Há quem saiba desde pequeno o que quer ser quando for grande, como é o caso de Maria João Antunes, que sempre soube que queria ser líder e estar ligada às pessoas. Já experienciou um pouco de tudo, desde a área de recursos humanos à gestão e coaching, e o seu mais recente livro “Empoderamento Feminino em Ação….” é apenas mais uma das várias conquistas que comprovam que se lutarmos pelos sonhos, eles concretizam-se.
O que a motivou a licenciar-se na Universidade Europeia em Recursos Humanos? Foi algo que sempre quis?
Quando pensei em licenciar-me esteve sempre na minha mente, contacto com pessoas, gerir pessoas, acho que desde jovem gostava de ser líder, portanto para mim foi logo muito claro, gestão de recursos humanos. A Universidade Europeia na altura surgiu porque era a única universidade portuguesa que tinha este curso reconhecido pelo Ministério como Licenciatura. Foram 5 anos muitos intensos, porque eu quis casar cedo, fui trabalhar e só depois em regime noturno voltei à escola. Saía de casa às 7.30m da manhã chegava cerca das 0h, em transportes públicos entre Lisboa e Almada. Além de que no 1.º ano de faculdade fiquei grávida, portanto foram 5 anos de luta, de resiliência pois combinar esta trilogia, trabalhar, estudar e ser mãe, foi obra! Mas consegui alcançar os meus objetivos. Claro que tive uma ajuda e uma pareceria enorme do meu marido que sempre me apoiou e tomou conta da filha, que, diga-se, nunca me cobrou as ausências. Realço que é fundamental existir sintonia, acordos entre os casais, sem que, pelo fato de ser mulher, se deva subjugar aos ideais do par. Os direitos têm de ser iguais, mas porque não hão-de ser?
Ao longo da sua carreira, foi diretora de Recursos Humanos de várias empresas. Quais são as maiores dificuldades desse cargo tão relevante numa empresa?
Neste tema há que avaliar várias premissas, em primeiro lugar um líder, em qualquer área, tem de gostar de pessoas, precisa de ser empático, respeitador, diria que estas dimensões são elementares. Felizmente sempre tive este fator a meu favor, o que me facilitou o desenvolvimento dos projetos em que apostei. Segunda premissa, as empresas são diferentes, desenvolvem culturas próprias e quando mudamos de empresa precisamos de ter este fator na mente. O pior erro é tentar fazer um copy past da gestão de uma empresa para a outra, por tal a nossa da capacidade de adaptação e flexibilidade é indispensável para sermos bem sucedidas. Colocaria a questão pela positiva, para enfrentarmos grandes desafios em posições desta natureza precisamos das 2 premissas que refiro, mas é fundamental sermos competentes, porque a função de RH tem sempre enorme exposição, pelo que, a competência na área, o respeito por todos, a autoconfiança e a resiliência são determinantes para o sucesso. Quando digo competência quero referir-me ao saber ser líder por um lado e por outro entender a importância de colocar em prática as melhores ferramentas na gestão das pessoas, que deve sempre estar alinhada com o propósito e com a estratégia da empresa.
Ou seja, há que saber lidar com as diferenças individuais e coletivas e aplicar a melhor estratégia em alinhamento com o topo, se assim for as dificuldades tornam-se desafios. Esta situação é enriquecedora porque dá-nos endurance e experiência para superar os desafios com sucesso, sem se cair em situações de burnout ou de frustração, enfrentando novos desafios com maior facilidade.
Já desempenhou várias funções e esteve em vários cargos. Qual foi, até hoje, o maior desafio da sua carreira profissional?
Na verdade, eu tive vários desafios e todos eles de grande revelo não consigo citar apenas um. Abrir uma operadora de telemóvel em tempo record, onde tive a responsabilidade de recrutar cerca de 500 profissionais em áreas que eram escassas no mercado, foi um desafio brutal. Foi uma carga horária de trabalho elevadíssima, mas posso orgulhar-me de ter feito parte do lançamento da Optimus em Portugal, a atual NOS. Ao abordar, agora, este tema lembrei-me de que quando sai deste projeto a minha equipa ofereceu-me um relógio para que no futuro pudesse chegar a casa a horas decentes, gestos que nos tocam e que nunca nos esquecemos. Ter tido a responsabilidade de assegurar a formação para cerca de 1000 colaboradores do Continente do Centro Comercial do Colombo num momento em que se preparava a Expo e os recursos humanos eram escassos, foi outro grande desafio. A formação decorria em Cascais, foi uma logística complexa, um stress, mas superado. Um desafio tremendo é ter de fazer reestruturações, que envolviam centenas de pessoas e, assegurar que todo o processo é realizado com dignidade. Estes processos também me passaram pelas mãos.
