JAYME DA COSTA E A LIDERANÇA NO FEMININO
Apesar de todos os avanços e processos em direção à igualdade de género, no mundo empresarial ainda continuam a existir disparidades, desde o salário às promoções. É urgente que as empresas se preocupem e adotem medidas para reprimir essas desigualdades. Em Portugal, há várias empresas que já se comprometeram a fazê-lo e a Jayme da Costa é um dos exemplos, com uma grande representatividade de mulheres em cargos de liderança.
A Europa é considerada como uma das regiões globais mais avançadas no que concerne a igualdade de género. Nos últimos 100 anos, as mulheres ganharam o direito ao voto e ao trabalho, no entanto, de acordo com análises recentes da comissão europeia a diferença salarial média na União Europeia é de 16%.
De acordo com a pesquisa da EIGE’s de 2020, a percentagem de mulheres desempregadas ainda continua a ser significativamente maior que a dos homens. O mercado de trabalho ainda continua fortemente segregado por género, encontrando mulheres com mais frequência em trabalhos temporários, de part-time ou trabalho precário. Estes dados não são muito diferentes no caso de Portugal.
Não é segredo que o mundo empresarial ainda continua a ser dominado maioritariamente por homens, principalmente os cargos mais elevados, e há estudos que o corroboram. Apesar disso, tem existido, de forma lenta, uma intervenção e reforço do papel da mulher.
Segundo o estudo da Consultora Mercer When Women Thrive 2020, que abrangeu mais de 1.150 em- presas em 54 país, incluindo mais de sete milhões de trabalhadores, 81% das empresas afirmam estar mais preocupadas com questões de diversidade e inclusão dentro das suas organizações. Contudo, apenas 42% dessas empresas implementa estratégias para promover a igualdade de género.
A representação feminina em cargos de liderança tem aumentado, mas os números diminuem à medida que os níveis na carreira vão progredindo. Segundo a Mercer, apenas 29% das mulheres ocupa cargos de reporte direto à administração e 23% cargos executivos. As mulheres representam 47% dos profissionais em funções de suporte nas empresas e 42% em funções de níveis superiores.
Numa nota mais positiva, as taxas de recrutamento, promoção e retenção de mulheres já se comparam com as taxas masculinas. No entanto, apenas 64% das empresas acompanham a representação de género.
Em Portugal, com a implementação da lei de quotas, em 2017, a presença feminina nos órgãos de administração cresceu de 18%, em 2018, para quase 30% em 2021.
Já existem várias empresas portuguesas comprometidas com a promoção da igualdade de género no mercado de trabalho. A Caixa Geral de Depósitos, por exemplo, tem um staff composto por mais de 50% de mulheres e nos cargos de gestão de topo representam 28%.
Em 2018, 68 empresas, incluindo o Ikea e a Coca Cola, assinaram o acordo anual do Fórum Organizações para a Igualdade, onde se comprometem a defender os princípios de igualdade de género no trabalho, na conciliação entre a vida profissional e pessoal e na parentalidade. Já faziam parte deste acordo empresas como a Galp, a Nestlé e a EDP.
São assim várias as empresas portuguesas que estão a tentar contrariar os números e as estatísticas e proporcionar um ambiente de prosperidade para as mulheres no mundo empresarial. Outro exemplo é a empresa Jayme da Costa.
PROMOÇÃO DA IGUALDADE DE GÉNERO NA JAYME DA COSTA
A Jayme da Costa, fundada em 1916, conta com mais de 100 anos de atividade. Começou por fabricar e comercializar equipamento elétrico de baixa e média tensão, motores e outros equipamentos industriais. Atualmente, foca-se no desenvolvimento tecnológico de produtos e soluções inovadores na área da Energia.
A JdC chegou a ser um dos principais fornecedores na eletrificação do país e alguns dos manuais de instalação, operação e manutenção de equipamentos e motores elétricos, desenvolvidos internamente, são, ainda hoje, utilizados na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Possui uma vasta experiência no desenvolvimento de equipamento elétricos e sistemas eletromecânicos, sendo uma empresa relevante na área de produção de energias renováveis e de distribuição de energia em Portugal.
No portefólio contam com vários projetos reconhecidos a nível nacional e internacional e com parcerias com marcas de prestígio no setor da energia e transportes – setor que a JdC ambiciona expandir a sua atividade, já com um projeto de infraestruturas de trans- portes planeado.
A empresa aponta como fator de diferenciação a “união entre a capacidade dos seus quadros altamente qualificados, experientes nas diversas disciplinas da engenharia, e uma equipa dinâmica e determinada em aprender, inovar e a fazer a diferença no sector.” Rege-se por 4 valores: ambição, inovação, compromisso e cooperação.
Apesar de ser uma empresa de uma indústria caracterizada por ser maioritariamente masculina, a Jayme da Costa tenta combater os estigmas – 21% do staff são mulheres, nas diversas equipas de trabalho, o que pode ser considerado positivo numa área de tecnologia. Mas a grande diferença está na clara representatividade feminina em funções de liderança e gestão de equipas.
