Diz ter crescido no meio de tachos e panelas, deixou a aldeia que a viu crescer para estudar metereologia e, quando resolveu escutar o coração, tornou-se Home Stager Profissional. Nisa Crespo é o exemplo de que o esforço recompensa sempre, e a sua marca “Be My Guest” é a prova viva disso.
Nisa Crespo nasceu numa pequena aldeia do concelho de Leiria, com cerca de 500 habitantes, onde diz que se vive “em pleno o sentido de comunidade”. Costuma dizer que cresceu “no meio de tachos e panelas”, já que os pais tiveram um negócio na área da restauração, entre os seus cinco e 25 anos.
Aos 18, Nisa voou para fora do ninho e fez de Aveiro a sua nova casa, onde se licenciou em Meteorologia e Oceanografia Geofísica. Trabalhou na área como investigadora, mas a vida lá arranjou maneira de a encaminhar novamente para a restauração. Mais tarde, acabou por entrar para uma empresa no setor das energias, e aí permaneceu ao longo de 10 anos.
A ambição de um dia abrir um negócio por conta própria levou Nisa a pesquisar cursos numa área que sempre lhe despertou “interesse e admiração”: a decoração de interiores. Encontrou Rita de Miranda e com ela realizou a sua formação como Home Stager Profissional, certificando-se a nível nacional, europeu e internacional. Conta ter-se “apaixonado do profundamente por este mundo fascinante que é a transformação de imóveis e os resultados incríveis que o Home Staging consegue alcançar”. O certo é que, em meados de 2023, criou a sua própria marca – a Be My Guest.
Ir da metereologia para o Home Staging (não esquecendo os outros ramos que explorou) é como ir da água para o vinho, mas Nisa Crespo acredita que “todo o conhecimento que adquirimos ao longo da vida terá, em algum momento, a sua utilidade”. Afirma que o Home Staging chegou até si e não o contrário. Antes da formação, não estava familiarizada com o conceito, mas bastou ler um pouco sobre o assunto, “ver imagens de transformações incríveis e conhecer os resultados que a ferramenta alcança”, para perceber que poderia estar ali o seu caminho.
Coincidência ou não, por essa altura, Nisa procurava ideias para melhorar o aspeto da sua casa. “Sabia que o imóvel tinha muito potencial que estava por explorar, […] que podia conseguir vender por um melhor preço e mais rapidamente. E nem sabia que existia uma ferramenta cujo principal objetivo é esse mesmo”, comenta.
A Home Stager confessa que adora assistir à transformação pela qual os imóveis passam, e que a sua motivação é “conseguir ver o que o trabalho consegue atingir”. Ver um cliente que tem urgência em vender e a consegui-lo nos primeiros dias, ou alguém que fica radiante por comercializar o seu imóvel por um valor mais alto do que esperava, são situações que a deixam realizada.
“Faz-me querer cada vez mais ajudar quem me procura”.
A sua empresa, “Be My Guest”, dispõe de um amplo leque de serviços personalizados, que se adaptam “ao tipo de imóvel, à sua ocupação, às suas necessidades, ao orçamento do cliente, etc”. Prestam vários serviços, como Consultadoria, Relatório de Visita, Home Staging num Dia, Projeto de Home Staging, Foto Staging e “Open House”.A “Be My Guest” elabora orçamentos sem compromisso, após visita inicial ao imóvel.
Para Nisa, o mercado português, “na sua grande generalidade, não dá o devido uso ao Home Staging”. Tem consciência de que há agentes que o fazem, principalmente na zona de Lisboa, onde está concentrado o maior número de Home Stagers profissionais. Mas afirma que, nas regiões onde atua, nomeadamente Porto, Aveiro e Leiria, “a sua utilização é praticamente nula, […] não lhe é dado o valor que ela realmente tem”. Por outro lado, Nisa é da opinião de “que o facto desta atividade ser muito confundida com decoração de interiores pode levar a criar ideias pré-concebidas do que é realmente o Home Staging, e do que é capaz de fazer com tão pouco”.
“Cada caso, é um caso”, mas a Home Stager defende que existem ações fulcrais que não devem ser descoradas, seja qual for o imóvel que se tem em mãos: arrumar, organizar os diferentes espaços, despersonalizar, manter apenas o essencial, modernizar, conseguir uma boa iluminação em pontos estratégicos e manter uma limpeza profunda de toda a propriedade. Tudo isto são práticas levadas a cabo pela sua empresa. Quando o proprietário pretende vender ou arrendar o seu imóvel, existem três aspetos primordiais para ter êxito: colocá-lo a preço correto de mercado, fazer uma boa campanha de marketing (a fotografia ocupa um lugar de destaque) e prepará-lo com Home Staging. Posto isto, a tarefa do Home Staging “é tornar o imóvel mais apelativo à generalidade dos que o visitam”, destacando-o dos restantes. Numa primeira fase, os potenciais compradores apaixonam-se de imediato pelo imóvel, através de fotografias (já que a maioria utiliza portais online para procurar a sua futura casa). Isto aumenta os pedidos de visita e, posteriormente, permite que o cliente se conecte com o imóvel e se imagine a viver naquele espaço. Nisa confessa que “na realidade, a venda é um ato puramente emocional”. Se o potencial comprador não se ligar emocionalmente ao imóvel, a venda torna-se mais complicada. É aí que entra o Home Staging. Como diria Barb Schwarz, criadora do conceito, “Staging is a feeling”. Ou seja, é a experiência emocional e sensorial que os visitantes têm que os vai fazer dar o próximo passo.
