Leonor Quelhas Pinto: nunca é cedo demais para viver os sonhos

Desde sempre que o seu desejo passa por contribuir para uma sociedade melhor, com uma vontade genuína de atuar de forma positiva e dialogante. Com 24 velas sopradas, atualmente, Leonor Quelhas Pinto integra o Conselho Nacional de Juventude (CNJ), mostrando que o êxito não olha nem a géneros, nem a idades.

 

Dedicação, pensamento estratégico, dinamismo e persistência são as palavras que Leonor Quelhas Pinto utiliza para descrever o seu percurso até aos dias de hoje. É defensora de que a irreverência da juventude permite desafiar limites e alcançar a excelência, porque foi isso mesmo que fez. Afinal, já lá quase meia década pautada por vários feitos e conquistas.

Mas vamos rebobinar um pouco a cassete até ao início de tudo: a entrada no Ensino Superior, aquele momento decisivo na vida de todos os adolescentes. Leonor confessa que, inicialmente, eram áreas como a Medicina e Direito que constavam em cima da mesa. Por muito díspares que pareçam, compartilhavam o mesmo propósito: “contribuir numa lógica positiva para um bem comum”. Ainda assim, não foi em nenhuma destas licenciaturas que acabou por se aventurar. Leonor Quelhas Pinto licenciou se em Ciências da Nutrição, pela Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, em 2022. Foi aqui que tomou conhecimento das exigências inerentes à função de nutricionista: “além de deter o conhecimento técnico-científico, necessita de ter uma visão transdisciplinar da realidade vivenciada pela população; ter capacidade de ser objetiva; saber refletir sobre as problemáticas sempre com vista a encontrar soluções; (…) saber comunicar de forma adequada e ter capacidade de definir objetivos tangíveis”. Estas são características que julga ter desenvolvido, e que teve a oportunidade de consolidar, ao realizar o estágio curricular no Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, da Direção-Geral da Saúde (DGS).

Findada a licenciatura, Leonor Quelhas Pinto achou que ainda não estava na hora de colocar um ponto final na sua vida académica. Havia mais conhecimento a absorver, e, por isso, realizou uma Pós-graduação em Comunicação em Saúde Pública, pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa. Conta que esta escolha adveio da sua “perceção sobre a crescente responsabilidade que os profissionais e as Instituições de Saúde têm em partilhar informações claras, compreensíveis e credíveis”, bem como “desenvolverem estratégias eficazes de comunicação adaptadas às características e motivações dos cidadãos”.

Em setembro de 2023, Leonor Quelhas Pinto ingressou no Mestrado em Saúde Pública, na Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa, com especial interesse nos domínios da equidade e dos determinantes sociais da Saúde.

“Acredito genuinamente que podemos ser agentes ativos e protagonistas no nosso percurso e que temos, por isso, a capacidade de moldar o nosso futuro.”

Foi durante o seu percurso académico que Leonor Quelhas Pinto deu os primeiros passos no associativismo, na Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências de Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (AEFCNAUP). Este marco revelou-se, mais tarde, como uma peça central para a sua formação enquanto dirigente associativa. Aqui, diz ter experienciado, pela primeira vez, “um verdadeiro sentimento de pertença”. Além de acolhedor, este espaço foi também palco para Leonor fomentar certas competências, que contribuíram ativamente para o desenvolvimento de projetos e iniciativas. “Tornou-se claro que o profissionalismo, a organização e o planeamento são a base do sucesso, e que a criação de um ambiente de trabalho em que cada membro da equipa se sinta seguro para expressar ideias e partilhar preocupações, assume particular significado”, afirma a jovem.

Atualmente, Leonor Quelhas Pinto é um dos rostos que integram o Conselho Nacional de Juventude (CNJ). Assumiu, em janeiro deste ano, funções enquanto vogal da Direção, coordenando, simultaneamente, os Pelouros da Saúde e da Habitação. Sendo o Conselho Nacional de Juventude uma plataforma representativa de toda a Juventude em Portugal, Leonor encara com responsabilidade o papel que tem a desempenhar.

Julga que é “nesta pluralidade de sensibilidades, num debate profícuo e num pensar sem amarras, que florescem posicionamentos e propostas transformadoras, algo que se deve preservar e valorizar”. O seu objetivo passa por pretender “ser uma voz sonante, pragmática e firme na defesa dos interesses de todos”.

Para si, o CNJ é como “um projeto inacabado”, algo que tem de “ser construído todos os dias e moldado às necessidades das gerações atuais”. Neste sentido, Leonor Quelhas Pinto reitera continuamente que a discussão em seio do CNJ não se pode limitar à agenda política e mediática de cada momento, exigindo-se à estrutura “proatividade na procura, e antecipação de temáticas emergentes no debate público”. Partilha ainda que têm, “em todas as iniciativas, projetado uma abordagem transdisciplinar, que envolve a coordenação das diferentes vertentes da saúde, a fim de realizar avaliações integradas”, em colaboração com entidades de referência e a sociedade civil. Há ainda muitas ideias a serem implementadas, sendo que a principal se prende com “conseguir alcançar um CNJ que ambicione verdadeiramente especializar a sua atividade, entendendo que a Plataforma deve atuar dentro do ecossistema da Juventude, na sua globalidade, e em parceria com as potencialidades de cada uma das suas organizações”, afirma.