VERA SARAIVA
Licenciada em Psicologia, possuiu várias especializações em áreas de Gestão de Pessoas. Sempre gostou de trabalhar com pessoas e desde cedo percebeu que o seu caminho passava pelas organizações, “quer pela dinâmica que estas envolvem, quer pelo impacto que as pessoas têm no desenvolvimento do negócio.”
Trabalha como consultora desde 2011, tendo experiência em várias empresas da área da Engenharia. No início de 2020, aceitou um novo desafio como coordenadora do Departamento de Recursos Humanos da Jayme da Costa.
No que diz respeito à igualdade de género nas empresas, Vera reconhece que o papel dos recursos humanos é essencial. No entanto, o tema deve ser abordado com maior amplitude. Não basta desenvolver processos de implementação de medidas com vista à igualdade de oportunidades, “é necessário criar uma cultura de igualdade e não discriminação que permita abolir atitudes e preconceitos demasiado enraizados ao longo dos anos”, afirma Vera.
A Jayme da Costa acredita que a diversidade e a inclusão contribuem para o crescimento de um negócio sustentável. Nesse sentido, desenvolvem ativamente políticas de promoção de igualdade, principalmente na igualdade de oportunidade no acesso ao emprego, crescimento profissional e conciliação entre a vida profissional e pessoal.
Esse esforço é visível nos processos de recrutamento e seleção, com a preocupação de “manter um equilíbrio saudável nas equipas de trabalho; políticas de compensação e benefícios alinhadas com tendências de mercado sem fatores discriminatórios; desenvolvimento de carreira suportado em oportunidades de formação e crescimento profissional equitativo”, entre outras.
Recentemente, implementaram também mecanismos de flexibilidade de horário e gestão de tempo que permite, em conjunto com a opção de trabalho remoto, melhorar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.
O mercado de trabalho na área da tecnologia é competitivo e as competências técnicas associadas aos perfis de engenharia são essenciais para o sucesso. Vera considera que a JdC tem uma equipa “experiente e preparada para integrar e formar” os que se juntam à empresa. Apesar disso, o fator diferenciador são os comportamentos – “é importante que os Colaboradores se identifiquem com o propósito da empresa e com os seus Valores e que, por sua vez, a empresa consiga promover e gerir o tema da diversidade”, explica.
Num mundo em transformação constante, é necessário saber acompanhar as mudanças tecnológicas. Para além de capacidades importantes para o setor, como criatividade, iniciativa, flexibilidade e capacidade, a JdC valoriza bastante a cooperação e o ambiente de partilha, bem como o compromisso com todos os projetos.
Para as jovens que estão a iniciar a sua carreira nesta área, tão dominada por homens, Vera Saraiva aconselha a procurarem empresas com que se identifiquem, procurar sempre inovar e deixar uma marca pessoal em tudo o que fazem. “É importante valorizar o know-how dos mais experientes e, em simultâneo, partilhar com estes conceitos mais “frescos” que trazem das Universidades”, recomenda.
ANA CLÁUDIA SOUSA
Ana trabalha na Jayme da Costa desde 2006. Em 15 anos, já desempenhou várias funções na área da Tesouraria, assumindo hoje a função de Direção de Contabilidade e Finanças.
Foi nesta empresa que cresceu a nível profissional e pessoal. Ao longo da sua carreira nunca se sentiu desvalorizada por ser uma mulher num cargo de liderança, porque a JdC “foca-se nas competências pessoais e profissionais e não no género”, assegura. Confessa, no entanto, que “existe ainda o sentimento de prestar provas para justificar uma posição que seria “naturalmente” preenchida por um homem em outras empresas.”
Para Ana, existe ainda um estigma do papel social da mulher, principalmente no seio familiar, que a impede de desenvolver a carreira profissional da mesma forma que o homem. Esta questão cultural só poderá ser ultrapassada “com a implementação de políticas de base que fomentem uma igualdade concretizada e não apenas um ideal”, garante.
No seu ponto de vista, a liderança feminina pauta-se por ser mais colaborativa e se focar na gestão de pessoas e no relacionamento interpessoal, enquanto a masculina tende a ser mais competitiva. “Existe também uma sensibilidade adicional para o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, que considero ser um ponto-chave para o mercado de trabalho atual”, acrescenta.
ISABEL MONTEIRO PITO
Licenciada em Engenharia do Ambiente, trabalhou durante 12 anos na EFACEC como Técnica de Ambiente e Segurança. Em 2020, encontrou na JdC a oportunidade de Coordenar o Departamento de Qualidade, Ambiente e Segurança. “Para mim é essencial continuar a sentir-me estimulada, desafiada e ver que há um caminho para crescer profissionalmente”, explica Isabel. Reviu-se no projeto apresentado pela JdC e abraçou de imediato o desafio. Pouco mais de um ano depois, sente que está em família.
