Atualmente, os jovens e os adultos utilizam as novas tecnologias, a internet, os smartphones, tablets e computadores, como meios primordiais de interação social e de trabalho, parece que estamos a viver a nossa vida, o nosso dia-a-dia, através de um ecrã.
Todos nós conseguimos reconhecer as inúmeras vantagens da internet:permitem-nos comunicar com outras pessoas independentemente da distância geográfica; fazer pesquisas para trabalhos ou sobre qualquer tipo de informação que nos interesse; ouvir música; ver filmes e jogar. As redes sociais também apresentam vantagens como o facto de auxiliarem os jovens e/ou adultos mais introvertidos a serem mais sociais através da “segurança” de um ecrã e ajudam no desenvolvimento da utilização de ferramentas e-learning.
Contudo, a utilização da internet implica desvantagens como o roubo de informações pessoais; os vírus; o acesso a conteúdos ilegais. Os jovens que fazem uma utilização excessiva das redes sociais têm tendência para manifestar comportamentos anti-sociais e sinais de agressividade; tendências narcisistas; propensão a sintomas de ansiedade, depressão e distúrbios psicológicos; maior vulnerabilidade a futuros problemas de saúde (física e mental). Consequentemente, o processo natural do jovem pode ser gravemente prejudicado.
É necessária especial atenção ao uso que os jovens fazem da internet e das redes sociais devido ao ciberbullying e ao assédio sexual, sendo por isso aconselhada uma idade mínima de aderência. Por exemplo: 13 anos é a idade mínima para criar um perfil no facebook.
Outros estudos recentes demonstram que cada vez mais crianças e adolescentes
têm uma presença virtual, com maior ou menor consciência, deixando um rasto e uma identidade digital.
Os estudos alertam para o facto da exposição das crianças ao risco poder estar a ser posta em causa pelos próprios pais. Avisando que deve haver mais cuidado dos educadores com as imagens dos filhos na internet, nomeadamente, nas publicações de fotografias e vídeos dos filhos, colocados pelos pais nas redes sociais.
A identidade digital é criada na vida online e reflete a forma como nos apresentamos aos outros (apresentação) e aquilo que os outros pensam sobre nós (reputação). Mas será que estas crianças e adolescentes têm consciência das implicações (boas e más) que esse rasto pode significar?
Estamos a falar da pegada digital que diz respeito a tudo o que está na internet a nosso respeito, desde o nosso perfil numa rede social, à informação publicada em fóruns, blogs, sites. Não depende apenas do que nós publicamos mas também do que os outros publicam sobre nós.
A influência das redes sociais na construção de amizades é inegável. As crianças e os jovens não dispõem dos espaços nem do tempo fora de casa que os seus pais tinham. Por outro lado, os pais manifestam receios de deixar os filhos conviverem fora de casa.
É, neste sentido, que as redes sociais e os chats são muitas vezes um local de convívio para as crianças e adolescentes, porque permite-lhes conviver regularmente com os amigos, assim como partilhar ideias e sentimentos. No entanto, não devem substituir as amizades e os convívios na realidade.
A geração atual vive quase permanentemente ligada à internet. Através dos computadores ou dos dispositivos móveis nunca se fica offline, devido aos sinais sonoros com os alertas para as atualizações no e-mail ou nas redes sociais.
Nas minhas consultas, o pedido de ajuda surge por parte dos pais de adolescentes e de estudantes universitários que abandonam os estudos para se fecharem num quarto a falar com “os amigos virtuais” e a jogar computador horas sem fim. As amizades de infância ou as mais recentes, a família, o sono, a higiene pessoal, a escola ou o trabalho, é totalmente posto de lado em detrimento dos contactos online. De forma, geral, é posto em causa o bem-estar físico e mental.
Na prática, o que observamos são adolescentes e jovens que apresentam mudanças de comportamento, situações de agressividade e/ou violência inexplicáveis face ao insucesso num jogo online ou à proibição de continuar a usar a
internet. As verbalizações “Chego a desligar o quadro da luz”; “Não tem interesse por nada”; “Já não fazemos uma refeição com ele há muito tempo”; “Está sempre fechado no quarto”; “Dorme 3 a 4 horas por noite”, são constantes nos pais que procuram, no acompanhamento psicoterapêutico, um caminho e solução para os filhos.
Investigadores referem que as características de um perfil-tipo de um jovem viciado no mundo online são: grau elevado de importância atribuído ao computador ou aos dispositivos móveis; sintomas de tolerância face ao uso; sintomas de abstinência face ao não uso (como irritabilidade, dores de cabeça, agitação e por vezes agressividade) e, em casos mais extremos, recaída face às tentativas sucessivas para parar.
