O COACHING COMO O CAMINHO PARA A REALIZAÇÃO PESSOAL E PROFISSIONAL

Lília Andrade, Diretora Técnica da Mente Positiva, Coach
Num país onde a saúde mental ainda é um estigma, Lília Andrade tem se dedicado a ajudar as pessoas a superar problemas do foro psicológico há mais de uma década. Profissional em várias vertentes da psicologia clínica, recorre também ao Coaching e às suas ferramentas para ajudar as pessoas a alcançar os seus objetivos pessoais e profissionais.

Quando era mais jovem, Lília sonhava ser jornalista. No entanto, quando teve o primeiro contacto com o mundo da psicologia, através de uma disciplina no secundário, percebeu que o seu propósito era “ajudar as pessoas a desenvolverem o seu potencial e a viverem mais felizes”. Candidatou-se a Psicologia na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto e, a partir daí, tudo o que tem feito tem como objetivo facilitar as transformações internas das pessoas. “Ver a metamorfose das pessoas que a acompanho é maravilhoso e, ao mesmo tempo, um grande privilégio”, conta Lília Andrade.

A sua carreira começou na área da educação, com um público jovem. Mais tarde, dedicou-se à formação e educação de adultos. Nestas duas vertentes, a componente clínica, a sua predileta, estava presente de forma muito ténue. Por isso, decidiu desenvolver de forma aprofundada os seus conhecimento e competências em Hipnose Clínica e na Psicoterapia EMDR (Eye Movement Dessensitization and Reprocessing). Esta aprendizagem foi feita através de várias formações ao longo dos anos e uma atualização constante, algo que para Lília, é, eticamente, um dever a cumprir, já que a ciência psicológica, a neurociência e a ciência em geral estão em constante evolução. “Com a investigação científica desenvolvem-se e validam-se diferentes abordagens e estratégias terapêuticas, clarificam-se as causas das diversas problemáticas e do que promove a mudança e isso permite-nos ser mais eficazes na nossa intervenção psicológica e psicoterapêutica”, afirma.

As suas principais áreas de conhecimento e intervenção são a ansiedade, o pânico e fobias, ansiedade social, depressão, trauma psicológico e outros temas do desenvolvimento pessoal e profissional.

Ao longo da sua carreira, trabalhou em várias clínicas e espaços terapêuticos e percebeu que ter o seu próprio consultório lhe daria mais liberdade para gerir o seu tempo e equilibrar a vida profissional e familiar, trabalhando de forma alinhada com os seus valores de vida. Portanto, depois de ter o seu primeiro filho, decidiu abrir o seu próprio consultório. Com o tempo, começou a sentir falta do trabalho em equipa, dos momentos espontâneo de partilha de experiências e conhecimento entre colegas. Essas saudades aliadas à vontade de oferecer um leque maior de respostas aos seus pacientes, fez com que Lília reestruturasse o seu projeto inicial para uma Clínica de psicologia. Nasceu assim a Clínica Mente Positiva, que conta com a colaboração de mais psicólogas, com diferentes valências. “É dessa forma que temos conseguido chegar a várias pessoas e ajudá-las a viver mais alinhadas com os seus valores e mais felizes”, afirma.

No mundo inteiro ainda existe um grande estigma ligado à saúde mental e os seus tratamentos e Portugal não é exceção. É algo difícil de quebrar devido às crenças enraizadas na sociedade até aos dias de hoje. “Ao longo da história, por falta de conhe- cimento, as pessoas com problemas mentais não eram compreendidas, nem apoiadas pela sociedade”, explica Lília. Eram vistas como pessoas loucas e perigosas, sendo excluídas da sociedade e do mundo de trabalho. Crenças como “quem procura ajuda psicóloga é uma pessoa frágil ou fraca” ou “a pessoa vai ficar dependente da medicação e/ou da ajuda psicológica para sempre”, ainda persistem e são combatidas por Lília diariamente. Estes estigmas impedem muitas vezes as pessoas de procurarem ajuda psicológica e fazem-nas sentirem-se inferiores quando são diagnosticados, levando “a esconder e a aumentar o seu sofrimento psicológico e em alguns a desistir do acompanhamento clínico”, conta a psicóloga.