“Gosto de olhar para o meu percurso como uma construção contínua, onde cada passo é um alicerce sólido para o desafio seguinte.”

Já a nível pessoal, à pergunta do que ainda falta alcançar, Leonor Quelhas Pinto vê a resposta como sendo muito mais complexa. “Gosto de olhar para o meu percurso como uma construção contínua, onde cada passo é um alicerce sólido para o desafio seguinte”, declara. Diz estar comprometida em trabalhar com integridade e dedicação, sempre em linha com os seus valores e com o impacto positivo que ambiciona criar, “seja no âmbito da Nutrição, na Saúde Pública, no associativismo, na política ou em qualquer outro campo”.

No fundo, o que realmente perspetiva é continuar “incessantemente a crescer e a aprender, passo a passo”, enquanto contribui para o bem maior. Leonor Quelhas Pinto acredita que cada conquista deve ser um reflexo do empenho e entrega que a caracterizam, deixando bem claro: “por mais incerto que seja o futuro, sei que irei trabalhar sempre no sentido de merecer o voto de confiança das pessoas”.

“As pessoas são o verdadeiro pilar de uma organização.”

Ainda há um longo percurso profissional a ser percorrido, mas a proatividade de Leonor já a levou a desempenhar vários cargos e a lidar com diversas funções. Gosta de acreditar que “um maior desafio está sempre por vir”, no entanto, destaca a experiência a presidir a Direção da Associação Nacional de Estudantes de Nutrição (ANEN) como uma das que mais proporcionou o seu crescimento. “Desde o primeiro momento que tive sempre presente a responsabilidade inerente à função, reforçar a centralidade da ANEN como interlocutora e voz ativa dos estudantes, sob o compromisso de salvaguardar os interesses daqueles que representa”, sublinha. Rege-se sobre o ideal de que “as pessoas são o verdadeiro pilar de uma organização” e foi sobre esse mote que assentou a sua presidência, que ficou pautada “pelo início do trabalho político externo”. Leonor Quelhas Pinto mostrou-se assim, tal como toda a sua equipa, “constantemente atentos aos acontecimentos da atualidade informativa nos domínios da saúde, do Ensino Superior e da empregabilidade jovem”. Essa reflexão resultou em propostas que materializaram a estratégia a ser seguida, em matéria de ação política, pelos futuros dirigentes. Ao longo deste percurso, Leonor revela que foi muitas vezes “confrontada pela imagem ilusória de um líder ideal, com a capacidade intrínseca para responder de forma certeira e com confiança a todas as questões”. Fruto dessa aprendizagem, reconhece hoje que “não existem decisões fáceis, e que uma visão pragmática é imprescindível”. Traduziu-se, por isso, num momento marcante, tanto para o seu crescimento profissional, como pessoal, mas afirma estar expectante com o que ainda está por vir. “Acredito genuinamente que podemos ser agentes ativos e protagonistas no nosso percurso e que temos, por isso, a capacidade de moldar o nosso futuro”, acrescenta.

“Uma mulher pode ser uma líder de sucesso, quando o reconhecimento do seu espaço de liderança é visto como um direito, e não como algo que precisa ser conquistado.”

Se existe alguma lição que os seus 24 anos já transmitiram a Leonor Quelhas Pinto, é que “uma mulher pode ser uma líder de sucesso, quando o reconhecimento do seu espaço de liderança é visto como um direito, e não como algo que precisa ser conquistado.” Embora ainda persistam desafios, em áreas como o associativismo e a política, afirma ser “encorajador” assistir ao crescente número de mulheres em posições de destaque, sinalizando o percurso que está a ser trilhado na direção da mudança.

Contudo, Leonor não deixa de fazer um reparo: “enquanto jovem, tinha a esperança de que a minha geração pudesse impulsionar uma mudança de paradigma onde a Liderança no Feminino não pudesse ser sequer um assunto alvo de debate, mas sim uma realidade consolidada”. Admite que foi conduzida por um “otimismo extremo”, mas reforça o quão motivador é ver o número crescente de mulheres verdadeiramente inspiradoras, que demonstram que “ser mulher não é uma limitação e não define o potencial de liderança”.

Se o sucesso é definido pela capacidade de impactar positivamente o mundo ao redor, Leonor questiona-se “como é que uma mulher não pode ser uma líder de sucesso?”. Defende que é um patamar que pode ser alcançado por qualquer uma, basta uma dose de determinação e compromisso. “É almejar sempre mais, sem que sejamos forçadas a provar o nosso valor apenas por sermos mulheres”, conclui. A líder crê que “ser jovem e mulher representa um duplo desafio, mas também uma oportunidade única de fazer a diferença”. Sendo esta a sua realidade, garante que, “inúmeras vezes, seremos vistas como inconvenientes, mas isso só reforça a importância da nossa transparência e integridade, liderando sempre pelo exemplo.” Destaca os valores de empatia e flexibilidade para uma boa liderança, não esquecendo que é primordial marcar a sua posição quando necessário, “sem cair na falsa ilusão de que para sermos fortes precisamos de abandonar a sensibilidade. Pelo contrário, é a nossa capacidade de abraçar a empatia e sensibilidade que nos torna líderes completas”.