Como Maria do Carmo Silveira se tornou “publicitária de coração e vocação”

Maria do Carmo Silveira, responsável do Ecossistema Saúde Médis, do Grupo Ageas Portugal

Desde os 14 anos que Maria do Carmo Silveira se interessa pela área de Marketing e Publicidade, tendo, já na universidade, se apaixonado por Marketing Estratégico. Com uma ilustre carreira com mais de duas décadas, é a atual responsável pela Orquestração Estratégica do Ecossistema de Saúde na Médis, do Grupo Ageas Portugal, onde tem demonstrado que, “com foco e muita disciplina”, tudo é possível. “Publicitária de coração e vocação” e “estratega por natureza”, Maria do Carmo da Silveira apresenta uma carreira de sucesso com mais de 20 anos, em inúmeros setores e empresas. Desde sempre interligada ao Marketing, aceitou um novo desafio, em 2021, ao tornar-se na responsável pela Orquestração Estratégica do Ecossistema de Saúde na marca Médis, da empresa Grupo Ageas Portugal, cargo de liderança que detém até à atualidade.

Natural do Alentejo, sempre “curiosa e teimosa”, Maria soube que queria ser “publicitária” com apenas 14 anos, quando viu a série Thirtysomething (Os Trintões, em português), que “contava a história de dois publicitários”. Apesar de “os testes psicotécnicos apontarem Direito, jornalismo ou investigação judiciária”, admite, a líder “soube que não era por aí”. Portanto, em 1994, decidiu realizar uma licenciatura em Ciências da Comunicação, pela Faculdade Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade NOVA de Lisboa, com especialização em Marketing e Publicidade, a qual pôde escolher no terceiro ano.

De acordo com Maria, este curso era a “‘moda’ da altura” e, face a outras licenciaturas semelhantes, “tinha incomparavelmente mais prestígio”. Contudo, a responsável admite ter pensado que a licenciatura lhe “daria uma formação melhor, mais completa e eclética, mais exigente”. Todavia, graças ao Dr. João Westwood, médico e responsável pela especialização em Marketing e Publicidade da NOVA FCSH, a líder conseguiu encontrar a “paixão que tem até hoje”: o Marketing Estratégico. Esta descoberta levou Maria a ponderar tirar uma pós-graduação nessa área, na King’s College, em Londres, mas rapidamente “foi seduzida por uma entrada fácil no mundo das agências de publicidade”, onde “a progressão era rápida e ganhava- se bem”.

Desta forma, assim que terminou a licenciatura, em 1998, a líder iniciou o seu percurso profissional, mais especificamente como estagiária de marca na empresa de publicidade Massa Cinzenta. Durante mais de duas décadas,  Maria trabalharia em “11 mercados e 36 marcas”. Assim, já deteve inúmeros cargos, desde Brand Account na Abrinício Publicidade e Marketing e manager de marca da firma Lintas até diretora de Estratégia na Lowe & Partners e na Cupido. Entretanto, em 2010, tornou-se na diretora de Estratégia de Marketing/Comunicação na VMLY&R (anteriormente Young & Rubicam).

Sempre com um desejo de “se desafiar” e “ir para fora de pé”, Maria encontrava-se num “nível muitíssimo confortável”, estando há “20 anos a trabalhar em publicidade” e, por isso, decidiu “fazer uma mudança de carreira, um recomeço”. Este recomeço surgiu com o seu mais recente cargo como responsável pela Orquestração Estratégica do Ecossistema de Saúde do grupo Ageas Portugal, a setembro de 2021, vindo, assim, de “uma área completamente distinta” e trazendo “uma energia desformatada”. Segundo a líder, a sua equipa tem como missão “transformar a Médis numa marca líder em saúde, muito para além de um seguro”. “É um enorme desafio, do qual tenho muito orgulho em fazer parte”, revela.

Contudo, “a vontade de estudar mais” permaneceu, afirma Maria. Deste modo, depois dos seus três filhos crescerem, a responsável voltou a “aventurar-se […] no reino académico” e, entre 2021 e 2022, realizou uma pós-graduação em Marketing, Estratégia e Inovação, na NOVA School of Business and Economics, em Lisboa. Logo a seguir, decidiu tirar um mestrado na mesma área de estudo e na mesma faculdade, o qual concluiu em 2023, referindo a líder que a realização deste curso foi “uma escolha natural”, pois a “faculdade e a área completavam a sua formação inicial e a experiência que foi adquirindo”. Através do seu percurso académico e das suas experiências profissionais, Maria conseguiu entender que a Estratégia associada ao marketing e à inovação é sem dúvida, o que quer fazer, o que sempre lhe entusiasmou e pretende “muito continuar por aí”, admitindo que um possível doutoramento “está nos seus planos, mas a seu tempo”. Na sua carreira ilustre de mais de 20 anos, já foram “muitos e bons os desafios” por que Maria atravessou, tais como os “pitches sucessivos”, que “eram sempre desafios interessantes” em que “ganhar […] tinha um sabor muito especial”.

Dos vários pitches, a responsável destaca o facto de ter ajudado a “manter na mesma agência durante 10 anos um cliente gigante” e de ter conseguido “um histórico de permanência máxima de 3 anos”, algo que “lhe deu um gozo bestial”, admite, e “que assegurou muitos postos de trabalho”. Outros dos exemplos realçados pela líder correspondem ao seu auxílio à Terra Nostra, até então conhecida apenas pelos seus queijos, no lançamento de um produto novo, “leite, com uma música que todos cantam até hoje”, e à sua contribuição para “o reposicionamento da Médis como serviço pessoal de saúde, que inspirou o rebranding”.

