Primeiro a felicidade, depois o sucesso

Cristina Vaz de Almeida, PhD . Presidente da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde (SPLS)
Cristina Vaz de Almeida, PhD . Presidente da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde (SPLS)

A literacia em saúde envolve um processo dinâmico de capacitar as pessoas e aumentar o controlo que elas podem ter, de forma individual ou em grupo, para melhorar sua saúde através de um melhor acesso, compreensão e uso de recursos de saúde. Significa mais competências e estas geram mais motivação para agir. A Estratégia Europeia de Cuidados de Saúde apela para a transição para uma prestação de modelos de cuidados que promovam a saúde, a equidade e o bem estar. Assim, não há saúde sem bem-estar e equilíbrio.

Na definição do governo australiano, o bem-estar não é apenas a ausência de doença ou enfermidade: é uma combinação complexa de fatores de saúde física, mental, emocional e social de uma pessoa. O bem-estar está fortemente ligado à felicidade e à satisfação com a vida. Esta definição traz um avanço significativo sobre a definição de saúde e mostra como a autoperceção das pessoas sobre a forma como se sentem perante a vida é um ato único que pode e deve ser trabalhado através de políticas públicas.
O Centro de Controlo de Doenças dos Estados Unidos (CDC) referiu que saúde e bem-estar são apenas um. Assumir esta integração dos conceitos permite-nos defender uma literacia em saúde que desenvolve competências das pessoas que as conduzem a um estado de saúde e de bem-estar.

Quando se sabe aceder, compreender e usar os recursos tudo parece mais fácil e as decisões são mais acertadas. Há por isso menos erros, mais resultados em saúde e maior bem-estar.

Para além dos cuidados, que representam um leque de atividades que permitem a uma pessoa necessitada de apoio e viver da forma mais independente possível, a prevenção da doença e a promoção da saúde fazem parte da matriz da literacia em saúde.

A literacia em saúde implica que a pessoa consegue participar ativamente na sociedade e beneficiar de serviços que maximizem a sua capacidade usufruir de todos os direitos humanos. Porque quando se tomam decisões acertadas em saúde, os benefícios de uma vida melhor aumentam como por exemplo: decido que prefiro ir a pé pelo caminho até casa, em vez de ir de transportes: decido que como uma salada com peixe em vez de batatas e de carne com muita gordura; decido que relaxo o meu espírito com uma ida à beira mar em vez de ficar esticada no sofá todo o dia a ver televisão. A vida é feita de várias opções, e as que tomamos que provocam melhor saúde, acabam por promover o bem-estar.

A Estratégia Europeia de Cuidados de Saúde oferece as orientações para incorporar a Economia do Bem-Estar nas políticas e sistemas. O que é precisamos fazer?

1. Acompanhar publicamente a transição para uma economia de bem-estar junto
dos meios de comunicação, social e todos os stakeholders.
2. Mostrar a todas as organizações o que elas têm feito de positivo, evidenciando
mesmo que pequenos passos.
3. Construir uma Agenda de Bem-Estar de rotina semanal para as comunidades
poderem praticar, partilhar e copiar.
4. Desenvolver ferramentas de governança que promovam uma transformação no
pensamento sistémico- juntar gestores, criativos, investigadores, trabalhadores
no terreno.
5. Evidenciar as boas práticas para reforçar a saúde pública na comunidade e nas
organizações.
6. Fazer uma regular prestação de contas para uma economia do bem-estar.
7. Fomentar um ambiente de respeito entre todos os participantes e regras de
ética.
8. Identificar os passos claros (objetivos + estratégias) do caminho para um
crescimento sustentável local, regional e nacional.
9. Incentivar a governança participativa e inclusiva: “todos mandam, mas com
razão.”
10. Listar o que são efetivamente boas práticas para uma sociedade do bem-estar.
11. Melhorar as lideranças com responsabilidade e formar lideranças.
12. Mostrar o que tem sido feito a nível nacional e fazer pontes internacionais.
13. Racionalizar mais a economia do bem-estar através de dados concretos para
uma gestão eficaz.

Ao melhorar os níveis de literacia em saúde e por isso mais competências que geram
motivação para a ação em saúde e bem-estar, conseguimos contribuir para um melhor crescimento sustentável. Ao priorizar a literacia em saúde nas áreas dos cuidados, prevenção da doença e promoção da saúde, priorizando o bem-estar, contribui-se para uma redução da pobreza, exclusão social e a solidão que afetam tantas pessoas, sobretudo as mais velhas.
Por outro lado as organizações mais literadas devem melhorar os seus indicadores de desempenho e a liderança apoiar as transformações promotoras de literacia em saúde; devem apoiar a incorporação da promoção de saúde nos modelos assistenciais; partilhar as boas práticas fortalecendo a colaboração entre os setores de saúde, social, educacional e formação; por ao serviço da organização e dos seus colaboradores as tecnologias digitais que apoiem modelos integrados de atuação.
Podemos assim afirmar que na literacia em saúde e bem-estar, primeiro deve surgir e
haver investimento na felicidade como refere António Damásio, e depois vem o
sucesso.