Para além disso, as pessoas são responsabilizadas pela condição em que se encontram e consideradas perigosas ou imprevisíveis. “Acresce que, ao contrário, da doença física, o sofrimento psicológico nem sempre é visível ou palpável, o que também contribui para o estigma.” No fundo, existe um elevado grau de desconhecimento da população sobre a saúde mental, o papel do psicólogo e do psiquiatra.

Há um longo caminho a percorrer para reverter essa realidade e deve começar pelo Serviço Nacional de Saúde que não apresenta um número de profissionais de saúde mental suficiente para dar resposta às necessidades e agir de forma preventiva. É tam- bém essencial falar e educar sobre a saúde mental nos meios de comunicação social, nas escolas e nas empresas, de forma “objetiva, descomplicada e séria”. Por fim, é importante clarificar e explicar os papéis do psicólogo e do psiquiatra. “Ainda é comum ouvirmos a pessoa a dizer “às vezes faço de psicólogo, pois escuto e aconselho os meus amigos” e quando isso ainda é verbalizado é porque ainda não estamos a conseguir demonstrar com clareza o que fazemos”, confessa a psicóloga.

Mais recentemente, Lília tem se dedicado ao Coaching. Esta vertente profissional surgiu para colmatar a necessidade de ter ferramentas que lhe permitissem, de forma mais eficiente e eficaz, ajudar as outras pessoas a alcançarem objetivos mais específicos, como por exemplo, alavancar a sua carreira, concretizar projetos pessoais e profissionais ou equilibrar a vida pessoal com a profissional.

Também no que toca ao Coaching existe uma grande desinformação. “Ao contrário do que se pensa, o Coaching é um processo que se destina a pessoas emocionalmente estáveis, com um bom nível de funcionalidade e que conseguem dar um bom ou razoável progresso na sua vida, mesmo que haja algum sofrimento ou desconforto envolvido”, esclarece. Assim, o Coaching não é terapia, consultoria, mentoria, formação nem aconselhamento.

A psicoterapia é indicada para pessoas com maior sofrimento psicológico que interfere significativamente com o seu bem-estar e a impede de progredir de forma desejada na sua vida. Por isso, é muito importante que o profissional consiga avaliar se um processo de Coaching será o mais indicado para o seu cliente. “Um processo de Coaching pode ser desestruturante quando implementado sem uma avaliação inicial adequada”, alerta. Uma pessoa que sofra de depressão ou ansiedade só será capaz de se mobilizar para alcançar o que deseja ou necessita após trabalhar as principais razões que motivam os seus problemas.

Outra ideia errada é pensar que o Coach vai indicar o caminho mais adequado para o seu cliente. O Coach não dá as respostas, traz exercícios e questões de alto impacto de forma que o seu cliente possa refletir e descobrir o seu potencial máximo para dar os passos que precisa para alcançar o seu objetivo. “É um processo com início, meio e fim previsíveis, bastante estruturado e focado, onde a pessoa é a principal responsável pela mudança e alcance do seu objetivo”, ilustra. Para Lília, o Coaching é um processo de desenvolvimento humano que evolui num trabalho colaborativo entre Coach e Coachee, que permite que o cliente consiga “descobrir os recursos internos, ampliar perspetivas e definir um plano concreto, objetivo e realizável, o qual, com as suas ações e investimento, lhe vai permitir alcançar o que deseja.”

Desta forma, o Coaching promove autoconhecimento, potencializa recursos e forças internas, autoconfiança e clareza nos nossos desejos e objetivos. Num processo de Coaching, o foco recai sobre soluções e formas de ultrapassar ou contornar obstáculos. Promove também o sentimento de autorrealização, já que a pessoa, à medida que se vai conhecendo, amplia as suas perspetivas e aproxima-se do seu objetivo, ficando mais confiante e satisfeito consigo mesma.

Num processo de Coaching, os maiores obstáculos que as impedem de alcançar sucesso ou equilíbrio são as crenças que trazem acerca de si mesmas – “não sou bom o suficiente”, “tenho de ser perfeito”, entre outras. O medo de falhar e a influência das ou- tras pessoas, como família ou amigos, o receio do que possam pensar sobre o seu plano e a necessidade de aprovação são também grandes obstáculos.