Num percurso profissional que se tem vindo a revelar de sucesso, a Maria João já experienciou realidades bastante diferentes. Começou por estar ligada ao setor dos Recursos Humanos, Gestão, em várias áreas de negócios, entretanto, teve a experiência como Coach e Mentora em Liderança Feminina. O que é que muda, quando se trabalha em setores de atividade tão distintas bem como nas diferentes áreas de negócios onde trabalhou?
Eu fui afortunada nas experiências pois integrei realidades e culturas empresariais completamente distintas o que me permitiu desenvolver uma forte competência intercultural, trabalhei com CEOs de pelo menos 6 nacionalidades, convivi com colegas de várias dezenas de geografias, face às reuniões e trabalhos que tínhamos nas multinacionais por onde passei. Trabalhei em setores de atividades bem diferentes, fábrica, ambientes mais tecnológicos, catering, outros mais comerciais. Na diversidade precisamos de nos ajustar, de criar humildade para perceber onde estamos e apenas agir depois. O foco são sempre as pessoas, seres humanos, com ambições, circunstâncias diversas e naturalmente expetativas. O que muda é a nossa forma de percecionar a realidade e desenvolver a melhor estratégia para atingir os resultados adaptados à cultura e ao tipo de profissionais. Entre trabalhar no corporativo como DGRH ou administradora e ser mentora e coach por minha conta, muda muita coisa, embora exista um grande denominador comum, as pessoas.
Trabalhar em setores de atividade distintos e em diversas áreas de negócios proporciona uma riqueza de experiências que contribui de sobremaneira para o desenvolvimento pessoal e profissional. Esta diversidade foi crucial para moldar as minhas competências, visão e abordagem no trabalho, tornando-me uma profissional versátil e adaptável, condições indispensáveis quando trabalhamos em mentoria e coaching. Quando se está num cargo de gestão de uma empresa a abrangência é global, tratamos da cultura organizacional e da gestão das pessoas. Enquanto mentora/ coach o trabalho é one to one, é irmos ao detalhe, temos de nos centrar em quem está à nossa frente. Na verdade, são vertentes de trabalho distintas embora o foco seja o mesmo as pessoas e o seu desenvolvimento.
Como surgiu o interesse no Coaching?
Eu acho que nasci com uma missão de vida, ajudar as pessoas, quer no seu desenvolvimento, quer a nível mais pessoal em contexto familiar. Tenho um grande sentido de solidariedade. O meu marido diz-me que eu quero ser a Madre Teresa de Calcutá, porque eu estou sempre disponível para ajudar o outro, mas atenção que não tenho a pretensão de ser como esta grande Senhora, só quero ser eu com estes meus valores e interesses.
Surgiu naturalmente no meu caminho esta poderosa ferramenta. Tive a preocupação de tirar o curso de executive coach numa escola credível. A minha vocação aleada à minha vida profissional na gestão de pessoas só poderia seguir este rumo nesta fase da minha vida profissional.
A Maria João tem obtido várias certificações, no- meadamente Internacional Coach, certificada por Sally Helgesen, americana, autora e palestrante de referência no Coach de Liderança Feminina, a certificação de Executive Coach pela Way Beyound, entre outros. Diria que a sua experiência académica foi determinante para a profissional que é hoje?Sem dúvida, a experiência académica passa-nos as bases elementares, dá-nos conceitos, desenvolve-nos capacidade de raciocínio, pensamento lógico. Proporciona-nos cultura, sabedoria, informação. É uma base que nos faz crescer. Eu senti muito este crescimento na vivência académica, até porque os professores eram excelentes, lembro-me de ter saído com uma bagagem ao nível do direito do trabalho que num dado contexto uma advogada me perguntou se era licenciada em direito. Óbvio que os cursos profissionais são um enorme complemento, fazem parte quer da nossa reciclagem quer na aquisição de novas competências ou aprendizagem de novos equipamentos. Ainda há pouco tempo comprei um curso de marketing digital para perceber o que se passa nesta área e acompanhar a evolução
Em resumo, a minha experiência académica foi crucial para o meu desenvolvimento e para a minha carreira profissional, não só me forneceu a base teórica e técnica necessária para avançar, mas também aumentou a minha autoconfiança e a minha credibilidade, que são fundamentais para se evoluir. A formação tem de ser um processo continuo, nunca podemos desistir de aprender e de lutar pelos nossos sonhos.