Embora esteja há apenas alguns meses no mercado do Home Staging, e que por isso não consiga ter uma visão pessoal sobre as mudanças ocorridas nos últimos anos, Nisa Crespo entende que o comprador atual é muito mais exigente que antigamente. Atualmente, há uma maior atenção aos pormenores, bem como uma valorização acrescida da imagem e do aspeto do imóvel. A Home Stager afirma que, diferente do que acontece em território português, “a maioria dos compradores estrangeiros estão habitua- dos a ver um imóvel com aparência cuidada, pois o Home Staging nos seus países de origem é uma realidade adquirida e bastante utilizada”.
Infelizmente, Nisa Crespo acredita que uma das objeções ao uso do Home Staging em Portugal passa pelo valor do investimento. Existe a ideia de que é muito mais elevado do que aquilo que na realidade acontece. Crê que o tipo de cliente que manifesta mais rapidamente interesse pelos seus serviços é aquele que compreende que “o retorno compensa o investimento”.
A intervenção do Home Staging valoriza sempre o imóvel. Quando é realizado apenas o Home Staging, onde é feita a encenação dos diferentes espaços que compõem o imóvel com todo o material selecionado pelo profissional, o investimento total não deverá ultrapassar os 3%, sendo que a média anda em torno de 1% do valor do imóvel e, neste caso, a valorização será entre 7 a 10%. Depois há casos em que pode ser necessária a realização de algum tipo de intervenção a nível de obra antes de ser feita a preparação do imóvel com Home Staging. Nestas situações o investimento será mais alto, tal como o retorno (com valorizações acima dos 15% a 20%). No caso de maior sucesso que Nisa conhece, “o imóvel valorizou mais de 50%”.
Tendo crescido a ser educada de que “nada se consegue sem trabalho”, Nisa Crespo recorda-se de ter sempre “a responsabilidade incutida” pelos pais de que era necessário ajudar. Assim, tanto nos tempos de colégio como de faculdade, os fins de semana eram destinados ao restaurante. Dias como o Natal e a Páscoa não ficavam de fora, trabalhando igualmente durante as épocas festivas.
Contudo, sendo um negócio familiar, Nisa sublinha que ver “a mãe e a irmã a conciliar a sua atividade profissional com a vida familiar e doméstica”, fê-la “perceber o poder e garra das mulheres”. Diz nunca ter sentido algum tipo de discriminação de género, dentro do meio em que se insere, mas está consciencializada de que “na nossa sociedade, são notórias as diferenças de trato, as diferenças salariais, entre outras”. A Home Stager concorda que o caminho até à igualdade de géneros poderá ser longo, mas realça que “também cabe a cada uma de nós provar que não somos inferiores”.
Ao longo da sua jornada profissional, Nisa Crespo lidou com diferentes pessoas, fossem elas clientes, colegas ou chefias. Crê que o maior desafio passa por “conseguir lidar com diferentes indivíduos, de modo a levar o trabalho a bom porto”.
“Enquanto Home Stager, considera que um dos seus grandes desafios passa por educar os outros no sentido de conseguir que estes entendam realmente o verdadeiro potencial do conceito, desmistificando os vários mitos associados. Nisa Crespo julga que uma boa líder é “alguém que inspira e orienta os outros a serem cada vez melhores pessoas e melhores profissionais, através de valores como a empatia, a compreensão, o respeito, a honestidade, entre outros”. Crê também que “muito do que é preciso para se saber liderar e liderar da forma correta, não se aprende só em livros e manuais, mas na convivência com o próximo, e com os diferentes homens e mulheres que constituem a nossa sociedade”. No seu entender, é preciso ser-se alguém que “valoriza a diversidade, promove um ambiente inclusivo e capacita os outros a atingirem o seu máximo potencial”.
No fundo, Nisa Crespo é da opinião que “a perfeição é difícil, ou talvez impossível de alcançar.”, mas que, a seu ver, “uma líder ‘perfeita’ é, acima de tudo, uma mentora e defensora, guiando não apenas com autoridade, mas também com compaixão e integridade”.