Trabalhar numa empresa com tantas mulheres em cargos de liderança tem sido “fantástico”. No entanto, um bom líder “é alguém que inspira as pessoas com quem trabalha, que dá o exemplo, que reconhece o bom desempenho dos seus colaboradores e que assume responsabilidades”, independentemente do género.
Isabel olha para o futuro com esperança, reconhece que ainda existe muito caminho a percorrer quanto à igualdade de género, mas afirma que desde que começou a trabalhar na área que já verificou uma grande evolução.
Nunca teve problemas por ser mulher na área, contudo não nega que o mundo da engenharia é predominantemente masculino. “Quando estou numa reunião e obra com Clientes mais de 90% são homens, e as mulheres que estão presentes estão em cargos relacionados com Segurança e Ambiente”, conta.
O paradigma está a mudar e é preciso que todos contribuam para a mudança, mas ainda existem dificuldades acrescidas para as mulheres. Para Isabel, ser mãe foi o maior desafio da sua carreira – conseguir conciliar a maternidade e a vida profissional.
“Apesar de não ter sido o meu caso, pois tive grande apoio familiar, a nível nacional não há muitos apoios para mães que tem uma vida profissional ativa e com cargos de responsabilidade que exigem mais disponibilidade”, alerta.
Quando teve o seu primeiro filho, viajava de norte a sul do país em trabalho e admite que sem o apoio familiar teria sido muito complicado conciliar a carreira com a maternidade e que talvez tivesse de deixar ficar uma para trás.
ANA RITA SILVA
Com formação em Engenharia Eletrotécnica e experiência no setor da energia, Ana juntou-se à JdC em 2019 para um projeto temporário. Graças à sua determinação e ao crescimento do negócio acabou por ficar como Gestora de Projetos ligados ao solar fotovoltaico, coordenando equipas técnicas experientes.
Para Ana, trabalhar na Jayme da Costa é sinónimo de respeito, competência, profissionalismo e companheirismo. É com orgulho que reconhece que “não existem grande clivagens de género em cargos de liderança” – “a competência, base de conhecimento, o respeito, e o profissionalismo não dependem do género”, afirma.
Ao longo do seu percurso profissional nunca se sentiu discriminada, mas assume que a presença feminina no mercado da tecnologia e engenharia ainda é uma minoria. Segundo Ana, a maior barreira é o desenvolvimento de habilitações académicas e competência técnica.
“Quando me candidatei ao Instituto Superior de Engenharia do Porto há 20 anos atrás, eramos 6 mulheres em 120 alunos”, relembra. O aumento do número de mulheres a escolher cursos de ciências exatas ou engenharia é um grande passo no caminho para o equilíbrio de géneros no mercado tecnológico.
Para além disso, “cada vez mais estereótipos estão a dissipar, permitindo assim observar a participação crescente e gradual de nós, mulheres, nos tradicionais sectores da sociedade ainda rotulados de masculinos”, acrescenta.
CAROLINA RAMOS CABRAL
Há menos de meio ano na Jayme da Costa, Carolina é gestora de projetos de grande dimensão ligados ao Solar Fotovoltaico e fala do ambiente inspirador e motivante que é trabalhar numa organização que tem um papel ativo na promoção da igualdade de género. “A representatividade feminina nos quadros da empresa está patente não só na presença significativa de mulheres em cargos de liderança, mas também no talento mais jovem e recém-formado”, revela.
Segundo Carolina, a presença de liderança feminina estimula o debate e promove a partilha de conhecimento, de experiências e de boas práticas, fundamentais não só ao desempenho diário da organização como à mentoria de novos talentos.
Formada em Engenharia Eletrotécnica e Computadores conhece por experiência própria a realidade do mercado predominantemente masculino. Na última década, e particularmente nos últimos anos, têm-se verificado um crescimento gradual da presença feminina nas áreas, mas para Carolina ainda é insuficiente para equilibrar a balança de género. “Neste campo, a academia tem desempenhado um papel fulcral na desmistificação da profissão e na captação de talento feminino, mas ainda faltam referências femininas”, reitera.
Sugere como solução, enquanto sociedade e, principalmente, setor empresarial “desafiar a participação feminina, impulsionar o seu crescimento profissional e promover a igualdade de género.”
CARLA SILVA
Carla Silva foi evoluindo na Jayme da Costa ao longo dos anos até abraçar o desafio de Direção de Tesouraria. Ao longo do seu percurso sempre se esforçou ao máximo por desempenhar as suas funções da melhor maneira e sempre se sentiu reconhecida pelos superio- res hierárquicos.
Carla considera que essa valorização das mulheres pelas suas capacidades profissionais é muito importante para aumentar a equidade de género no mundo empresarial. É também essencial promover salários mais igualitários, visto que “ainda se verifica nos dias de hoje em algumas empresas a presença de desigual- dades salariais entre homens e mulheres que ocupam o mesmo cargo.”
Por fim, é igualmente essencial promover iniciativas com vista à igualdade de género dentro das próprias organizações e “voltadas para a comunidade”.