A ENGENHARIA AMBIENTAL POR INÊS DOS SANTOS COSTA

No papel da mais recente a ex-Secretaria de Estado para o Ambiente, Inês dos Santos Costa alicerça o seu percurso académico e profissional nas engenharias e investigação, sempre conectada com o Ambiente, a Tecnologia e as Políticas. Numa conversa franca, fala do trilhar do seu próprio caminho e da sua perspetiva em relação ao futuro ambiental.

Licenciada, Mestre e Doutora. A formação relacionada com a Engenharia do Ambiente, entre 2002 e 2011 edificaram um conhecimento que foi complementado com experiências interpessoais e no terreno regidas sob a máxima que “A liderança não assenta apenas em conhecimento. Assenta também em inspiração – que vem com o acreditar num propósito, num objetivo que extravasa a materialidade e é verdadeiramente sistémico, que também valoriza a sociedade e ambiente – e humildade – que vem com o dizer “não sei, ajuda-me” ou “não sei, explica-me”.”

Inês dos Santos Costa deu passos na política enquanto adjunta do Ministro do Ambiente e Transição Energética e cessou no transato mês de março funções governamentais enquanto Secretaria de Estado do Ambiente, cargo que ocupava desde outubro de 2019. Descreve esta fase da vida como um desafio em que vê a maior dificuldade no diálogo e de alguns aspetos técnicos: “Esta experiência de passar trincheiras, do privado para o público, permitiu desfazer muitos “mitos” sobre a governança que ainda tinha na minha cabeça. Nos gabinetes e nos serviços há pessoas que suam a camisola, e há profissionais com uma capacidade e entrega (…) Implica, necessariamente, um diálogo apoiado em conhecimento técnico, científico e de policy, mas com uma comunicação capaz de se adaptar ao interlocutor. Do ponto de vista das matérias, sem dúvida que a valorização dos serviços essenciais de ambiente e a transformação para uma economia circular.”

Acerca de problemáticas atuais como a seca, a produção de lixo e da reciclagem, a antiga Secretária de Estado para o Ambiente acredita que muitos dos problemas pelos quais somos assolados atualmente derivam do mau hábito estanque do cidadão que, conjugado com desequilíbrios, acarreta todo um leque de impactos sociais e ambientais, ideia que reforça com a exemplificação “Não é por acaso que a “Poluição causada pela atividade humana” aparece no TOP-5 de riscos globais de acordo com o World Economic Forum, a par dos riscos climáticos e de escassez de recursos.” Acredita, porém, que o futuro vindouro bem recheado de esperança e soluções, uma vez que, segundo ela, “As novas gerações têm cada vez mais presente a importância destas questões, mas não podemos exigir que sejam eles os únicos a limpar o que antes se sujou. Todos temos responsabilidades, novos e velhos, em reencontrar essa conexão. Quanto mais cedo começarmos, melhor.”

Mas sobre a questão dos “Três R’s” – uma proposta sobre hábitos de consumo resumida em Reduzir, Reutilizar e Reciclar – há muita matéria por analisar, segundo Inês dos Santos Costa. “Isto é o fim de linha, o último “R”. É que nos esquecemos que há o R de reduzir e o R de reutilizar e, desses, poucos falamos. E alcançar vitórias nesse campo obriga olhar para o sistema de produção e de consumo e redesenhá-lo recorrendo a instrumentos de política pública, entre outros.”

Em relação ao futuro, revela acreditar que tudo está, ainda, em aberto. Mas ressalva alguns aspetos. “Se continuarmos sistematicamente a ultrapassar os limites biofísicos, o que está em causa não é a sobrevivência do planeta: o que está em causa é estarmos disponíveis a viver em convulsões económicas e sociais cada vez mais frequentes e graves até que estes se precipitem em colapsos em grande escala.”. Mas com a prática da consciencialização, de mãos dadas com a evolução, o conhecimento e a esperança num “amanhã” mais risonho, o foco está na frase feita de que “O futuro constrói-se agora.”, como explica Inês Costa: “É uma frase feita, mas pertinente tendo em conta que já estamos a atravessar as convulsões sociais derivadas de decisões que não têm em conta os limites biofísicos: recursos energéticos e materiais, pandemias. Por isso, tudo estará dependente de líderes que, perante a incerteza, tenham a coragem de não ceder às soluções fáceis e manterem o rumo traçado pelo RNC e pelo Pacto Ecológico Europeu.”