em acessível. O técnico em aliado. A justiça em confiança.
A OSAE tem desenvolvido iniciativas nesse sentido: sessões informativas em escolas, parcerias com autarquias, conteúdos educativos em plataformas digitais, campanhas
de esclarecimento público. Cada ação é uma ponte. Cada explicação é um passo em direção a uma sociedade mais informada, mais justa e mais participativa. A liderança da Bastonária é, assim, marcada por uma visão que une o institucional ao humano. Que vê na proximidade não apenas uma estratégia, mas uma missão. Que acredita que uma Ordem forte é aquela que está presente — nos gabinetes, nas ruas, nas comunidades, nas decisões. E é essa presença que transforma. Que inspira. Que constrói uma nova forma de estar na justiça.
A Digitalização como Ferramenta de Justiça
A justiça, por natureza, é um sistema que se constrói sobre regras, procedimentos e garantias. Mas num mundo em constante aceleração tecnológica, manter esse equilíbrio entre rigor e inovação tornou-se um dos maiores desafios institucionais. A Bastonária da OSAE encara esse desafio com lucidez e ambição: integrar a tecnologia como aliada da justiça, sem perder a sua dimensão humana. A tecnologia é vista por Anabela Veloso como um meio, e não um fim, para alcançar uma justiça mais eficiente e centrada nas pessoas. “A digitalização não deve ser vista como um fim em si mesmo, mas como um meio para alcançar uma justiça mais eficiente, acessível e centrada nas pessoas.” Esta afirmação revela uma visão estratégica que vai além da simples adoção de ferramentas digitais. A digitalização, para a OSAE, é uma oportunidade para redefinir processos, simplificar rotinas, aumentar a transparência e aproximar os cidadãos do sistema jurídico. Mas é também uma responsabilidade: garantir que essa transformação seja segura, ética e inclusiva.
Entre as iniciativas prioritárias da Ordem está o investimento na interoperabilidade entre plataformas digitais. Num ecossistema jurídico onde coexistem tribunais, advogados, solicitadores, agentes de execução e cidadãos, a capacidade de comunicar entre sistemas é essencial. A fragmentação tecnológica gera atrasos, erros e frustrações. A integração, por outro lado, promove fluidez, confiança e eficácia.
“Queremos investir na interoperabilidade entre plataformas digitais, no reforço da
segurança e fiabilidade dos sistemas utilizados pelos profissionais”
A segurança dos sistemas é outro eixo crítico. Num tempo em que os dados jurídicos são sensíveis e valiosos, proteger a informação tornou-se uma prioridade absoluta. A OSAE tem apostado em infraestruturas robustas, protocolos de encriptação, formação em cibersegurança e auditorias regulares para garantir que os profissionais operam num ambiente digital fiável e protegido. A tecnologia, quando bem aplicada, tem o poder de descomplicar. A OSAE está a desenvolver e implementar ferramentas digitais que simplificam procedimentos, tanto para os associados como para os cidadãos. Desde plataformas de gestão de processos até sistemas de comunicação direta com os clientes, cada inovação tem como objetivo tornar o trabalho mais ágil e a justiça mais acessível. Mas a Bastonária alerta: a inovação não pode ser desumana. A tecnologia deve servir as pessoas — não substituí-las. Deve facilitar o contacto, não eliminá-lo. Deve aumentar a eficiência, sem comprometer a empatia. “A modernização segura da infraestrutura tecnológica e das plataformas existentes é essencial para reforçar a confiança no sistema de justiça.”
A transformação tecnológica exige também uma mudança de competências. A OSAE tem investido em formação específica na área digital, preparando os profissionais para lidar com novas ferramentas, novas linguagens e novos desafios. Esta formação não é apenas técnica — é estratégica. Ensina os associados a pensar digital, a agir com segurança e a inovar com responsabilidade. A Bastonária reconhece que a tecnologia pode ser intimidante para alguns profissionais, especialmente aqueles que atuam em contextos menos urbanos ou com menos recursos. Por isso, a Ordem tem promovido uma abordagem inclusiva, com programas adaptados, suporte técnico personalizado e momentos de partilha entre colegas.
A digitalização da justiça não é um destino — é um caminho. E esse caminho deve ser trilhado com prudência, visão e compromisso. A OSAE, sob esta nova liderança, está a construir uma justiça digital que não esquece o essencial: as pessoas. Porque no centro de cada processo, de cada plataforma, de cada inovação, está sempre um cidadão que procura respostas. Um profissional que procura servir. Uma sociedade que procura confiar. E é essa confiança que a tecnologia deve reforçar — nunca substituir.
Liderança Feminina: Diversidade, Empatia e Visão Estratégica
Durante décadas, o setor jurídico português foi dominado por uma representação masculina que, embora competente, não refletia a diversidade da sociedade nem a pluralidade de talentos que existem na profissão. A chegada de uma mulher à liderança da Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução marca, por isso, mais do que uma mudança institucional — representa uma viragem cultural, um momento simbólico e uma oportunidade de transformação. A presença de Anabela Veloso à frente da OSAE representa um marco na liderança feminina no setor jurídico. A Bastonária reconhece o impacto positivo da diversidade na tomada de decisões e na gestão institucional.