A sua ajuda a orientar o empresário e a empresa rumo à liderança, ajuda-a também enquanto pessoa a conhecer o seu sentido na vida?
Eu sempre tive um espírito de interajuda e sempre senti um grande sentido de missão, de fazer crescer as pessoas e crescer com elas. Acho que junto a esta minha propensão tive a sorte de, no início de carreira, num contexto formativo, um consultor referir que os colaboradores precisam de ajudar os seus líderes porque eles não sabem tudo. Integrei no meu mindset este conceito e, inclusive em formações que tenho dado abordo sempre este tema. Sempre procurei estar ao lado das minhas chefias para melhor poder servir os colaboradores no seu desenvolvimento e aumentar o seu compromisso, ajudando a empresa no seu todo a ser bem-sucedida.
Como já referi, reportarei diretamente a 6 nacionalidades de CEOs , pelo que era fundamental dar-lhes suporte e esta diversidade foi super enriquecedora, obrigando-me a refletir sobre as minhas motivações, paixões, competências e o propósito que me guia. Ajudar outros a descobrirem e alcançarem o seu potencial muitas vezes envolve um processo de autoconhecimento e reflexão sobre os próprios valores e objetivos.
Esta interação é uma oportunidade de aprendizagem. Conviver com diferentes perspetivas e experiências desafiaram-me a crescer e a querer expandir os meus horizontes, ajudando-me também a evoluir tanto profissionalmente quanto pessoalmente. Diria que se estabelece uma relação win-win.
Então quando sentimos que a nossa ação tem um impacto positivo, que conseguimos contribuir para o crescimento e sucesso de outros, sai reforçado o nosso sentido de utilidade e significado na vida. Por isso o meu propósito de vida foi-se desenvolvendo neste sentido, crescer, fazendo crescer, apoiar sendo apoiada.
A Maria é autora do livro “Empoderamento Feminino em Ação….”O que a inspirou a escrever esse livro?
Depois de ter saído do corporativo para trabalhar por conta própria, comecei a ter mais consciência dos dados entre os géneros, quer ao nível da desigualdade na retribuição quer a baixa percentagem de mulheres em cargos de alta direção. Achei os dados imorais e comecei a analisar mais sobre a paridade de género. Observei com maior detalhe os valores, as respetivas percentagens, factos históricos, li depoimentos de mulheres que se sentiram discriminadas, mas também de outras que foram empreendedoras e que alcançaram carreiras de sucesso. Após esta pesquisa geral, fiquei determinada na minha missão, querer contribuir para alterar os números existentes em posições de topo. Esta decisão teve por base este postulado:
“se eu fui crescendo profissionalmente e cheguei a administradora, sendo casada e mãe, porque não partilhar a minha história?”
pode ser que consiga inspirar mais mulheres a chegarem ao topo, quebrando o teto de vidro”, o chamado glass ceiling, conceito que inspirou a capa do meu livro.
Nós vivemos infelizmente num nundo machista e custa-me conceber que não exista igualdade de oportunidades no mercado de trabalho, e que muitas mulheres sejam maltratadas e rebaixadas.
Mas porquê? Somos ambos seres humanos, diferentes e ainda bem, que nos completamos, inclusive no meu livro fiz questão de colocar o estudo de uma cientista inglesa cuja motivação foi a de mostrar que não há base biológica em estereótipos!
Faz-me mal esta desigualdade e esta injustiça social, por tal quis deixar com este livro o meu pequeno contributo Nada melhor do que esta citação para exprimir o que sinto:
“Metade do mundo são mulheres a outra metade os filhos delas” parafraseando Éfu Nyaki.
O que ainda almeja alcançar?
O meu propósito hoje é querer contribuir para uma sociedade melhor, ajudar quem precisa e, por isso exerço 2 voluntariados, no âmbito da mentoria. Um na Fundação Manuel Violante onde capacitamos instituições do 3o setor, através de um poderoso programa de nome MILES IN THE SKY. O outro voluntariado na dNovo, onde desenvolvemos um conjunto de ações, para profissionais seniores desempregados, com 50 ou mais anos de idade, capacitando-os para se conseguirem reintegrar no mercado de trabalho.
