DA CALMA ALENTEJANA À PRESSA DE VENCER

Ana Costa Freitas, Reitora da Universidade de Évora
Ana Costa Freitas foi, em 2014, eleita a Primeira Reitora feminina na Universidade de Évora e alia tantos projetos que fazem jus, em antítese, ao Alentejo onde ganha raíz. Se o vinho e o azeite foram, outrora, uma paixão de homens, hoje, a ciência é também dominada por mulheres (e que mulheres apaixonantes!).

Aproximados, em pleno Dia Internacional da Mulher, a um cenário de guerra mundial e inundados com imagens de Mulheres guerreiras, ultrapassando-se toda e qualquer barreira, procuramos na visão de uma Mulher de sucesso o exemplo de êxito e perseverança, com dificuldades, ambições e uma história de vida que a permitiu chegar onde hoje está e nos traz alento para acreditar que o lugar das Mulheres é na Liderança.

Da serenidade rasa do Alentejo aos altos cargos ocupacionais, Ana Costa Freitas, a atual reitora da Universidade de Évora tem vindo a traçar um percurso profissional grandioso há já vários anos. Com a tranquilidade do sucesso e um percurso repleto de conquistas, vê no trabalho a oportunidade de vingar e chegar onde os objetivos nos levarem: “Dou o mesmo conselho para ocupar este cargo que daria para qualquer outro. Chegamos sempre onde queremos, basta para isso realmente querermos!”,afirma.

Da docência à presidência, passou ainda pela política. Em todas as áreas tentou deixar a sua marca, sempre com uma paixão comum: a ciência.

Dona de um vasto conhecimento, é doutorada em Ciências Agrárias – Biotecnologia Alimentar pela Universidade de Évora desde 1985. Viu na área um estímulo que, aliado à vocação, decidiu explorar: “interessava-me o assunto e achei desafiante estudá-lo.” Prestes a concluir o segundo mandato como dirigente máxima da instituição de ensino, vê neste o maior desafio da sua vida. Assume tratar-se de um desafio motivador que “exige muita dedicação, sem descurar a vida pessoal.”

Começou a sua caminhada como docente na condição de Professora Auxiliar na Universidade Nova de Lisboa mas rapidamente rumou a Évora para seguir o sonho. O primeiro passo para o fascínio pelo ensino surgiu cedo, logo após o estágio do curso de agronomia, com uma proposta para a posição de assistente estagiária. “O ensino e a docência são fascinantes e a investigação é um desafio. Gostei de todos os momentos em que ‘cresci’ nesta profissão.”

O percurso ascendente vai contabilizando presença em vários cargos de presidência, com início em 2004, ano em que foi Presidente do Departamento de Fitotecnia na Universidade de Évora, tendo somado oportunidades em que venceu como Vice-Presidente de departamentos e institutos da Universidade de Évora.

Abraçou o desafio de ser Reitora no ano de 2014, depois de ter sido Vice-Reitora, posição que confidenciou ter gostado muito e levado a que seguisse o “caminho natural de candidatura ao cargo de Reitora.”

Confessa ter sentido falta de alguns aspetos enquanto professora e assume a incitação da transição na carreira. Apesar da inevitável exigência imanente à responsabilidade da posição ocupada e à incumbência de se afastar do lado científico e do estímulo de aprender e lecionar, viu no estoico contacto com os alunos a base para aquela que considera ser “uma aprendizagem muito interessante”.

Mas nem só de docência vive esta admirável da carreira no feminino. Os primeiros passos na política foram como Conselheira para a área do Ensino Superior e Ciência, onde as mais valias assimiladas enquanto professora e Vice-Reitora proporcionaram um gradual e visível crescimento até ao cargo de Conselheira no Gabinete de Con- selheiros Políticos do Presidente da Comissão Europeia, em Bruxelas.

Contudo, os desafios não são meramente profissionais e o lado pessoal revela-se exigente quando se trata de ser Mulher pioneira a querer vingar em lugares, até ali, maioritariamente ocupado por homens. O que é certo é que, hoje, pese embora a evolução brutal que, em termos históricos, é propagada, ainda existe sexismo, discri- minação e assédio laboral em razão do sexo. Matérias que preocupam mas que, sobretudo, são, também, de atentar com especial afinco a exemplos de superação, integração e exceção. A carreira de Ana Costa Freitas viu-se desprovida de qualquer tipo de atentado à condição feminina, que confessa: “discriminação não senti nenhuma.”

Apesar da descriminação não ter sido uma realidade na trajetória profissional, a insegurança esteve presente como fator natural e inevitável “durante os primeiros tempos parece que o mundo se abate sobre nós, mas não é por ser mulher, é tão-somente porque é um cargo muito exigente e muito intenso”, confidencia-nos.

Questionada acerca do tema, Ana Costa Freitas, como exemplo de superação e sucesso no feminino remata, firme e segura: “A partir do momentoem que se decide avançar não podemos parar.”