“A liderança feminina tem um impacto muito relevante no setor jurídico e, em
particular, na gestão de instituições como a OSAE”
A presença feminina em cargos de decisão traz consigo novas perspetivas, maior sensibilidade social, compromisso com a inclusão e uma abordagem mais colaborativa à gestão. Não se trata de substituir modelos anteriores, mas de enriquecer o espaço institucional com vozes que, durante muito tempo, estiveram à margem. A sua abordagem é marcada por uma liderança colaborativa, transparente e orientada para resultados — valorizando o mérito e a competência, independentemente do género. “Acredito que liderar com proximidade, escuta ativa e visão estratégica é essencial para inspirar confiança — dentro e fora da OSAE.” Este modelo de liderança não apenas reflete a realidade atual da profissão, como também inspira uma nova geração de mulheres a assumir papéis de destaque na justiça.
Pilares Estratégicos do Mandato 2025–2028
Liderar uma Ordem profissional é mais do que gerir estruturas — é desenhar
caminhos. É antecipar desafios, mobilizar vontades e construir soluções que resistam
ao tempo. O mandato da Bastonária Anabela Veloso para o quadriénio 2025–2028 assenta numa estratégia clara, integrada e ambiciosa, sustentada por cinco pilares fundamentais que orientam cada decisão, cada projeto e cada ação. A atuação da Bastonária para o próximo quadriénio assenta em cinco pilares estruturantes:
Valorização da profissão
Proximidade com os associados
Cultura de inovação e digitalização
Qualificação profissional
Confiança dos cidadãos no sistema de justiça
“Estes eixos estratégicos traduzem uma visão integrada, moderna e ambiciosa da missão da OSAE.” Cada pilar é desenvolvido com ações concretas, que visam responder às exigências do presente e preparar o futuro da profissão. Os cinco pilares do mandato não são apenas linhas orientadoras — são expressões de uma liderança com propósito. Cada um deles traduz uma dimensão da missão da Bastonária: valorizar, escutar, inovar, formar e aproximar. Juntos, constroem uma Ordem mais forte, mais humana e mais preparada para os desafios do século XXI. Uma Ordem que não se limita a gerir — mas que transforma. E é essa transformação que marca este mandato. Uma transformação feita de ideias, de ações e de pessoas.
Formação Contínua: Uma Ferramenta de Crescimento e Ética
Num mundo jurídico em constante mutação, a formação contínua deixou de ser uma opção — é uma exigência. A complexidade crescente das matérias legais, a digitalização dos processos e a evolução das expectativas sociais exigem profissionais preparados, atualizados e versáteis. A Bastonária Anabela Veloso assume a formação contínua como um verdadeiro alicerce da valorização profissional. Não apenas como resposta técnica, mas como instrumento de empoderamento, confiança e excelência. A Bastonária destaca a diversidade das realidades profissionais e a necessidade de programas ajustados a essas especificidades. “Sabemos que um profissional que atua numa grande cidade enfrenta desafios diferentes de quem exerce em zonas mais interiores.” A oferta formativa inclui ações presenciais e à distância, abordando temas atuais e práticos. A aposta na descentralização da formação reforça a coesão entre colegas e promove a atualização constante. “A formação contínua não é apenas uma exigência estatutária — é uma ferramenta essencial de valorização profissional e pessoal.”
Justiça Acessível: O Papel da OSAE na Transformação Social
A justiça não vive apenas nos tribunais — vive nas relações, nas decisões quotidianas, nos direitos e deveres que moldam a vida em sociedade. E para que cumpra verdadeiramente a sua missão, a justiça tem de ser próxima: próxima na linguagem, na acessibilidade, na empatia e na confiança. A Bastonária Anabela Veloso assume este princípio como um dos eixos centrais do seu mandato. Porque uma justiça distante é uma justiça incompleta. E os profissionais da OSAE têm um papel essencial na construção dessa ponte entre o sistema e os cidadãos.
A OSAE tem um papel central na construção de uma justiça mais acessível, transparente e eficiente. Os solicitadores e agentes de execução são, muitas vezes, o primeiro ponto de contacto dos cidadãos com o sistema jurídico. “Cabe-nos garantir que esse contacto se faz de forma humanizada, clara e eficaz.” A Bastonária acredita que a confiança na justiça começa na proximidade e na clareza da informação. A Ordem continuará a ser um agente ativo nesta transformação. “Acreditar numa justiça acessível é afirmar o compromisso com uma sociedade mais justa, mais informada e com maior confiança nas suas instituições.”
Legado e Futuro: Uma Profissão com Propósito
A força de uma instituição não reside apenas na sua estrutura — reside nos seus valores. Ética, transparência e responsabilidade são os pilares invisíveis que sustentam a confiança, a legitimidade e o respeito. São o que distingue uma liderança eficaz de uma liderança exemplar. A Bastonária Anabela Veloso assume estes princípios como fundamento da sua atuação. Porque liderar a OSAE é mais do que representar — é servir com consciência, decidir com integridade e agir com responsabilidade. O futuro da profissão é visto com esperança e confiança. Anabela Veloso deseja deixar um legado de valorização, modernidade e ética. “Mais do que técnicos do direito, somos agentes de proximidade, justiça e confiança para os cidadãos.” O seu compromisso é com uma classe profissional unida, preparada e respeitada — capaz de enfrentar os desafios com coragem e dignidade. “Quero deixar um legado que inspire orgulho: uma classe profissional valorizada, moderna, unida e eticamente comprometida com o serviço público.”
Liderar com Propósito, Inspirar com Ação
A entrevista com Anabela Veloso revela uma liderança que não se limita à gestão institucional. É uma liderança com propósito, que valoriza as pessoas, promove a justiça e constrói pontes entre o presente e o futuro. A Bastonária da OSAE representa uma nova geração de líderes que compreendem que a transformação começa na escuta, na proximidade e na coragem de fazer diferente. E é essa coragem que marca cada palavra, cada ação e cada visão partilhada nesta conversa.