A par do voluntariado desenvolvo a minha atividade profissional em processos de mentoring e coaching, mais pontualmente projetos no âmbito da estratégia de Gestão de Recursos Humanos. Resumindo. quero alcançar nesta fase da vida tempo para trabalhar, fazer voluntariado e ter tempo disponível para fazer o que me dá prazer, e, estou a conseguir!
Obviamente que dar-me-ia uma enorme satisfação pessoal se o meu livro pudesse inspirar e ajudar as mulheres a chegarem mais longe.
Como é que uma mulher pode ser uma Líder de sucesso? Vários aspetos a considerar para se ser líder de sucesso:
1.ª condição essencial – Querer ser líder, ter esta ambição. Se quiser, não pode deixar que nada a impeça. Eu fui mãe, fiz a licenciatura grávida, fiz a minha carreira e cheguei longe.
2.ª condição essencial – Gostar de pessoas, de falar com elas, de ter a preocupação de desenvolver equipas competentes, mas comprometidas. Preocupar-se com o bem-estar da equipa. Quem não valoriza o contato com pessoas, quem não pratica a empatia não deve seguir uma carreira de liderança.
3.ª condição – Preparar-se, estudar, ganhar experiência, manter-se atualizada – life long learning é um princípio fundamental de sucesso. Só assim se consegue estar atualizada para enfrentar desafios, aumentando a autoconfiante e ganhando credibilidade junto de todos.
4.ª condição – Nunca, mas nunca se deixar intimidar. Há que partir do princípio de que podem existir pessoas que quererem boicotar o nosso trabalho. Há que estar preparada para situações constrangedoras que podem surgir. Se estiver preparada não há quer ter receio é preciso ter consciência que vão existir sempre constrangimentos. Há que aceitar e saber lidar com eles.
5.ª condição – Criar um mindset vencedor – Eu sei, Eu quero, Eu vou fazer.
Se não conseguir sozinha há que pedir ajuda e está tudo bem, porque o ser humano não tem de ser perfeito nem tem de saber tudo. Eu pedi ajuda e ainda bem, tornei-me mais forte, enfrentei desafios com mais ferramentas e com maior tranquilidade.
Qual a mensagem que gostaria de passar a todas as mulheres e líderes?
A mensagem que gostaria de passar a todas as mulheres e líderes é a seguinte: Acreditem no vosso potencial e não tenham medo de sonhar grande! Valorizem a autenticidade, sejam verdadeiras com vo- cês mesmas e com os vossos valores. Sejam corajosas, aproveitem as oportunidades, não as deixem fugir e se falharem à 1a, está tudo bem faz parte, levantem-se e continuem o caminho, sejam persistentes. Se confiarem em vocês não há que ter receio, os homens quando lhes surgem oportunidades agarram-nas sem pensarem muito, são mais afoitos, as mulheres por norma ponderam demais e muitas vezes deixam fugir o seu “momentum”!.
Nunca subestimem o poder do apoio mútuo, construam redes de solidariedade e de colaboração, pois juntas somos mais fortes e capazes de enfrentar qualquer adversidade.
A liderança não é apenas sobre alcançar o topo, mas é também sobre inspirar e capacitar os outros ao longo do caminho e está provado que a mulher tem muito talento neste campo.
Eu sei que há um caminho ainda grande a percorrer no campo da igualdade de género e de oportunidades, mas se nada fizermos em prol dos nossos direitos, nada vai mudar. Porque hão-de as mulheres terem na sociedade um papel inferior ao dos homens? Pensem nisto!
Eu nunca quis ser dona de casa, quis fazer uma carreira e lutei por ela. Quando existe união com outra pessoa há que saber gerir a relação e nunca deixar que lhes roubem os direitos. Ser mãe não tem de ser entrave, a pessoa com quem vivemos tem a obrigação de assumir a sua quota parte de responsabilidade. Se a mulher tiver essa ambição, não deve deixar que a maternidade a impeça, não deve permitir que a sociedade machista interfira.
Desenvolvam-se, a diversidade de experiências e perspetivas é uma força poderosa. Lembrem-se de cuidar do vosso bem-estar, da vossa saúde, uma líder equilibrada e saudável pode fazer a diferença no mundo.
Fortalecidas vão ver que vão conseguir, o vosso sucesso será certamente uma inspiração para muitas outras mulheres e líderes que ainda estão por vir. Eu consegui, porque é que vocês Mulheres, se quiserem, não vão conseguir?
Caso precisem de algum apoio, contem comigo, eu posso ajudá-las.
Persistam incansavelmente pelos objetivos que desejam alcançar, se isso as deixarem felizes!