Outras investigações também chegaram a outros perfis dos jovens dependentes da vida online, são maioritariamente do sexo masculino, não têm relacionamento amoroso e frequentam o ensino secundário.
Uma das principais conclusões a que chegaram muitas das investigações sobre o uso da Internet foi a de que os jovens que apresentam sinais de dependência do mundo online têm também sintomas de isolamento e, por vezes, de depressão.
Todavia, esta dependência está associada ao isolamento social, mas não está associada ao isolamento emocional. Pois, estes jovens isolam-se porque encontram nas conversas e nos jogos online uma alternativa ou um escape. Esta é, portanto, uma dependência que traz benefícios aos utilizadores.
Nas consultas, o mais comum é estarem presentes os sintomas de depressão e de isolamento social nos jovens que usam excessivamente a internet. Assim, o uso excessivo da internet nem sempre é a causa, mas consequência. Por exemplo: um adolescente que está triste devido a um acontecimento familiar ou escolar, encontra nas novas tecnologias um refúgio, ainda que do ponto de vista psicológico não seja saudável.
Desta forma, podemos considerar que a solução mais comum encontrada pelos pais para responder ao uso excessivo do computador pelos filhos e que é fruto de discussões familiares: a retirar o computador ou limitar fortemente o acesso a ele, não é a mais eficaz. Pois, se retiramos o computador, o jovem fica perdido e no vazio. Primeiro devemos ajudá-lo a encontrar outras atividades que goste de fazer, para, posteriormente, começarmos a diminuir o tempo que passa na internet.
Contudo, nem todo o tipo de comportamentos excessivos deve ser entendido como
patológico. A diferença entre o que será normal e patológico deve ser avaliada em função da utilização que é feita da tecnologia.
Quando a pessoa deixa que o uso da internet prejudique a sua vida profissional, o seu sono, a alimentação, a relações com os outros, como acontece com a dependência do jogo, estamos perante uma situação muito preocupante e patológica.
Perante os casos extremos de dependência, é crucial que haja um diagnóstico precoce e uma tentativa de reeducação e de readaptação às atividades diárias (sono, higiene, escola ou trabalho, vida familiar e social), nomeadamente através de acompanhamento psicológico.
Nomofobia
Os telemóveis ou smartphones são hoje um mecanismo fundamental de interação social e, no limite, é pela aceitação social que se dão os comportamentos ansiosos. Criamos uma relação íntima com a sociedade digital e os smartphones estão na linha da frente dessa lista.
O termo nomofobia deriva do inglês “no-mobile” que significa sem telemóvel, foi identificado em Inglaterra em 2008. É uma fobia causada pela angústia ou desconforto por estarmos incapacitados de comunicar através de telemóvel, smartphone, tablet ou computador.
Certamente, que já se deparou com amigos a distanciarem-se da conversa para enviar mais um sms, ler um e-mail ou para responder a um dos amigos que está online numa das várias aplicações de conversação que estão instaladas no smartphone. A melhor forma de comunicarmos com alguém devia ser através de um simples telefonema ou, sempre que possível, cara a cara. Mas, parece que para uma grande maioria não é assim. Estudos internacionais recentes revelam que mais de metade da população receia ficar sem telemóvel.
A nomofobia caracteriza-se por uma sensação de pânico, de impotência, tremores, suores frios, falta de ar, náuseas, taquicardia e dores de cabeça. No casos mais graves pode chegar a uma crise paroxística ou ataque de pânico.
Os primeiros sinais que indiciam esta fobia são a necessidade de estar constantemente a olhar para o telemóvel, verificando obsessivamente se existem chamadas perdidas, sms ou e-mails, deixar de fazer algo importante para atender uma chamada e, caso se esqueça do telemóvel em casa, voltar atrás para o ir
buscar, pondo em causa um compromisso importante. O comportamento passa a ser patológico, necessitando de acompanhamento psicológico, quando interfere significativamente com os compromissos da pessoa.
Isa Silvestre – www.isasilvestre.com
Psicóloga Clínica em funções no Hospital de Saint Louis e no Ministério da Educação. Diretora Clínica e Membro do Conselho Consultivo no Projeto Couch Mental Wellness – apoio psicológico online. Doutoranda em Neurociências pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Autora do livro “Gerir 1 ano de stress”, um livro prático para gerir a ansiedade do dia-a-dia, publicado pela editora Saída de Emergência.