Nesta última empresa, Maria depara-se, atualmente, com um desafio que descreve como “muitíssimo aliciante” e que passa por “fazer algo novo”, tanto no mercado como na própria firma. Segundo a líder, com isto concretizado, a Médis passará brevemente a “ser vista como um ecossistema de saúde, aberto a todos” e, assim, “o companheiro pessoal de saúde de todos os portugueses”. Apesar das adversidades encontradas a nível profissional, Maria revela que o seu “maior desafio” foi “pessoal”: a maternidade. A líder admite que, “quando o primeiro [filho] nasceu”, “prometeu-lhe que ia deixar de ser tão career driven e dedicar-lhe toda a atenção que pudesse”. E assim o fez, durante 15 anos, altura em que “saía às quatro da tarde” e “ia todos os dias buscar os seus filhos à escola, seguindo-se uma ida ao jardim”, refere. Para a responsável, este horário “era um ponto prévio e assente sempre que negociava a ida para uma nova agência/desafio”, algo que foi sempre aceite pelos “superiores hierárquicos que foi tendo”, aos quais a líder oferece a “devida homenagem e agradecimento”, expressando que esta “exigência” foi “talvez das coisas que mais se orgulha de ter feito”.

Por aplicar este tipo de horário desde 2003, Maria admite ter sido a “precursora do modelo de trabalho flexível” ou até “de um modelo que permita uma parentalidade com presença” e, assim, demonstra que “alto desempenho e produtividade não exigem abdicar dos filhos ou da família”.

“Com foco e muita disciplina, é possível conciliar tudo”

Foco e disciplina não é o que falta a Maria na sua liderança, pois guia-se pela expressão “Bora lá”, uma espécie de lema de vida, e “tenta desafiar-se e desafiar quem trabalha consigo”, não sendo nem “hiper-racional analítica nem hiper-criativa”, algo que “joga a seu favor”. Defensora da ideia de que “cuidar dos outros é fundamental, sobretudo em cargos de liderança”, a responsável apresenta uma “enorme preocupação com a qualidade do que entrega e com o bem-estar dos que estão à sua volta” e até realça que “um dos quatro valores do Grupo Ageas Portugal” consiste exatamente no “valor care”.

Entretanto, Maria destaca a sua empatia, pelo facto de “conseguir colocar-se com facilidade no lugar e na cabeça do outro, sentir e perceber as suas «dores», antever o passo a seguir”, uma característica que “facilita muito” o seu trabalho, refere. Todavia, a responsável admite que detém “uma capacidade de trabalho muito grande”, que pode ser, “às vezes, cansativa” para a sua equipa, mas que acaba por ser “fundamental para conseguir jogar nos dois campos – profissional e pessoal”. Todas estas características da líder têm-lhe dado frutos ou, neste caso, prémios – com destaque para os Prémios à Eficácia –, os quais têm sido “uma constante”, confessa. Apesar de considerá-los “importantes e gratificantes” por constituírem “um reconhecimento”, Maria perceciona estes títulos como uma forma de “cristalizar o passado”, reiterando que “devemos encará-los não como ponto de chegada, mas […] como estimulantes para o futuro, para ir mais longe e fazer melhor”.

Para a responsável, “um líder é o que as suas equipas o deixarem ser” e “ninguém é insubstituível”, mas refere que “parte da sua função é mesmo tornar-se substituível” e, por isso, “passar aos outros o que sabe, fazê-los andar mais rápido e melhor do que ela andou”. Desta forma, são vários os planos e “os percursos possíveis” com os quais Maria “vai sonhando, moldando e afinando”, sendo um deles tornar-se docente, na “parte final do [seu] percurso”. Contudo, a líder afirma que “até lá há ainda muito por fazer” e que “a maravilha de hoje” é a possibilidade de “construir muitas carreiras numa vida só”, graças ao crescimento da esperança média de vida.

Como líder do sexo feminino, Maria admite que, “quanto mais alto se sobe, menos mulheres se vê nas posições de topo”; porém, revela que a mudança “já se sente e já se começa a ver”, destacando o facto de o Grupo Ageas Portugal possuir “várias […] mulheres em cargos de direção de equipas”. Assim, a líder diz sentir-se afortunada por “estar a viver na transição do paradigma e [por] poder contribuir para a mesma”. Para as mulheres que queiram atingir posições de liderança, como a sua, a responsável tem um simples mas “muito importante” conselho: “lutarem por aquilo que querem” e “acreditarem” e “serem fiéis aos seus valores e convicções”. ”Se o fizerem (e se reunirem pessoas boas à sua volta), o “universo” não dorme nem anda distraído”, realça Maria.

Defensora de que “as capacidades e características de liderança” dos homens e das mulheres são “apenas diferentes” e “ambas necessárias, pois complementam-se, equilibram-se”, Maria do Carmo Silveira afirma que uma liderança de sucesso não deveria estar associada ao género. Isto porque esta “consegue-se da mesma forma”, com trabalho, “foco” e a consciência de que “nada acontece por acaso, nem é fruto de uma pessoa só”, conclui.